Qual é o melhor tratamento?

melhor tratamento
Em tempos de Covid-19, Marco Bianchini debate as exigências dos estudos científicos para comprovar a utilização de métodos ou medicamentos.

Cirurgião-dentista adora saber qual é o melhor tratamento para determinado problema bucal. Nós, clínicos, queremos mesmo é ter uma “receita de bolo” em nossas mãos para colocarmos em prática nos nossos pacientes e, assim, resolvermos os seus problemas. É assim com uma cárie, gengivite, periodontite ou perda dental para colocar um implante. Porém, quando estamos enfrentando uma doença, a certeza do melhor tratamento, às vezes, não é tão simples. Basta analisarmos os diversos tipos de tratamentos que temos para as doenças periodontais e peri-implantares. É difícil saber qual é o melhor. Mas, para o clínico, o que importa é ter um tratamento que possa salvar o dente ou o implante. Nessa época de coronavírus (Covid-19), onde se busca um tratamento a todo custo, avaliações de medicações à base de cloroquina estão surgindo em todos os lugares, e o debate sobre qual o melhor tratamento está aberto. Mas, será que necessitamos mesmo de tanto debate assim?

Ainda me lembro muito bem quando, há uns dez anos, eu conversava com o meu grande amigo Dr. Alexandre Gambil Gjorup, periodontista e implantodontista que clinica no Rio de Janeiro, sobre peri-implantite. Na época, ele me relatou que costumava alisar as roscas supraósseas dos implantes que apresentavam perdas ósseas. Esse foi o meu primeiro contato com a técnica de implantoplastia. A princípio, fiquei bastante perplexo com esse tratamento, pois achei bastante invasivo. Porém, buscando na literatura, observei que havia uma corrente de pesquisadores que defendiam esta técnica. Foi então que comecei a realizá-la e a pesquisar sobre este assunto.

Atualmente, a implantoplastia é reconhecida como uma interessante alternativa no tratamento da peri-implantite, mas ainda está longe de ser consenso na literatura dentro das academias. As pesquisas científicas que abordam esta técnica conseguem mostrar excelentes resultados, mas faltam dados para que ela seja consagrada. Eu, assim como vários outros pesquisadores pelo mundo, uso este tratamento em quase 100% dos casos e tenho resultados excelentes. O professor Frank Schwarz, de Frankfurt, na Alemanha, com quem tive a oportunidade de publicar três artigos científicos em conjunto, também comunga da mesma opinião. E, assim, vamos realizando nossos casos de implantoplastia, salvando implantes e evitando sobretratamentos.

O que ocorre é que é muito difícil provar a eficácia total de um tipo de tratamento, pois o que se exige nas revistas científicas de estudos clínicos randomizados é muito difícil de se cumprir, principalmente por razões éticas. Você sabe que ele dá certo, você aplica nos seus pacientes, mas sempre vai ouvir aquela sugestão: “Você precisa comparar com outro grupo, onde nada foi feito ou foi executado outro tipo de tratamento”. Foi baseado nessa polêmica que acabei encontrando na página de um amigo do Facebook uma interessante abordagem sobre tratamentos. Vajam abaixo o que publicou, em sua página do Facebook, o Dr. Weber Adad Ricci, professor assistente e doutor coordenador da disciplina de Clínica Integrada na Faculdade de Odontologia de Araraquara, Unesp.

Você sabia que existe um estudo publicado que concluiu que pular de um avião com um paraquedas não é necessariamente mais seguro do que com uma mochila vazia nas costas? Ele está publicado na revista britânica de medicina BMJ (Yeh RW, Valsdottir LR, Yeh MW, Shen C, Kramer DB, Strom JB et al. Parachute use to prevent death and major trauma when jumping from aircraft: randomized controlled trial. Parachute investigators. BMJ 2018;363).

O estudo teve uma amostra de 23 indivíduos divididos em dois grupos. Grupo A (com paraquedas) e Grupo B (sem paraquedas). Todos saltaram do avião e os pesquisadores avaliaram a taxa de sobrevivência. Veja as conclusões do artigo: “Nosso estudo inovador não encontrou diferença estatisticamente significativa no desfecho primário (morte) entre o tratamento (paraquedas) e controle (sem paraquedas). Nossas descobertas devem dar uma orientação a especialistas que defendem o uso rotineiro de paraquedas para saltos de aeronaves em ambientes recreativos ou militares. Das pessoas que saltaram do avião com o paraquedas, nenhum morreu. Já entre os que pularam com a mochila vazia, também ninguém morreu. Vale ressaltar que o avião estava estacionado no chão, e não em voo!”

Este estudo é da edição de dezembro de 2018, onde as publicações satirizam de modo crítico a limitação de execução e interpretação de alguns estudos em área médica. Ele usa o rigor do método científico associado a uma situação corriqueira, fácil de leigos entenderem a mensagem. O teste do paraquedas destaca algumas limitações dos ensaios clínicos randomizados. Primeiro e mais importante: antes de divulgar algo, leia o estudo até o final, e não somente o resumo!

Atualmente, vivemos um grande dilema sobre qual é o melhor tratamento para o coronavírus (Covid-19). Como disse o professor Weber Adad Ricci: “Para a comunidade científica, que exige o rigor absoluto na avaliação de um tratamento de uma doença grave em uma situação de vida ou morte, ela parte do pressuposto de que um grupo vai ter que ‘pular do avião sem paraquedas’. Isto é o ensaio clínico randomizado”. Vamos precisar que um grupo não tome cloroquina e morra para provarmos que a medicação funciona. Estão exigindo inúmeros estudos de uma medicação usada desde a década de 1930 e que há dois meses era vendida livremente sem nenhum tipo de receita médica. Que Deus nos livre destes burocratas e que possamos continuar salvando dentes, implantes e vidas.

“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem chamam mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes diante de si mesmos!” (Isaías 5:20,21)

Translate »