Os nossos consultórios ou clínicas odontológicas de Implantodontia, por menores que sejam, sempre acabam tendo uma equipe envolvida no atendimento dos nossos clientes. Esta equipe pode ser grande ou pequena, dependendo do tamanho do nosso empreendimento odontológico. Independente da especialidade de uma clínica, ela sempre vai precisar de uma equipe, que é composta por cirurgiões-dentistas, técnicos em saúde oral, auxiliares de serviço odontológico, pessoal do administrativo, etc.
Toda a equipe tem um líder. Este líder pode ser designado pelo dono da clínica, pode ser o próprio dono da clínica ou pode ser ainda alguém que não foi denominado líder, mas que assumiu esta condição pelas suas características pessoais e de personalidade. Um líder se faz líder quando as suas atitudes comprovam a sua posição. A iniciativa e o poder de decisão, bem como as ideias inovadoras – e, muitas vezes, arrojadas – forjam algumas das características de um líder.
Geralmente, em nosso “negócio” chamado Odontologia, o líder acaba sendo o dono do consultório. Isto ocorre naturalmente porque foi ele quem investiu mais tempo e dinheiro na estruturação da empresa. Assim, a posição de dono do negócio ou investidor acaba se confundindo com a de líder, o que pode ser bastante perigoso, porque o dono do consultório pode ter uma boa visão dos negócios, mas não ser um líder nato, devido as suas características de personalidade.
Este conflito de funções (dono, investidor ou líder) pode gerar grandes problemas na gestão de uma clínica odontológica pois a falta de liderança leva a clínica a se comportar como uma nau sem rumo, onde todos querem ir para lugares diferentes. Imagine você, colega, trabalhando em uma clínica especializada em Implantodontia e o suposto líder, impressionado com o boom da HOF (Harmonização Orofacial) começa a contratar profissionais desta área, mas que não são cirurgiões-dentistas. Qual seria a reação da equipe?
Você pode aqui argumentar que existem no mercado uma série de profissionais, que não são cirurgiões-dentistas, realizando bons trabalhos de HOF, e isso é verdade. Mas não é este o ponto que eu quero chegar. O simples fato de desviar o foco da especialidade de uma clínica pode levar a equipe a perder o rumo certo. O foco nas reabilitações implantossuportadas começa a dar lugar para a HOF, a clínica começa a perder a identidade, a equipe não sabe se capta pacientes para implantes ou HOF e a consequência natural disso é a diminuição de pacientes e a queda no faturamento.
É óbvio que eu estou aqui usando uma situação hipotética, e que não há mal nenhum em realizar HOF onde se faz implantes. Contudo, esta decisão precisa ser muito bem elaborada para ter sucesso. Na maioria das vezes, quando perdemos o foco da nossa especialidade, deslumbrados por alguma outra que parece estar dando mais dinheiro, os resultados são desastrosos. Assim, se esta decisão foi tomada pelo líder e a equipe não deu conta, o culpado é o líder.
Nós, cirurgiões-dentistas, infelizmente temos pouca formação na área de gestão e acabamos aprendendo no dia a dia com os nossos próprios erros. No meu curso de gestão (Abre a Lojinha) eu abordo muito este tema de liderança. Dentre muitos tópicos que norteiam as características de um líder está a de saber indicar outros líderes dentro do próprio negócio. Muitas vezes, uma recepcionista pode ter características de liderança que irão ajudar na logística da clínica. Assim, designar pessoas para funções adequadas, segundo o perfil de cada uma, é também a função de um bom líder.
Resumidamente, podemos elencar a capacidade de reconhecer os próprios erros e de dar a volta por cima como a principal característica de um líder odontológico. Uma vez que o líder percebe que errou, ele reúne a equipe, assume o erro, se desculpa, pede ajuda a equipe, volta atrás e reorganiza tudo. Colocar o orgulho de lado e ter a humildade de reconhecer os erros e ouvir o seu time é que irão fazer com que a nave odontológica volte ao rumo certo. Não importa muito se você é o dono da clínica, investidor ou sócio. O que importa é ser resiliente e seguir caminhando depois dos tropeços.
“O orgulho leva a pessoa à destruição, e a vaidade faz cair na desgraça.
É melhor ter um espírito humilde e estar junto com os pobres do que participar das riquezas dos orgulhosos.” (Provérbios 16: 18-19)
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Instagram: @marcoaureliobianchini | @bianchini_odontologia