A importância da experiência clínica para o dentista

experiência clínica dentista
Determinados casos exigem a experiência clínica do cirurgião-dentista. (Imagem: Depositphotos)
Marco Bianchini exalta o conhecimento científico, mas mostra que a experiência clínica do dentista é essencial para resolver inúmeros casos.
Data de publicação: 15/01/2021

Existe uma máxima no meio acadêmico que diz: “Quem sabe, faz. Quem não sabe, ensina”. É um jargão muito conhecido pela maioria dos professores, tentando demonstrar que, muitas vezes, uma pessoa que tem muita experiência clínica e atende muitos pacientes sabe tratar a doença, mas não sabe ensinar. Por outro lado, professores catedráticos, que veem poucos doentes, mas fazem muita pesquisa e estão sempre lendo sobre tudo e sobre todos, sabem perfeitamente ensinar o aluno, mas, na hora de atender o paciente, encontram sérias dificuldades.

Isto me faz lembrar da época em que eu estava fazendo especialização em Implantodontia e um dos meus professores, que era aquele que mais conhecia da literatura, sabendo na ponta da língua qual técnica tinha maior comprovação científica, sentou-se para operar. O caso exigia uma decisão rápida e ele, por conhecer muito de tudo, não conseguiu decidir por qual técnica iria optar. A decisão era muito difícil para ele, dentro do seu universo científico. O suor escorria pela sua testa e as mãos tremiam até o ponto em que ele chamou o seu assistente, que era extremamente clínico, para terminar a cirurgia.

Este episódio me acompanha em memória desde sempre, pois foi de um valor incomensurável. Isso me ensinou que, na Odontologia – assim como na Medicina – devemos ter um grande embasamento científico e seguir o que a literatura comprova. Porém, jamais podemos deixar de ser clínicos, para assim termos firmeza nas decisões, especialmente quando tratamos doenças novas, que ainda não oferecem uma direção certeira quanto ao tratamento.

Após praticamente um ano de pandemia, a Covid-19 tem nos ensinado muito sobre isso. Muitos profissionais da Saúde, que se esconderam atrás das tão famigeradas comprovações científicas e não tratavam os pacientes com o que “parecia” dar certo em outras doenças virais semelhantes, acabaram levando muitos pacientes ao óbito. Por outro lado, uma imensidão de profissionais abnegados, acostumados a ver doentes todos os dias, foram tremendamente corajosos e optaram por tratar os seus pacientes com o que estava disponível e parecia oferecer mínimos riscos aos doentes. Estes abnegados e heróis da resistência salvaram muitas vidas e hoje estão virando referência nos tratamentos.

Na Odontologia, mais especificamente na Periodontia e na Implantodontia, vivemos este mesmo dilema. Alguns catedráticos e “ratos” de laboratório continuam deixando que as doenças periodontais destruam cada vez mais e mais dentes, enquanto aguardam a tão famigerada “comprovação científica”. Da mesma forma, implantes continuam sendo perdidos ou removidos porque “ainda não se tem certeza” de qual o melhor tratamento para a peri-implantite.

A tal da “ciência” ganhou conotações estratosféricas e caiu na boca de políticos inescrupulosos, que a utilizam como plataforma para as suas ambições. Usam as pesquisas conforme lhes convêm. Vindo de políticos, isto já não é surpresa para ninguém. Entretanto, quando isto é usado por profissionais da área da Saúde, as consequências são catastróficas e os mais prejudicados são os pacientes. Na Odontologia, são os dentes que “pagam o pato”, mutilando os pacientes. Já no caso da Covid-19, o preço é pago com as nossas próprias vidas. É preciso, sim, estar atento às comprovações científicas, mas também não é possível desprezar estudos iniciais que demonstram uma tendência para tratar casos em situações limítrofes.

A importância de sermos clínicos e, literalmente, “colocarmos a mão” na boca de nossos pacientes vai nos ajudar a tomar decisões corretas na hora de tratar um caso complexo. A escolha por essa ou aquela tendência da literatura passa, invariavelmente, pela nossa experiência clínica e pela frequência com que atendemos verdadeiramente os nossos pacientes. Muitas vezes, iremos nos deparar com situações críticas que exigem uma tomada de decisão rápida. Nestes casos, não vai dar pra esperar a publicação de um consenso ou de uma revisão sistemática. Vai ser preciso agir, e agir rápido!

“E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil. Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar.” (1 Coríntios 12:4-9)

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