Como fica o osso ao redor de implantes com peri-implantite?

Marco Bianchini apresenta caso clínico com figuras que ilustram a corticalização do osso de implantes com peri-implantite.

Sabemos perfeitamente que a peri-implantite causa a reabsorção óssea ao redor de implantes. É uma perda progressiva de suporte ósseo, que pode levar a perda do implante. Entretanto, muitos implantes perdem um pouco de osso por peri-implantite. Tratados ou não, os implantes permanecem em boca, embora com uma perda óssea considerável. A pergunta é: como se comporta este osso remanescente ao redor destes implantes que sofreram com a peri-implantite, mas sobreviveram por um bom tempo na boca?

Também é de conhecimento que as lesões de peri-implantite se estendem apicalmente e são comumente associadas a um padrão circunferencial de perda óssea. Entretanto, a morfologia do osso remanescente, exposto às forças mastigatórias, não tem sido muito bem descrita. Se levarmos em consideração que o osso peri-implantar remanescente tem que se adaptar à carga oclusal, iremos entender que isto requer modificações para traduzir as forças mecânicas em sinais moleculares que controlam a adaptação óssea.

Estes princípios biológicos descritos acima levaram alguns autores1 a levantar a hipótese de que o osso em defeitos de peri-implantite tem alta densidade e contém osteócitos vitais que, na perda avançada de osso cortical peri-implantar, levariam o osso trabecular remanescente a se modificar. Esta modificação seria a resposta do osso quando submetido a forças mastigatórias, em que ocorreria um reforço cortical, como consequência da adaptação funcional. Esta adaptação só ocorreria através da ação de osteócitos vitais.

A conclusão levantada por estes autores1 é que ocorreria uma corticalização funcional do osso peri-implantar, que era originalmente trabecular. Um forte suporte para esta hipótese vem de observações histológicas em que o osso marginal mostrou sinais característicos de remodelação óssea heterogênea com áreas significativas de osso lamelar no meio e paralelas à superfície de trabéculas mais antigas, representando sinais de compactação de antigas trabéculas.

Os achados destes autores1 foram baseados em implantes dentários que tiveram que ser removidos devido à peri-implantite avançada, com uma osteólise inflamatória concomitante. O osso remanescente destes implantes removidos foi cortado histologicamente e os resultados sugerem que o osso peri-implantar residual pode acumular a carga funcional e, consequentemente, é modelado e reforçado para se tornar um osso cortical. As figuras 1 a 3 ilustram a corticalização do osso de implantes com peri-implantite.

Figuras 1, 2 e 3 – Implante removido por peri-implantite na figura 1. Observar o aspecto clínico do osso cortical na figura 1, confirmado no corte tomográfico da figura 2. Na figura 3, radiografia periapical com três implantes colocados a mais de cinco anos. Observar a intensa corticalização do osso peri-implantar do implante na região do elemento 14, que sofreu um tratamento cirúrgico de peri-implantite (implantoplastia), com sete anos de controle.

 

Entender o que ocorre com o osso peri-implantar de implantes que sofreram algum tipo de perda óssea é muito importante para o clínico. A literatura ainda é escassa em pesquisas sobre este tema. Contudo, os achados descritos pelos autores1 que discutimos nesta coluna demonstram que podemos, sim, tratar implantes com peri-implantite e ter bons resultados, uma vez que ocorrerá uma adaptação do osso remanescente, a fim de receber as cargas mastigatórias funcionais.

Referência:

1 – Maria Elisa Galárraga-Vinueza , Stefan Tangl, Marco Bianchini, Ricardo Magini, Karina Obreja, Reinhard Gruber and Frank Schwarz. Histological characteristics of advanced peri-implantitis bone defects in humans. International Journal of Implant Dentistry (2020) 6:12 https://doi.org/10.1186/s40729-020-00208-8

Jesus disse: “Eu sou a videira, vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada.”
(João 15:5)

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