Entrevista: Moira Leão explica as células-tronco na Odontologia

Moira Leão
Moira Leão em sua apresentação no IN 2019. (Imagem: Panoptica Multimidia)
Integrante do comitê organizador do simpósio, Moira Leão detalha extração, caracterização e cultivo das células-tronco na Odontologia.

Entre 28 de abril e 1º de maio de 2021 ocorre o XI Encontro da Associação Brasileira de terapia celular e gênica. Dentro desse congresso, teremos o primeiro simpósio sobre células-tronco e biomateriais na Odontologia. A programação científica do evento será diversificada, envolvendo temas atuais da terapia celular e gênica, com enfoque também para as normas legais de sua utilização. Devido à grave pandemia de Covid-19 que está afetando o mundo, o evento será realizado de forma on-line.

Nesta edição da coluna Quarta com Rossetti, aqui no VMBlog, conversamos com a Dra. Moira Pedroso Leão, que integra o comitê organizador do evento, além de ser assessora técnica do Conselho Federal de Odontologia para os assuntos relativos a sangue, tecidos, células-tronco e derivados, e ser membro titular da Comissão Permanente em Biovigilância junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Moira Leão também faz parte do conselho científico da revista ImplantNews e é coautora do capítulo do livro do IN 2017 “Sticky Bone. Um compósito mineralizado em matriz de fibrina. Conceitos fundamentais, metodologia, caracterização morfológica por microscopia eletrônica de varredura e caso clínico”.

Quarta com Rossetti – Células-tronco na Odontologia. Qual modelo está melhor caracterizado: polpa, gengiva, ligamento periodontal?

Moira Leão – Desde quando Gronthos e cols. caracterizaram as MSC de polpa dentária de dentes permanentes (2000), e Miura e cols. identificaram e caracterizaram as MSC em dentes decíduos em esfoliação (2003), centenas de pesquisadores seguiram na busca pelo entendimento de manejo e peculiaridades destas células, assim como suas aplicabilidades em pesquisa e uso clínico. Até hoje, mais de 13 fontes distintas de células-tronco mesenquimais (MSC) de origens odontológicas já foram descritas.

Ainda não é possível determinar se há diferenças em relação a potencialidades de diferenciações ou uso futuro entre diferentes sítios doadores de MSC, porém todas estas células possuem características muito particulares em relação à proliferação, em comparação com outras fontes corporais ou mesmo oriundas do cordão umbilical.

 

Quarta com Rossetti – Podemos ter uma ideia do custo relativo para extração, caracterização e cultivo de células-tronco na Odontologia? Como a terapia está sendo visualizada para o consultório odontológico?

Moira Leão – Recuperar o tecido ósseo perdido sem precisar de um sítio doador, imprimir o “bloco” desejado com precisão de formato e já “semeado” com células capazes de produzir um novo tecido no modelo impresso – é o que promete a Engenharia Tecidual, um dos braços da chamada terapia celular avançada. Imagine um enxerto conjuntivo sem limites de área doadora. Com uma pequena biopsia de gengiva, é possível expandir as células nos centros de processamento celular (CPC) para serem aplicadas em nossos pacientes, reduzindo significativamente os transtornos e tempo de cirurgia por dispensar a remoção de uma grande área de tecido doado. Obviamente, esta modernidade tem custo. O processamento de uma amostra biológica, além dos custos de transporte de ida e volta entre o consultório e o CPC, pode ficar entre 5 e 7 mil reais, dependendo da cidade. Mas, por enquanto, este custo precisa ser coberto por algum projeto de pesquisa, pois os processos de registro destes produtos de terapia avançada na Anvisa foram iniciados em 2020 e ainda estão em fase de comprovação científica. Entretanto, se o paciente quiser aproveitar um momento de oportunidade, como a cirurgia de extração de um dente do siso, para manter armazenadas suas células para uso futuro, é possível contratar este serviço de processamento e criopreservação, lembrando que neste caso há o custo da anuidade pela criopreservação, que fica em torno de 1.000 reais.

 

Quarta com Rossetti – Há algum tempo, noticiou-se que seria possível “trazer um dente de volta” sem colocarmos um implante dentário. O que já conseguimos fazer? O que ainda falta?

Moira Leão – Algumas limitações separam os implantes osseointegráveis da verdadeira “terceira dentição”. O primeiro ponto: o tempo. Nenhum adulto aceitaria ficar de “janelinha” até que um novo dente seja formado e erupcione, ainda mais em uma região onde a estética possa ficar comprometida. Outra alternativa à erupção natural seria fazer o dente no laboratório e depois é só implantar, não é mesmo? Bem, fazer o dente na placa de Petri, usando um arcabouço no formato desejado já foi descrito nos trabalhos do renomado cientista americano Joseph Vacanti, do Massachusetts General Hospital e Harvard Medical School, que contou inclusive com a participação dos brasileiros Silvio e Mônica Duailibi em parte da pesquisa. Além do polo americano, há também os trabalhos do genial Paul Sharpe e colaboradores do King’s College London, no Reino Unido. Porém, algumas limitações ainda impedem que possamos usufruir desta tecnologia. Uma das questões é embrionária, restos epiteliais de Malassez. Estes resíduos epiteliais oriundos de apoptose da Bainha Epitelial de Hertwig ficam dispersos no ligamento periodontal e impedem que o dente anquilose, além de inibir a reabsorção da raiz e promover a proliferação dos cementoblastos. Então, produzir restos epiteliais de Malassez para semeá-los entre o “dente engenheirado” e o tecido ósseo ainda é um desafio.

Confira a programação oficial do evento: 

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