A fratura ou o afrouxamento de componentes protéticos é um relato bastante comum que encontramos na literatura, descrito em diversos artigos científicos. Já a fratura do implante osseointegrado propriamente dito não ocorre com tanta frequência, mas também é relatada em várias publicações. São intercorrências conhecidas pelos clínicos em Implantodontia e que fazem parte daquele rol de situações desagradáveis que temos que resolver no nosso dia a dia.
A recorrência do afrouxamento – ou fratura de pilares protéticos – em um mesmo paciente também é bastante frequente e, geralmente, ocorre porque a verdadeira causa desta intercorrência não foi tratada adequadamente. Contudo, a recorrência de fratura de implantes (fratura de um implante recolocado na mesma posição de um outro implante que fraturou anteriormente) já é um evento mais raro de ser presenciado, embora possa acontecer, especialmente se a causa da primeira fratura não tiver sido removida.
Na maioria das vezes, um implante ou pilar protético sofre fratura por sobrecargas oclusais, sendo que a mais comum é o bruxismo. Geralmente, o pilar fratura na sua porção mais cervical, que está adaptada no implante. E, em um grande número de situações, é possível remover o pilar do implante e evitar a retirada do cilindro que está dentro do osso, pois este não foi danificado. Isto evita maiores transtornos, tanto para o paciente quanto para o profissional.
Entretanto, muitas vezes não é possível remover a parte do pilar que ficou dentro da fixação sem danificar o corpo do implante. Além disso, esta intercorrência pode acabar fraturando, além do pilar, a porção mais coronária do implante também. Nestas situações, a única solução é a remoção de todo o conjunto e a confecção de um novo implante e uma nova prótese. As Figuras 1 a 7 ilustram um caso de recorrência de fratura de pilares e implantes.
Este caso clínico ilustra bem uma situação de extrema gravidade, em que o paciente fraturou dois implantes colocados na mesma região em um espaço de cinco anos. Felizmente, pela boa condição óssea do paciente, foi possível colocar um novo implante na mesma seção da remoção do implante fraturado, nas duas vezes em que houve fraturas.
O diagnóstico da causa das fraturas foi um bruxismo exacerbado que o paciente sofria. Apesar do uso eventual de uma placa miorrelaxante, o grau elevado de apertamento dental acabou levando o paciente a esta recorrência de fraturas. Atualmente, este paciente recebeu tratamento com toxina butolínica nos músculos da mastigação, além de uma nova terapia oclusal, com ajustes e uma nova placa miorrelaxante, que deverá ser usada com mais frequência.
A fratura recorrente de pilares e implantes é um evento que deverá aparecer cada vez mais em nossas clínicas, pois a frequência de distúrbios de ATM (articulação temporomandibular) tem aumentado em nossos consultórios. O diagnóstico precoce de parafunções, como o bruxismo, e o tratamento destes problemas de ATM devem anteceder a reabilitação com implantes, sob pena de aumentarmos o número de fracassos em nossos tratamentos. Além disso, os pacientes portadores de parafunções oclusais devem ser alertados sobre as consequências que estes distúrbios podem gerar em qualquer terapia odontológica.
“Tenham cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha um coração mau e descrente, que se afaste do Deus vivo. Pelo contrário, animem uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama “hoje”, a fim de que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado.” (Hebreus 3:12,13)
Marco Bianchini
Professor associado IV do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
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