Quando temos um quadro de mucosite instalada (inflamação da mucosa peri-implantar sem a perda progressiva do osso de suporte), oportuniza-se a formação de biofilme. São observados números aumentados de algumas espécies bacterianas, como cocos, bacilos móveis e espiroquetas, o que é semelhante à gengivite1. Este rico ecossistema microbiano, dotado de uma complexa estrutura e de grande dinamismo, favorecido pelas estruturas orais, facilita a obtenção de nutrientes e a manutenção das condições físico-químicas, como concentração do íon hidrogênio (pH), o potencial de oxirredução (Eh) e enzimas proteolíticas.
Esta concentração microbiana, bem como a mudança do ecossistema bucal, afeta diretamente o desempenho dos mecanismos de defesa do hospedeiro. Isto propicia a sobrevivência bacteriana, uma vez que estas bactérias se mantêm relativamente estáveis, sobrevivendo a alterações frequentes do meio. Com isso, temos a deflagração de um processo inflamatório na mucosa peri-implantar, conhecido como mucosite. O resultado disto é a mudança da coloração normal desta mucosa, com a presença de um sangramento a sondagem ou espontâneo, além de uma sintomatologia dolorosa e halitose.
Desta forma, o controle do biofilme pelo paciente passa a ser um importante requisito, a fim de se debelar este processo inflamatório. Orientações de higiene oral são fortemente prescritas pelos profissionais, além de um controle químico da placa, feito por soluções antissépticas, que podem funcionar como auxiliares no combate a presença exagerada de microrganismos na região peri-implantar. Não é a toa que muitos profissionais observam diariamente este sangramento peri-implantar, constatando que a mucosite é bastante frequente em nossas clínicas.
Existe uma grande quantidade de artigos científicos descrevendo os possíveis tratamentos da mucosite por meio de diferentes métodos de remoção de biofilme, instruções de higiene oral e terapias antissépticas ou até mesmo antibioticoterapia. No entanto, nenhum deles foi eleito como referência ou padrão ouro em seu tratamento2. Neste contexto, a clorexidina e os agentes oxigenantes antiplacas têm surgido como os compostos mais utilizados no tratamento da mucosite, pois parecem contribuir para a supressão e controle dos microrganismos implantopatogênicos em níveis de equilíbrio suficientes, para que a condição de saúde peri-implantar se reestabeleça3.
A terapia antisséptica não vem como alternativa a terapia não-cirúrgica, mas sim como coadjuvante no processo de cura da mucosite. A sua finalidade é potencializar a redução de sinais clínicos da inflamação e o acúmulo de biofilme, melhorando as condições teciduais dos pacientes diagnosticados com mucosite.
Desta forma, procurando identificar qual seria a melhor solução antisséptica para o tratamento da mucosite, alguns autores4 testaram o efeito de bochechos com antissépticos que em sua formulação continham oxigênio ativo, frente a clorexidina 0,12% (controle positivo), água (controle negativo) e fluoreto de amina e estanhoso. Os resultados mostraram que biofilmes tratados com oxigênio ativo em sua formulação foram capazes de causar inúmeras mudanças na composição microbiológica do sítio, no metabolismo e na viabilidade bacteriana, chegando a uma redução de aproximadamente 40% de unidades formadoras de colônias bacterianas.
Outros pesquisadores5 também observaram reduções dos parâmetros clínicos de inflamação peri-implantar em pacientes com mucosite, em que notou-se uma mudança positiva e significativa, após um mês de tratamento, com compostos a base de oxigênio ativo. Entretanto, essas mudanças positivas também foram observadas em outros estudos6,7, em que foram utilizados o gluconato de clorexidina a 0,12%,. Estes achados não nos indicam qual seria a melhor solução antisséptica para o tratamento da mucosite, mas nos dão a liberdade de escolha entre mais de um produto.
Ainda não há evidências científicas suficientes dos reais benefícios dos antissépticos orais no tratamento das doenças peri-implantares, especialmente a mucosite, quando utilizado como tratamento isolado. A maioria dos autores7 considera indispensável a remoção mecânica do biofilme por parte do profissional e do paciente como sendo a principal terapia responsável pelo retorno dos tecidos a normalidade e saúde peri-implantar.
O uso isolado das soluções antissépticas parece ainda não ser capaz de eliminar a formação do biofilme. Assim, estas soluções entrariam como auxiliares deste tratamento não cirúrgico da mucosite peri-implantar. Pesquisas futuras são necessárias para provar que a terapia não-cirúrgica, por meio do tratamento químico com uso de antissépticos, pode ser um colaborador viável e funcional no tratamento de alterações peri-implantares. Enquanto estes resultados não são publicados, seguimos fazendo a remoção mecânica do biofilme e usando as soluções antissépticas como auxiliares deste processo.
Referências:
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“E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida. Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho.” (Apocalipse 21:5-7)
Marco Bianchini
Professor associado IV do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia
Colaboração:
Thalles Yurgen Balduino
Mestrando em Implantodontia – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).