A suscetibilidade dos indivíduos a doença periodontal

suscetibilidade doença periodontal
(Imagem: Envato Elements)
Marco Bianchini destaca o maior desafio para tratamento efetivo em pacientes com suscetibilidade para a doença periodontal mais destrutiva.

A maioria dos clínicos que trabalham com Periodontia sabe que existe um grupo seleto de pacientes que parecem ter maior suscetibilidade ao desenvolvimento da doença periodontal mais destrutiva. Aqueles que observam e fazem estatísticas nos seus consultórios já notaram que entre 5% e 10% dos pacientes desenvolvem uma periodontite altamente danosa e que leva a perdas ósseas irreparáveis, com a consequente perda precoce de dentes. Contudo, muitos de nós ainda têm dúvidas se essa destruição óssea periodontal se dá pela agressão bacteriana ou por alguma falha nas defesas naturais dos indivíduos que desenvolvem este tipo de periodontite.

De uma maneira geral, sabemos que as bactérias são essenciais para o desenvolvimento de doenças periodontais destrutivas. Isto se comprovou através da resposta positiva ao tratamento, quando removemos o biofilme subgengival, e também por experimentos em animais livres de germes, que demonstraram a necessidade de um microbioma comensal para que ocorra uma periodontite destrutiva com perda óssea.

Também é de conhecimento de muitos que os biofilmes subgengivais, em um quadro de saúde, compreendem microrganismos gram-positivos e algumas poucas variações de bactérias gram-negativas, mas que são numericamente abundantes. Esses microrganismos têm o potencial de se organizar em consórcios, nos quais tipos específicos interagem física e metabolicamente entre si, podendo ou não desencadear o processo de doença destrutiva.

O desenvolvimento da periodontite é acompanhado por profundas mudanças na composição das comunidades bacterianas subgengivais, com o surgimento, em sua maioria, de espécies gram-negativas diferentes daquelas predominantes durante a gengivite e que superam as taxas desses microrganismos quando associados à saúde. A razão pela qual estas mudanças ocorrem tornou-se o maior desafio para se alcançar algum tratamento efetivo para a peridontite mais destrutiva.

Sabe-se que o controle ativo da inflamação em uma doença infecciosa, como a periodontite, contribui para a eliminação da infecção propriamente dita, mas não para a parada da disseminação desta infecção, se ela já estiver em curso. Assim, o monitoramento direto do biofilme associado à lesão revela que o controle da inflamação (resposta do hospedeiro) reverte as alterações do biofilme, com a resolução da disbiose microbiana. Em outras palavras: é o hospedeiro, com a sua forma de reagir ao ataque bacteriano, que vai conseguir promover a suposta cura para este tipo de doença.

A importância da resposta do hospedeiro, através dos diferentes níveis de componentes inflamatórios que este produz, demonstra que não é totalmente verdadeiro o conceito de que a doença periodontal é uma consequência do crescimento de um número relativamente pequeno de “espécies patogênicas”, que se tornam dominantes na doença. Na verdade, a visão mais aceita é a de que o microbioma como um todo está em uma relação bidirecional com a resposta inflamatória do hospedeiro.

Existe um consenso entre os pesquisadores de que parece haver uma ligação direta entre as condições ambientais locais e a quantidade, composição e atividade da microbiota. Por outro lado, cada vez mais evidências demonstram que isso pode ser revertido com o controle ativo da inflamação. No entanto, essas alterações não são observadas com a inibição da inflamação com drogas, incluindo anti-inflamatórios não esteroides, demonstrando uma vez mais que a resistência individual, própria de cada indivíduo, é que vai modular a resposta do hospedeiro ao ataque bacteriano.

A resposta inflamatória do hospedeiro e o microbioma (ataque bacteriano) estão em equilíbrio bidirecional na saúde e em desequilíbrio bidirecional na periodontite. Desta forma, uma resposta inflamatória positiva do hospedeiro, que reaja fortemente ao ataque bacteriano, pode contribuir para alterações do microbioma e a expressão de fatores de virulência bacterianos, fazendo com que ocorra um arrefecimento da doença.

A maioria dos indivíduos produz naturalmente estas respostas positivas, fazendo com que a doença não progrida. Entretanto, outros não conseguem modular suas respostas, e a doença fatalmente progride. Assim, o tratamento ideal, que vem sendo pesquisado, seria não só a eliminação do biofilme, mas também uma ação direta no controle ativo do excesso de inflamação, a fim de modificar as respostas destes hospedeiros suscetíveis, podendo impactar positivamente no manejo da periodontite.

Referências

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  4. Kornman KS, Blodgett RF, Brunsvold M, Holt SC. Effects of topical applications of meclofenamic acid and ibuprofen on bone loss, subgingival microbiota and gingival PMN response in the primate Macaca fascicularis. J Periodontal Res 1990;25(5):300‐7.

“E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: aleluia! Pois já o Senhor Deus todo poderoso reina.” (Apocalipse 19:6)

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