A peri-implantite no IN24

Após duas semanas de ausência aqui na nossa coluna “Sexta com Bianchini”, estamos de volta. Esta minha ausência se deu a fato de que estive muito envolvido na montagem de aulas e preparo de reuniões que tivemos no IN24 (Latin American Osseointegration Congress). A semana que antecedeu o congresso foi uma semana intensa de preparativos, depois vieram os dias de congresso, com muitas atividades e, desta forma, tive que deixar um pouco de lado a nossa coluna, mas foi por uma boa causa.

A décima primeira versão do IN foi impecável. Sob a presidência do meu querido amigo José Cícero Dinato, e o suporte espetacular de toda a equipe da VM, tivemos um evento maravilhoso, onde mais de seis mil congressistas tiveram a oportunidade de se atualizar. Estive lá no Anhembi durante todos os dias do congresso e pude assistir várias palestras, visitar a feira comercial, além, é claro, de ministrar as minhas aulas de peri-implantite. Foram dias intensos de muito aprendizado e network. Contudo, uma coisa me chamou muito a atenção: a peri-implantite parece ter perdido um pouco a importância frente aos congressistas.

Desde o ano de 2010 que eu venho ministrando cursos de peri-implantite, seja no IN, no Abross (Academia Brasileira de Osseointegração) ou em outros eventos. Ainda me lembro perfeitamente que, no evento de 2012, somente eu falei de peri-implantite, e tive que repetir a palestra no auditório principal, pois muitos congressistas reclamaram que a sala que eu dei a aula era muito pequena e muitas pessoas não conseguiram assistir. De lá pra cá, a peri-implantite foi ganhando corpo e importância perante os implantodontistas. Porém, nesta versão de 2024 do IN, tive a forte impressão de que o assunto parece estar perdendo terreno.

Conversando com os meus colegas de mesa-redonda, Jamil Shibli, Élcio Marcantônio Júnior e Alberto Monje, recordamos as edições anteriores do IN e do Abross, onde a peri-implantite dominava os auditórios maiores, além de várias outras salas de conferências. Mas o que será que está acontecendo? Será que os implantodontistas já descobriram a cura para esta doença? Ou será que a curva de aprendizado dos implantodontistas subiu tanto que eles estão prevenindo o aparecimento da peri-implantite, sendo mais criteriosos nas suas cirurgias e próteses?

Acredito que o suposto “esvaziamento” da peri-implantite se deve a uma combinação dos fatores descritos no parágrafo anterior, seguido de uma constatação dramática: como um dos tratamentos para a peri-implantite é a remoção do implante doente e a colocação de um novo implante, muitos colegas adotaram esta prática de forma protocolar e a executam em todas as situações. Como disse o rei Salomão, há muitos milênios atrás: “nada de novo debaixo do sol.”

Assim como nós, cirurgiões-dentistas, em um passado não muito distante, extraíamos dentes para colocar uma dentadura, hoje extraímos estes mesmos dentes, mas agora para colocar um dentadura fixa retida pro implantes. Como os implantes também podem ficar doentes, assim como os dentes naturais, nós vamos seguindo o mesmo modelo, extraindo implantes doentes ou, supostamente condenados, para colocar, pasmem, uma coisa nova: outro implante.

A doença peri-implantar é uma realidade nas nossas clínicas. Independente da etiologia, vamos ter aí uns 15%, no mínimo, de casos com complicações peri-implantares. Mas nós, cirurgiões-dentistas, não gostamos de falar em complicações. O ser humano não gosta de falar em insucessos, basta olhar a vida maravilhosa que todos levam no Instagram. Assim, em um evento como o IN, os implantodontistas preferem se dedicar a novas técnicas que facilitem a colocação de implantes e próteses do que abordar a manutenção dos implantes no longo prazo.

Assim como a Periodontia parecia ter perdido terreno para Implantodontia (melhor substituir um dente com periodontite por um implante), o tratamento da per-implantite também está perdendo terreno (melhor substituir um implante doente por um novo). Contudo, à medida que o tempo passa, vamos nos dando conta de que devolver a saúde bucal e geral a um paciente não se resume apenas a substituição de coisas antigas por novas. Cabe a nós invertermos esta curva, valorizando mais o tratamento das doenças da boca, sobretudo a peri-implantite.

O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo.  Será que existe alguma coisa de que a gente possa dizer: “Veja! Isto nunca aconteceu no mundo”? Não! Tudo já aconteceu antes, bem antes de nós nascermos. (Eclesiastes 1:9-10)  

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