Na semana passada, eu recebi a excelente notícia: um artigo do nosso grupo foi o mais citado no periódico em que ele foi publicado (Journal Periodontology 2023;1–12). Este Journal tem um fator de impacto de 4.2, considerado bem alto para a nossa área. Título do artigo: “Prevalence, risk indicators, and clinical characteristics of peri-implant mucositis and peri-implantitis for an internal conical connection implant system: A multicenter cross-sectional study”, dos autores Apaza-Bedoya K, Galarraga-Vinueza ME, Barbosa Correa B, Schwarz F, Bianchini MA, Benfatti C. O artigo na íntegra está disponibilizado aqui e a figura 1, acima, comprova o certificado recebido por um dos autores.
O estudo avaliou uma série de fatores relacionados com mucosite e peri-implantite. Alguns itens exigem uma leitura detalhada, a fim de não se interpretar os dados erroneamente. Na essência, esta pesquisa observou o comportamento peri-implantar de 99 pacientes com 266 implantes cone-morse da marca brasileira Implacil De Bortoli – São Paulo Brasil. A média do tempo que os implantes estavam em boca foi de mais de 30 meses. Os achados epidemilológicos, a nível dos pacientes, demonstraram uma prevalência de peri-implantite de 15,15%, o que corrobora com outros artigos que avaliaram outras marcas mundialmente conhecidas.
A pesquisa mostrou a associação da peri-implantite com alguns fatores de ordem geral, como a osteoporose e a periodontite prévia, e também fatores locais, como próteses cimentadas, próteses de arco parcial e/ou total, diâmetro do implante maior do que 3.75, altura transmucosa do pilar inferior a 1,5mm e dificuldade de higiene. Quando dizemos que existe uma associação da doença peri-implantar com estes fatores, significa dizer que pacientes com osteoporose e periodontite prévia têm mais chances de desenvolver a peri-implantite. Da mesma forma, implantes com diâmetros maiores do que 3,75, com altura de cinta menor do que 1,5mm, próteses fixas parciais e totais e pacientes com dificuldade de higiene, também tem uma maior probabilidade de ter a doença. A figura 2 (capturada do artigo) ilustra algumas das conclusões que estão no artigo.
Embora estes resultados nos ofereçam muitos caminhos para se prevenir as alterações peri-implantares, a conclusão mais importante deste estudo é a de que os implantes cone-morse tem níveis de peri-implantite semelhantes aos implantes de conexão hexagonal interna ou externa. Isto nos leva ao entendimento de que a peri-implantite segue aparecendo muito mais quando a higiene é dificultada (próteses fixas e destreza dos pacientes) ou quando o espaço biológico peri-implantar é invadido por implantes e pilares muito largos com cintas metálicas reduzidas, sem levar muito em consideração o tipo de plataforma do implante.
A médio prazo, o artigo concluiu que as doenças peri-implantares foram correlacionadas com fatores inerentes às condições do paciente, plano de tratamento pré-cirúrgico (iatrogenias) e cuidados de manutenção da higiene. O conhecimento dos fatores mencionados e das características clínicas apresentadas no artigo pode ser crucial para a prevenção das doenças peri-implantares e o estabelecimento de um prognóstico superior da terapia de implantes.
Este artigo que avaliou implantes cone-morse seguiu a mesma linha de uma outra publicação nossa, de 2016, que avaliou a peri-implantite em 916 implantes de conexão hexagonal externa da empresa Implacil De Bortoli – São Paulo – Brasil. (Risk indicators for Peri-implantitis. A cross-sectional study with 916 implants. Dalago HR, Shuldt Filho G, Rodrigues M, Renvert S e Bianchini MA. Os resultados desta publicação demonstraram índices baixos de peri-implantite e um excelente comportamento dos implantes com uma taxa de sobrevivência de 98%.
Quando um artigo é dito como o mais citado, significa dizer que outros autores deste mesmo periódico estão citando o artigo como referência conceitual sobre o tema abordado, no caso: mucosite e peri-implantite em implantes cone-morse. O número de citações, muitas vezes, é mais importante do que a própria publicação, pois mostra o nível de relevância do paper, frente outras publicações. Sem falar nas conclusões e resultados que vão direcionando a comunidade científica para os conceitos postulados no referido artigo.
Por fim, vale salientar aqui a importância de realizar pesquisas sérias que possam causar algum impacto na comunidade científica mundial. Ter um artigo que avaliou implantes nacionais, como mais citado de um Journal que tem um fator de impacto 4.2, engrandece a Implantodontia brasileira. O orgulho aumenta mais ainda quando observamos que nenhuma característica específica do fabricante teve alguma influência no aumento da prevalência, tanto da mucosite como da peri-implantite, seguindo a mesma linha de resultados já publicados em 2016 com implantes de conexão hexagonal externa. Dados como estes aumentam a segurança dos implantodontistas e dos pacientes para seguirem utilizando estes implantes.
“Louvado seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai bondoso, o Deus de quem todos recebem ajuda! Ele nos auxilia em todas as nossas aflições para podermos ajudar os que têm as mesmas aflições que nós temos. E nós damos aos outros a mesma ajuda que recebemos de Deus. (2 Coríntios 1:3-4).
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Instagram: @marcoaureliobianchini | @bianchini_odontologia