Localização das margens das restaurações

margens das restaurações
Aspecto de remanescente dental após a remoção da coroa protética.
Como estão as evidências científicas sobre as margens das restaurações na atualidade? Marco Bianchini traz informações importantes.
Data de publicação: 28/08/2020

Durante muito tempo, preconizou-se que todas as margens e términos cervicais de restaurações e coroas deveriam ficar a um nível supragengival, pois isto facilitaria o preparo do dente, a visualização do término, os procedimentos de moldagens e o acabamento e polimento. Além disso, os términos supragengivais estariam sempre respeitando o espaço biológico1. Com o passar dos anos, as pesquisas foram se desenvolvendo e o conhecimento das estruturas periodontais, além das necessidades estéticas e de retenção das coroas, levaram os profissionais a estenderem os seus términos ao nível gengival ou até mesmo abaixo deste.

A “descoberta” das distâncias biológicas ocorreu em um passado não muito distante. Em 1921, foi estabelecido o conceito da união dentogengival2-3. Porém, foi em 1961 que foram relatadas4 as supostas medidas médias desta união dentogengival (Figura 1). Estas medidas médias nos deram o valor de aproximadamente 3 mm, que deveríamos ter de estrutura dental livre entre a crista óssea alveolar e o limite cervical do preparo. Entretanto, o desvio-padrão destes valores foi bastante interessante (0 a 2,79 para o sulco; 0,71 a 1,35 para o epitélio juncional; e 0,9 a 1,3 para a inserção conjuntiva).

Assim, acredita-se em valores que muitas vezes podem superar o padrão de 3 mm, mostrando grandes variações na dimensão biológica dentro de uma mesma boca1,5. Estas grandes variações foram observadas, principalmente, no epitélio juncional e na inserção conjuntiva. Desta forma, até mesmo o termo conhecido como distância biológica6 deveria ser substituído por “inserção supracrestal de tecido”.

A frequência de restaurações que têm os seus términos cervicais localizados no nível da margem gengival – ou ligeiramente abaixo – é bastante grande, principalmente em áreas estéticas, onde procura-se “esconder” a linha de união ente o dente natural e o material restaurador. A colocação inadequada de uma restauração na região intrassulcular, invadindo o espaço biológico, pode ser pensada como nicho de retenção de placa, tendo como consequência uma reação inflamatória do hospedeiro. As Figuras 2 e 3 demonstram uma situação deste tipo.

À luz dos conhecimentos atuais, apenas o epitélio juncional é passível de adaptação sobre os materiais restauradores que conhecemos e, para que isto ocorra, estes materiais devem estar sempre muito bem adaptados e polidos. Já as fibras de Sharpey da inserção conjuntiva são consideradas o espaço crítico, que só se adaptam à estrutura dental sadia. Daí a razão de muitos autores só aceitarem preparos subgengivais com aproximadamente 0,7 mm de extensão subgengival, evitando contato até mesmo com o epitélio juncional.

Atualmente, as pesquisas têm se concentrado em encontrar um material restaurador que, se perfeitamente adaptado nas margens, poderia ser inserido dentro das dimensões do espaço biológico sem promover respostas inflamatórias. Desta forma, seria possível que um preparo subgengival tivesse a sua extensão adentrando o local onde encontra-se o epitélio juncional e a inserção conjuntiva, chegando a 1 mm ou mais dentro do sulco gengival. (Observar na Figura 1 a dimensão média do sulco gengival e do epitélio juncional).

Infelizmente, ainda são limitadas as evidências científicas disponíveis em humanos, para se entender melhor as dimensões das distâncias biológicas quando invadidas por materiais restauradores. Logo, não é possível determinar se os efeitos negativos no periodonto, associados às margens de restauração localizadas dentro da inserção do tecido supracrestal, são causados exclusivamente por placa bacteriana, trauma pela invasão do espaço biológico ou uma combinação desses fatores1,6. Enquanto se aguarda um consenso sobre isto, caberá ao clínico manter-se extremamente atento quando realizar procedimentos nestas áreas.

Referências

  1. Ercoli C. Caton JG. Dental prostheses and tooth‐related factors. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):207-18.
  2. Gottlieb B. Der Epithelansatz am Zahne. Dtsch Monatsschr Zahnhk 1921;39:142-7.
  3. Orban B, Kohler J. The physiologic gingival sulcus. Z Stomatol 1924;22:353.
  4. Gargiulo AW, Wents FM, Orban B. Dimensions and relations of the dentogingival junction in humans. J Clin Periodontol 1961;32:261-7.
  5. Vacek JS. The dimensions of the human dentogingival junction. The International Journal of Periodontics and Restorative Dentistry 1994;14(2):154-65.
  6. Jepsen S, Caton JG, Ablandar JM et al. Periodontal manifestations of systemic diseases and developmental and acquired conditions: consensus report of workgroup 3 of the 2017 World Workshop on the Classification of Periodontal and Peri‐Implant Diseases and Conditions. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):219-29.

“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se de si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:5-11)

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