Retratamento endodôntico, apicectomia ou implante?

Uma das maiores dúvidas que ainda me atingem no consultório é quando me deparo com casos onde, talvez, o dente poderia ser salvo com a realização de um retratamento endodôntico ou apicectomia. Não falo aqui de fraturas ou colagens, mas sim daqueles casos onde parece haver condições de evitar uma exodontia, seguida da colocação de um implante, através dos recursos endodônticos que possuímos atualmente.

Entendo que cada profissional puxa a brasa para a sua especialidade e traz consigo uma série de justificativas que dariam respaldo a sua escolha. Um implantodontista fala na previsibilidade do tratamento e dos riscos de fratura de um elemento dentário que terá o seu canal retratado ou com uma apicectomia. Já o endodontista fala do custo mais reduzido de um tratamento endodôntico e restauração do dente, bem como da baixa morbidade das endodontias e por aí vai.

Tenho acompanhado no Instagram postagens muito interessantes de colegas endodontistas que conseguem salvar dentes que nós, implantodontistas, já teríamos extraído e colocado implantes há muito tempo. Vejo, também, que estes colegas mostram o controle positivo de muitos anos destes elementos dentais que foram preservados. Mesmo com todas estas ponderações, eu ainda fico com dúvidas sobre o que fazer em algumas situações, como a que está apresentada na Figura 1.

Figura 1 – Elemento 14 com lesão periapical e sintomatologia inflamatória positiva com presença de fístula. Não foram encontrados traços de fratura nos exames clínico e tomográficos.

 

Observando a Figura 1, conseguimos detectar que a lesão tem um porte de pequena a média magnitude, com um tratamento endodôntico que preencheu bem o canal palatal, porém, sem atingir o ápice do canal vestibular, que parece estar um pouco calcificado. Também podemos perceber que existe um bom remanescente ósseo apical as raízes, que poderia possibilitar a colocação de um implante imediato com reconstrução óssea. O que você indicaria?

Acredito que se colocássemos um endodontista e um implantodontista em uma mesa para debate, ambos nos convenceriam de que tanto o retratamento/apicectomia ou um implante estariam bem indicados. Contudo, penso que algumas perguntas devem ser feitas antes de se tomar uma decisão final para este caso. Todas estas perguntas têm a ver com o perfil do paciente e suas escolhas. Qual a idade do paciente? Quais as condições sistêmicas e emocionais deste paciente? Qual o perfil sócio-econômico deste paciente?

A Odontologia não é uma ciência exata. Sabemos que existem vários caminhos para o tratamento de um dente. Muitas vezes, mais de uma opção pode dar certo, sendo ela mais conservadora ou não. As receitas de bolo e check-lists são muito perigosas em situações como a da Figura 1, pois deixam de lado a decisão final que deve partir do paciente. Cabe a nós analisar estas situações com muita cautela, ouvir o paciente e tomar uma decisão final em que acreditamos fielmente ser possível resolver o caso. Esta decisão deve ser reta, objetiva e sem rodeios.

“Mas o Espírito Santo de Deus produz o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade a humildade e o domínio próprio. E contra essas coisas não existe lei. As pessoas que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a natureza humana delas, junto com todas as paixões e desejos dessa natureza.” (Gálatas 5:22-24)

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