Data de publicação: 18/09/2020
Uma reportagem publicada no dia 8 de setembro no jornal The New York Times traz o depoimento de uma cirurgiã-dentista, a Dra. Tammy Chen, especialista em Prótese Dentária e proprietária da Central Park Dental Aesthetics, em Midtown, Manhattan. Esta nossa colega de Nova York atesta que, ao reabrir a sua clínica, depois do lockdown por conta da pandemia de Covid-19, observou um fenômeno interessante. “O que está acontecendo?”, questionou. “Quando reabri meu consultório dentário no início de junho, as fraturas dentais começaram a aparecer. Pelo menos uma por dia, todos os dias em que estive trabalhando. Já vi mais fraturas dentárias nas últimas seis semanas do que nos seis anos anteriores. Em média, estou vendo três a quatro fraturas dentárias por dia. Em dias pesados, são mais de seis fraturas”, relatou.
Uma resposta óbvia para isso é, sem dúvida nenhuma, o estresse. De pesadelos induzidos por Covid até síndrome do pânico e “coronafobia”, não é segredo que a ansiedade relacionada à pandemia está afetando nossa saúde mental coletiva. Esse estresse, por sua vez, leva ao aperto e ranger de dentes, o que pode levar à fratura destes elementos dentários. Além disso, as dores faciais, nos músculos da mastigação, bem como na região cervical, estão evidentemente em alta, tanto em Nova York como no Brasil.
A reportagem atesta que um número sem precedentes de norte-americanos, de repente, está trabalhando em casa, muitas vezes onde sequer podem montar um local de trabalho improvisado: no sofá, empoleirado em uma banqueta ou enfiado em um canto do balcão da cozinha. Estas posições corporais incômodas podem fazer curvar os ombros para a frente, curvando ainda mais a coluna em algo semelhante a uma letra C. O resultado desta má postura durante o dia pode facilmente se traduzir em um problema de bruxismo à noite.
A Dra Tammy explica que a maioria de nós não está tendo o sono reparador de que precisamos. “Desde o início da pandemia, muitos pacientes descrevem uma súbita inquietação e insônia. Por causa do estresse do coronavírus, o corpo permanece em um estado de excitação pronto para a batalha, em vez de descansar e recarregar. Toda essa tensão vai direto aos dentes, que sofrem uma sobrecarga gigantesca”, observou.
Assim como a nossa colega de Nova York, eu e a minha equipe aqui de Florianópolis (SC) também temos observado este aumento substancial de dores musculares relacionadas com o bruxismo, além das fraturas dentárias resultantes deste apertamento desordenado. Estamos tratando estas situações com placas miorrelaxantes e toxina botulínica. No entanto, existem mais algumas medidas que podem ser interessantes e que foram ressaltadas pela Dra. Tammy nesta reportagem do New Yotk Times. Confira:
• Uma vez que muitos de nós continuaremos trabalhando em casa durante meses, é imperativo criar uma estação de trabalho adequada. O ideal é que, quando sentado, os ombros fiquem sobre os quadris e as orelhas sobre os ombros. As telas dos computadores devem ficar no nível dos olhos; Apoie seu monitor ou laptop em uma caixa ou pilha de livros, se você não tiver uma cadeira ou mesa ajustável.
• Em nossos novos escritórios domésticos, não é incomum rolar para fora da cama, encontrar um sofá e sentar-se nove horas por dia. Tente ficar um pouco de pé, sempre que possível, e incorporar mais movimentos. Use cada pausa para ir ao banheiro ou um telefonema como uma oportunidade para dar mais passos, não importa quão pequena sua casa ou apartamento possa ser.
• Mexa-se como um peixe. Deite-se no chão de costas, com os braços estendidos acima da cabeça, e mexa suavemente os braços, ombros, quadris e pés de um lado para o outro. O objetivo é descomprimir e alongar a coluna, bem como liberar e aliviar parte dessa tensão e pressão. Antes de dormir, reserve cinco minutos para aquietar sua mente. Feche os olhos, inspire e expire pelo nariz, procurando um relaxamento total.
Estas dicas da Dra. Tammy são importantes, mas acredito a nossa colega de Nova Yorque não falou que o principal. Todas estas terapias, inclusive as nossas, odontológicas, estão tratando apenas os sintomas. Na verdade, a grande causa de todos estes problemas é que o ser humano não foi criado para viver isolado. Os reflexos sentidos nos nossos próprios corpos são apenas as consequências deste isolamento insano que disseminou uma série de outras doenças, que estão nos afligindo fortemente. A origem destas sequelas está em nossas mentes, que clamam pela volta do convívio e harmonia social.
“E abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e disse-lhes: sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra.” (Genesis 9,1)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia