Menos iatrogenias, por favor!

iatrogenias
Figura 1 – Colocação de dois implantes muito próximos um do outro, gerando uma inflamação peri-implantar por desrespeito às distâncias biológicas peri-implantares. Observar a inflamação da mucosa peri-implantar e a ausência de papila entre as duas fixações.
Marco Bianchini conta quais as principais causas de iatrogenias na prática diária da Implantodontia e mostra como evitá-las.

A Implantodontia tem sido umas das especialidades mais beneficiadas pela tecnologia nos últimos anos. Novos desenhos de implantes, novos tratamentos de superfícies de contato com o tecido ósseo, novos componentes protéticos e novas próteses confeccionadas com o auxílio da tecnologia digital têm facilitado a vida dos cirurgiões-dentistas que trabalham com implantes. Entretanto, as iatrogenias em Implantodontia continuam ocorrendo em grande escala.

Obviamente que temos de levar em consideração que o número de cirurgias de implantes realizadas cresce em um ritmo bastante acelerado, e isto aumenta também a proporção de iatrogenias que irão ocorrer. Contudo, mesmo com esta quantidade grande de cirurgias, não se justifica observarmos um número tão grande de erros cometidos por nós, profissionais, que poderiam ter sido evitados. A maioria dos erros ocorre por falta de planejamento adequado. Inacreditavelmente, muitos colegas ainda fazem planejamentos utilizando apenas uma radiografia panorâmica e, quando não, apenas uma periapical.

Este tipo de postura talvez se justificasse alguns anos atrás, quando os exames tomográficos e digitalizados eram disponíveis apenas nas capitais dos estados, e a um custo bastante elevado. Atualmente, quem tem um simples notebook já tem plenas condições de simular a posição de implantes antes de operar o paciente. Sem falar nos custos destas tomografias, que baixaram bastante. Assim, a popularização dos exames pré-operatórios em Implantodontia facilitou o planejamento por parte dos profissionais, e a não realização destes exames pode complicar juridicamente a vida de muitos profissionais que se deparam com insucessos.

Infelizmente, muitos profissionais só executam exames mais detalhados e digitalizados, como uma tomografia, quando o problema aparece. Tenho muitos amigos radiologistas que me contam vários casos desta natureza. São colegas explicando que cometeram iatrogenias, e que não sabem dizer o que pode ter acontecido durante a cirurgia. Todos alegam que o caso parecia ser simples e que não havia necessidade de solicitar uma tomografia no pré-operatório.

Quando o problema acontece, o cirurgião-dentista paga o exame para o paciente e quer ver o resultado imediatamente, para tentar resolver o problema. O paciente, então, fica visivelmente desapontado com o ocorrido e faz perguntas para todos que encontra pela frente. O resultado é uma tremenda ansiedade, que pode ter consequências desastrosas, tanto para o profissional como para o paciente. Na maioria das vezes, os acidentes que ocorrem poderiam ter sido perfeitamente evitados se um planejamento correto tivesse sido executado, utilizando-se todos os recursos de imagem que temos disponíveis hoje em dia. A figura 1, acima, ilustra uma iatrogenia bastante frequente em Implantodontia.

É muito fácil julgar o trabalho do outros quando as iatrogenias não foram feitas por nós, e o paciente aparece em nosso consultório nervoso com o profissional que “gerou” o problema. Contudo, é necessário termos muito cuidado nestas situações. Afinal, quem de nós nunca cometeu iatrogenias? Obviamente que não se deve passar a mão por cima e mascarar o problema. Porém, uma visão crítica imparcial deve ser tomada por nós, a fim de não tomarmos partido sem conhecer exatamente tudo o que aconteceu no referido caso.

Devemos sempre lembrar que os nossos pacientes também visitam outros consultórios, questionando os nossos resultados com outros colegas. Desta forma, a nossa profissão é dinâmica e, a cada situação, podemos estar do outro lado do balcão. Assim, o que vale mesmo é tentarmos ao máximo evitar cometer iatrogenias por negligências de exames pré-operatórios, especialmente os exames de imagem. Vale mais a pena perder os pacientes que não querem pagar estes exames do que executarmos planejamentos pela metade que nos levarão aos insucessos.

“Como você poderá dizer a seu irmão: “Deixe, irmão, que eu tire o cisco que está no seu olho”, se você não repara na trave que está no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu olho e então você verá claramente para tirar o cisco que está no olho do seu irmão.” (Lucas 6:42)

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