Espaço biológico peri-implantar

espaço biológico peri-implantar
Marco Bianchini destaca protocolos bem documentados na literatura para avaliar o espaço biológico peri-implantar.

As dimensões do tecido epitelial e conjuntivo ao redor dos implantes são uma avaliação representativa do espaço biológico peri-implantar, que funciona de maneira semelhante ao que ocorre nos dentes naturais. Assim, sabe-se que necessitamos de um espaço livre de osso na parte coronária dos implantes, provavelmente junto a conexão dos pilares protéticos, a fim de que os tecidos epitelial e conjuntivo possam se adaptar, configurando o espaço biológico. A remodelação óssea peri-implantar, após a colocação do implante, é considerada um processo fisiológico, que ocorre como parte do estabelecimento deste espaço biológico.

Desta forma, já é esperada uma modificação no padrão ósseo peri-implantar, na área de transição entre o implante e o pilar protético, como forma de acomodar os componentes do espaço biológico (tecidos epitelial e conjuntivo). Contudo, quando não há um espaço suficiente para a acomodação destes elementos teciduais, um fenômeno conhecido como “saucerização” tende a ocorrer, reabsorvendo o osso desordenadamente, como forma de criar este espaço, que teria sido invadido pelo pilar protético.

Tentando minimizar esta quantidade de remodelação óssea peri-implantar, vários protocolos estão bem documentados na literatura. Um dos mais conhecidos é o uso de um pilar protético de diâmetro menor em cima de uma plataforma de implante mais larga, resultando naquilo que conhecemos como plataforma “switching”. Esta diminuição horizontal da largura do pilar parece estabilizar a remodelação óssea peri-implantar, pois criaria um espaço correto para a acomodação dos tecidos moles peri-implantares epitelial e conjuntivo. A figura 1 ilustra uma plataforma “switching”.

espaço biológico peri-implantar
Figura 1 – Radiografia periapical de implantes com plataforma “switching” tipo cone-morse (Maestro – Implacil De Bortoli – São Paulo – Brasil). Observar a manutenção do osso junto as plataformas dos implantes, com discretas remodelações.


Alguns autores¹ têm demonstrado que, independente da macrogeometria do implante (desenho do implante propriamente dito), o componente transmucoso – ou seja, o pilar protético – também influenciou no estabelecimento de uma distância biológica peri-implantar. Estes autores concluíram que o uso de um pilar plano e largo diminuiu a altura do tecido mole peri-implantar em comparação com um pilar mais estreito e reto, que acomodaria melhor as estruturas dos tecidos moles (tecidos epitelial e conjuntivo).

Resumindo: os achados destes autores¹ demonstraram que o uso de pilares mais largos induziram a um deslocamento apical dos componentes do espaço biológico peri-implantar. Isso resulta em mais perda óssea em comparação com o pilar mais estreito e reto. Seria o que chamamos de migração apical do epitélio juncional, que ocorre nas bolsas periodontais de dentes naturais. Quando uma configuração de pilar mais larga e divergente é usada, a parede interna deste pilar está localizada mais próxima do osso alveolar marginal, limitando o espaço para o estabelecimento do espaço biológico. Assim, o osso alveolar se remodela para acomodar a inserção recém-formada. A figura 2 ilustra a remodelação óssea ocorrida devido a utilização de um pilar mais largo.

Espaço biológico peri-implantar
Figura 2 – Remodelação óssea patológica no implante 14, devido a utilização de um pilar protético mais largo do que a plataforma do implante.


O conceito de pilares finos pode ser usado para a confecção e personalização de um componente transmucoso do implante com tecnologia digital. Desta forma, as dimensões volumétricas desejáveis para o estabelecimento de um espaço biológico peri-implantar correto seriam preservadas, minimizando a remodelação óssea. Um pilar de cicatrização personalizado e, posteriormente, o pilar final com um contorno mais estreito e mais reto, projetado com tecnologia CAD/CAM, podem trazer benefícios clínicos a longo prazo.

Parece haver um consenso na literatura de que o desenho do pilar (abutment) pode influenciar no estabelecimento do espaço biológico peri-implantar. Desta forma, devemos adotar um desenho mais fino e reto dos pilares, pois pilares amplos e divergentes do eixo principal do implante induzem a um deslocamento apical dos componentes do espaço biológico peri-implantar, resultando em uma remodelação óssea patológica, que poderá ser entendida como uma peri-implantite.

Referência:

Souza AB, Alshihri A, Kämmerer PW, Araújo MG, Gallucci GO. Histological and micro‐CT analysis of peri‐implant soft and hard tissue healing on implants with different healing abutments configurations. Clin Oral Impl Res. 2018;00:1–9.

“Provem e vejam que o Senhor é bom; bem-aventurado é quem nele se refugia.” (Salmos 34:8)

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