A difícil missão de “convencer” os pacientes idosos

Quem trabalha com Reabilitação Oral, acaba tendo uma demanda maior de pacientes idosos. Sabemos, também, que é quase impossível não haver implantes envolvidos neste tipo de tratamento reabilitador. Assim, podemos afirmar quase com 100% de certeza que a esmagadora maioria dos pacientes mais idosos tem próteses implantossuportadas que necessitam de manutenções periódicas (terapia de suporte).

Durante o planejamento e execução das reabilitações implantossuportadas em pacientes mais idosos, tanto o paciente quanto os membros da família se mostram bastante otimistas e positivos quanto ao resultado final do tratamento. Afinal, muitos destes pacientes chegam em nossos consultórios com sérias dificuldades de mastigação e fonação, sem falar na estética que geralmente também está comprometida.

Uma vez terminado o tratamento, a maioria destes pacientes também aceita bem e compreende a necessidade das consultas de manutenção da terapia de suporte. Nos primeiros meses – e até mesmo nos primeiros anos pós-tratamento –, estes pacientes se mostram assíduos nas consultas de retorno para manutenção, e também seguem à risca o que recomendamos que eles usem nos quesitos de higiene oral pessoal. Contudo, na medida em que os anos vão passando, esta assiduidade tende a diminuir. Por que será que isto acontece?

É preciso entender que os pacientes mais idosos já chegam em nossos consultórios com uma idade mais avançada e, após alguns anos, esta idade vai aumentando, com a modificação dos padrões da saúde destes clientes. As dificuldades físicas vão aparecendo, bem como as limitações cognitivas e de destreza manual. Sem falar nos problemas emocionais inerentes a qualquer ser humano que vai entrando na reta final da vida.

Outro aspecto que influencia diretamente na colaboração dos nossos pacientes idosos é a presença ou ausência do cônjuge. Um marido ou esposa de muitos anos, dando o apoio no tratamento, faz uma grande diferença no resultado final e na assiduidade de nossas consultas de manutenção. A ausência do cônjuge, seja por falecimento ou doença, muda completamente a aceitação e interesse dos nossos pacientes idosos pelo tratamento.

É incrível a mudança de perfil que observamos nos nossos pacientes mais idosos depois de cinco anos de tratamento. Muitos deles perdem o interesse pelos cuidados com a saúde oral e começam a aparecer com muito biofilme na boca. Além disso, estes pacientes começam a não seguir mais as nossas recomendações quanto a produtos de higiene e não conseguem mais ser assíduos na terapia de suporte. Um comportamento perigoso que pode levar o nosso tratamento ao fracasso.

Por outro lado, existem os clientes idosos supersônicos, que, mesmo com o avançar da idade, continuam extremamente empolgados com o tratamento reabilitador que realizaram e não se cansam de nos elogiar pelo resultado final que nós, dentistas, lhes proporcionamos. Estes pacientes geralmente mantêm um ritmo de vida saudável, cuidando da saúde corporal e mental com muita eficácia. São aqueles que tem uma dieta saudável, fazem exercícios físicos regulares e, principalmente, mantém um convívio social ativo com a família e os amigos. Estes dificilmente apresentam problemas bucais mais graves, pois têm gosto pela vida.

Ser dentista nos tempos modernos que vivemos nos traz a grata satisfação de ver que os seres humanos, de maneira geral, estão ficando mais longevos. A expectativa de vida vem subindo a cada ano que passa, e uma pessoa de 60 anos não pode mais ser considerada como idosa. Esta mudança de espectro na idade dos idosos faz com que aumente a nossa responsabilidade no que oferecer e de como manter os nossos tratamentos.

Entender o perfil de cada idoso e as alegrias e tristezas que os fazem mudar de comportamento é a conduta mais correta para nós, dentistas, tentarmos convencê-los da importância da manutenção correta da saúde oral. Estabelecer uma idade para considerar uma pessoa idosa está sendo cada vez mais difícil, pois os perfis dos nossos clientes variam bastante, tendo eles 60, 70, 80 ou 90 anos. Cabe a nós sentirmos as “dores” dos nossos pacientes e vibrar com as suas alegrias, pois a vida é somente uma fila que anda e, um dia, seremos nós os primeiros dela.

“Está a sabedoria com os idosos? Será que a longevidade traz o entendimento? Com Deus estão a sabedoria e a força; ele tem conselho e entendimento. O que ele derruba não pode ser reconstruído; se ele lança alguém na prisão, ninguém a pode abrir.” (Jó 12:12-14)

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