Sinais clínicos de saúde peri-implantar

Mais um congresso IN está chegando (IN24) e eu estarei lá novamente, falando de peri-implantite. Ao longo dos últimos 15 anos, esta tem sido a minha temática preferida, além de ser a minha linha de pesquisa com os meus alunos de mestrado e doutorado aqui na UFSC. Desta forma, me sinto muito confortável com este assunto, embora ele me traga cada vez mais dúvidas do que certezas. Atualmente, uma das minhas maiores angústias é saber identificar se os tecidos moles estão mesmo saudáveis ou doentes.    

Aprendemos com as pesquisas científicas que a saúde peri‐implantar é caracterizada pela ausência de sinais visuais de inflamação e de sangramento à sondagem, bem como de perda óssea progressiva (perda constante ao longo dos anos), visível em radiografias. Os sinais visuais de uma mucosa peri-implantar demonstram um tecido mole com ausência de eritema, ausência de sangramento espontâneo ou sangramento a sondagem e ausência de edema na mucosa. A coloração dessa mucosa é um vermelho rosado com tonalidades mais claras, semelhante aos tecidos moles saudáveis, que se encontram ao redor dos dentes naturais. A exceção dessa semelhança com os tecidos periodontais se dá na região de papilas interproximais, onde, nos implantes, parecem ser menores e menos proeminentes do que nos dentes naturais.

Aprendemos também que os métodos clínicos para identificar se um implante está com saúde ou já possui algum grau de inflamação inclui a inspeção visual, sondagem com sonda milimetrada periodontal e palpação. Mudanças na coloração desses tecidos moles, bem como o sangramento a sondagem ou a presença de um forte exsudato na palpação, indicam que o quadro de saúde foi rompido. Vale lembrar que a sondagem de implantes difere sensivelmente da sondagem em dentes naturais e exige um treinamento e calibração do clínico, para que este não obtenha diagnósticos falso positivos ou falso negativos.

Desta forma, quando realizamos a sondagem peri-implantar, a pressão de sondagem pode ser exagerada, adentrando inadequadamente o sulco peri-implantar e provocando um sangramento que nada tem a ver com uma inflamação real, pois foi provocado pelo trauma na pressão de sondagem. Por outro lado, se executarmos uma sondagem com uma pressão muito leve, não iremos obter a real sondagem da área e a ausência de sangramento pode ser uma falsa impressão de saúde. A pergunta que eu faço é bastante polêmica e talvez faça alguns periodontistas se revirarem. Será que é mesmo necessário sondar um implante para confirmar se o mesmo está com saúde ou doença? As figuras 1 e 2 ilustram uma situação de saúde peri-implantar que torna desnecessária a sondagem.

Faço esta pergunta depois de muitos anos coletando dados e tendo muitas dúvidas com relação ao sangramento a sondagem, bem como a profundidade a sondagem aumentada. Atualmente, muitos pesquisadores têm aceitado um ou dois pontos sangrantes (de um total de seis pontos avaliados por dente), como sendo uma característica normal destes tecidos que não caracterizam doença. Obviamente que estas características tem que estar associadas a uma radiografia que não demonstre perda óssea progressiva. Profundidades a sondagem maiores do que 4 milímetros também tem sido toleradas como normais, desde que não haja mais sinais clínicos de inflamação.

O que ocorre na sondagem dos implantes é que as características histológicas dos tecidos peri-implantares são semelhantes, mas não iguais aos tecidos periodontais. Isto faz com que o selamento biológico nos implantes seja mais frágil do que nos dentes naturais, dificultando o exame. Sem falar que muitas próteses sobre implantes tem contornos exagerados, que difucultam a sondagem peri-implantar. Assim, acredito que a inspeção visual apurada da mucosa peri-implantar, associada com o exame radiográfico, pode sim detectar saúde ou doença, sem a necessidade de se realizar uma sondagem periodontal nos moldes que aprendemos nos primórdios da Periodontia.

Referências

1 – Berglundh T et al. Peri‐implant diseases and conditions: Consensus report
of workgroup 4 of the 2017 World Workshop on the Classification of Periodontal and Peri‐Implant Diseases and Conditions. J Clin Periodontol. 2018;45(Suppl 20):S286–S291.
2 – Risk indicators for Peri-implantitis. A cross-sectional study with 916 implants. Dalago HR, Schuldt Filho G, Rodrigues MA, Renvert S, Bianchini MA. Clin Oral Implants Res. 2017 Feb;28(2):144-150. doi: 10.1111/clr.12772. Epub 2016 Jan 11. PMID: 26754342
3 – Prevalence of Peri-implant Diseases: Analyses of Associated Factors.
4 – Ferreira CF, Buttendorf AR, de Souza JG, Dalago H, Guenther SF, Bianchini MA. Eur J Prosthodont Restor Dent. 2015 Dec;23(4):199-206.PMID: 26767242

“Ninguém tem mais amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles.14 Vocês são meus amigos se fazem o que eu mando.15 Eu não chamo mais vocês de empregados, pois o empregado não sabe o que o seu patrão faz; mas chamo vocês de amigos, pois tenho dito a vocês tudo o que ouvi do meu Pai.” (João 15: 13-15)

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