É cada vez mais comum recebermos em nossos consultórios pacientes bem idosos, que necessitam de implantes dentários. Eu falo bem idosos porque, no Brasil, a partir de 60 anos já se considera um indivíduo idoso. Entretanto, muitas pessoas com essa idade não tem nada de idosas. São altamente saudáveis, com vida ativa em todos os aspectos e, em alguns casos, em melhores condições do que muitos jovens. Particularmente, eu considero um paciente muito idoso aquele com idade superior a 80 anos. Obviamente, sempre analisando cada caso de maneira individual.
E por que eu considero ser tão difícil planejar implantes em pacientes mais idosos? Seria devido as dificuldades inerentes a disponibilidade óssea? A resposta é não! Na verdade, a dificuldade é sociológica, pois na hora de passar o planejamento e orçamento sempre vem aquela perguntinha clássica, geralmente feita pelos familiares: “Será que vale a pena investir tanto dinheiro com essa idade?”. É a famosa mortificação de uma pessoa ainda viva. Eu fico imaginando os meus filhos fazendo um comentário destes sobre a minha saúde. Acho que eu daria um belo peteleco na orelha de cada um deles.
Felizmente, eu tenho observado que uma gama bem alta destes pacientes mais idosos ainda tem uma boa autonomia sobre suas vidas. Eles chegam sozinhos e dirigindo os próprios carros nas consultas. Tomam as decisões por si mesmos e assumem os riscos. São extremamente cautelosos, mas decididos a não se entregarem antes do tempo. Fazem muitos questionamentos técnicos bastante relevantes e escutam cuidadosamente as nossas proposições. Refletem sobre o assunto, consultam os familiares, mas a decisão final é sempre deles.
Por outro lado, existe um outro perfil de paciente mais idoso que chega sempre acompanhado do cônjuge ou de alguns dos filhos. Este perfil de paciente mais idoso, geralmente, têm pouco poder de decisão e fica refém da boa vontade de quem os acompanha. Em muitos destes casos que eu recebo, as pessoas da família são bastante razoáveis, demonstram um amor profundo pela pessoa próxima e querem realmente o melhor para o seu ente querido. Porém, em alguns outros casos que eu me deparo, estas pessoas da família dizem coisas que é melhor nem comentar aqui.
Atualmente, a expectativa de vida das pessoas vem aumentando consideravelmente, bem como a dinâmica de vida dos mais idosos. Desta forma, se privar de colocar implantes, apenas pelo fato de ter “apenas” mais uns cinco ou dez anos de vida é um erro grotesco, principalmente dos filhos ou pessoas próximas destes pacientes mais idosos. Não se pode avaliar se uma pessoa necessita de implantes dentários pela idade que possui. A necessidade de uma melhor mastigação e consequente nutrição adequada passam por outros aspectos fisiológicos, independentes da idade.
Obviamente que quando estamos planejando implantes em pacientes bem idosos devemos levar em consideração a morbidade da cirurgia que será por nós proposta e adequar o nosso planejamento as condições individuais de cada paciente. Se for possível realizar próteses fixas sobre implantes devemos seguir este caminho. Entretanto, executar reabilitações muito extensas, as vezes, pode não ser a melhor solução para o perfil de alguns pacientes. Nestes casos, as sobredntaduras móveis, retidas por implantes, ainda são um excelente tratamento para alguns pacientes.
Independente do tratamento a ser planejado, o que não se pode argumentar é que a pessoa tem pouco tempo de vida pela frente e, por isso, ela não deve fazer determinados tratamentos. Limitar uma terapia pela idade é de uma frieza espiritual enorme, típico daqueles que acham que não irão envelhecer e passar para o outro lado do balcão. O conhecimento científico que adquirimos, com horas árduas de estudo e de aperfeiçoamento profissional, deve nos abrir a mente para sentir as dores e angústias dos pacientes, executando o que é melhor e mais indicado para cada um destes pacientes, e não para os seus familiares ou para nós, cirurgiões-dentistas.
Porque o que é claramente revelado se torna luz. E é por isso que se diz: “Você que está dormindo, acorde! Levante-se da morte, e Cristo o iluminará.” Portanto, prestem atenção na sua maneira de viver. Não vivam como os ignorantes, mas como os sábios. Os dias em que vivemos são maus; por isso aproveitem bem todas as oportunidades que vocês têm. Não ajam como pessoas sem juízo, mas procurem entender o que o Senhor quer que vocês façam. (Efésios 5:14-17)
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia