A implantoplastia envolve a remoção das espiras e o polimento da superfície rugosa exposta de implantes que apresentam perda óssea. O objetivo desta técnica é descontaminar, polir e suavizar essas áreas para conter a progressão da doença e evitar o acúmulo de biofilme, facilitando o reparo e a adesão dos tecidos moles. Apesar de polêmica para alguns, esta técnica vem sendo realizada com sucesso há muitas décadas e parece ser uma bela opção para conter os avanços da peri-implantite.
No entanto, apesar de estar sendo cada vez mais utilizada por muitos clínicos, algumas preocupações são levantadas como possíveis limitadores desta técnica. Assuntos como necrose óssea devido ao aumento da temperatura, toxicidade local e sistêmica das partículas de titânio liberadas durante o procedimento, além da redução da resistência à fratura dos implantes, são os principais possíveis efeitos indesejados descritos na literatura. Dentre todas estas, o que mais preocupa os clínicos é uma possível suscetibilidade a fratura de implantes que foram tratados com implantoplastia.
A razão desta preocupação parece ser bastante óbvia: se temos um implante mais fino como resultado da implantoplastia, este implante vai fraturar mais facilmente, haja vista que a parte onde é feita a implantoplastia, na grande maioria dos casos, não vai estar envolvida por um novo osso. Assim, teremos um implante mais fino e um braço de alavanca maior, o que fatalmente aumentaria as chances de fratura do implante. Parece ser bastante óbvio, mas na prática isto não acontece.
Vários estudos in vitro, bem como muitos estudos clínicos em pacientes, parecem indicar que a implantoplastia não reduz significativamente a resistência mecânica dos implantes dentários1-5. Na verdade, a perda óssea, juntamente com outros fatores, como diâmetro do implante, proporção coroa-raíz (implante) de próteses implantossuportadas e bruxismo, têm sido mais associadas a um risco aumentado de fraturas de implantes dentários, do que a implantoplastia. Além disso, o desenho e a conexão protética dos implantes também podem ser importantes em relação à resistência mecânica.
Uma possível explicação para que a maioria dos estudos in vitro não tenham concluído que a implantoplastia aumenta o risco a fratura é que, na maioria dos implantes testados (com e sem implantoplastia), a fratura ocorreu na região coronal do implante (área da plataforma), indicando que esta parece ser a área mais frágil dos implantes, independente da quantidade óssea ao redor dos mesmos. Como no procedimento de implantoplastia esta área não é muito atingida, pois o desgaste ocorre da plataforma do implante em direção apical, a resistência a fratura parece não ser tão alterada.
No entanto, vale lembrar que muitos dos implantes testados (com implantoplastia) fraturaram ao longo do corpo, enquanto um menor número dos implantes controle (sem implantoplastia) tiveram este tipo de fratura e quebraram ao nível do parafuso do pilar. Estas diferenças, embora não estatisticamente significativas em termos de valores médios de resistência à compressão, indicam um enfraquecimento óbvio do corpo do implante após a implantoplastia. Agora, se este enfraquecimento vai realmente fazer com que os implantes venham a fraturar com o tempo, é uma pergunta que os atuais estudos ainda não conseguem responder.
Pesquisas mais recentes demonstraram que a perda óssea avançada por si só deve ser considerada um fator de risco ao se avaliar a resistência à fratura de implantes de diâmetro reduzido (menores do que 3.5mm) com conexões hexagonais externas. Estes resultados indicaram que, embora seja notório que a implantoplastia reduza a espessura das paredes dos implantes, esta técnica não parece alterar significativamente a resistência mecânica dos implantes dentários com plataforma hexagonal maiores ou iguais a 3.5mm. As figuras 1 e 2 ilustram um caso de implantoplastia com acompanhamento de quatro anos.
Eu faço implantoplastias há mais de 10 anos em minha clínica privada e também nos nossos cursos de pós-graduação da Universidade Federal de Santa Catarina. Nossos resultados já foram publicados em alguns periódicos internacionais de alto impacto. Jamais tive uma única fratura relatada. Nossos acompanhamentos já estão atingindo uma média de cinco anos de follow up, com mais de 100 implantes avaliados, e os resultados continuam sendo muito promissores.
Desta forma, acreditamos que é possível se obter uma superfície lisa e de boa qualidade com um protocolo simplificado de implantoplastia, mas deve-se ter cautela, pois este é um procedimento tecnicamente exigente e, muitas vezes, demorado. Vale a máxima de sempre (embora eu já ache desnecessário), de que mais estudos com diferentes desenhos de implantes são necessários para esclarecer melhor a segurança e o prognóstico a longo prazo dos procedimentos de implantoplastia.
Referências
- Effect of bone loss on the fracture resistance of narrow dental implants after implantoplasty. An in vitro study. Leitão-Almeida B, Camps-Font O, Correia A, Mir-Mari J, Figueiredo R, Valmaseda-Castellón E.Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2021 Sep 1;26(5):e611-e618. doi: 10.4317/medoral.24624.PMID: 34162823
- Reducedfracture load of dental implants after implantoplasty with different instrumentation sequences. An in vitro study. Jorio IC, Stawarczyk B, Attin T, Schmidlin PR, Sahrmann P.Clin Oral Implants Res. 2021 Aug;32(8):881-892. doi: 10.1111/clr.13754. Epub 2021 Jun 24.PMID: 34031921 Clinical Trial.
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- Two to six-year disease resolution and marginal bone stability rates of a modified resective-implantoplasty therapy in 32 peri-implantitis cases. Bianchini MA, Galarraga-Vinueza ME, Apaza-Bedoya K, De Souza JM, Magini R, Schwarz F.Clin Implant Dent Relat Res. 2019 Aug;21(4):758-765. doi: 10.1111/cid.12773. Epub 2019 Apr 15.PMID: 30985073
“Bem-aventurado é aquele que atende ao pobre; o SENHOR o livrará no dia do mal. O Senhor o livrará, e o conservará em vida; será abençoado na terra, e tu não o entregarás à vontade de seus inimigos. O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu o restaurarás da sua cama de doença.” (Salmos 41:1-3)
Marco Bianchini
Professor associado IV do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia