Data de publicação: 02/10/2020
A internet, bem como as redes sociais, nos permite acessar os mais diversos conteúdos de Odontologia. Com apenas um clique e algumas palavras de busca, nós conseguimos, muito rapidamente, encontrar o que estamos procurando. Estas ferramentas são muito úteis, principalmente quando estamos enfrentando casos complicados, que exigem um planejamento delicado. Nestas horas, encontrar casos semelhantes, que já foram publicados por outros colegas, ajuda bastante a solucionar situações clínicas desafiadoras.
O problema é que a maioria esmagadora das publicações nas redes sociais – com algumas raras e honrosas exceções – só mostra casos lindos e maravilhosos. São resoluções perfeitas, em que o cirurgião-dentista que resolveu o caso mais parece um super-herói do que uma pessoa comum. Estes tipos de postagens acabam deixando o leitor clínico ainda mais angustiado com o seu trabalho, na tentativa de resolver os problemas dos seus pacientes e ainda ser bem remunerado por isso.
Dentro deste contexto, a região anterior superior parece ser a mais desafiadora sob todos os aspectos, pois reabilitar esta área em pacientes severamente comprometidos nem sempre é fácil. No dia a dia clínico, às vezes não se consegue fazer um tratamento odontológico integrado, principalmente com movimentações ortodônticas que melhorariam sobremaneira os resultados finais. Isto ocorre porque os pacientes têm muita pressa em terminar e nos pressionam por resultados rápidos.
Foi pensando nestes desafios e dilemas, que vivemos diariamente em nossas clínicas, que eu resolvi trazer aqui um tratamento que ilustra bem estas situações. As Figuras 1 a 6 descrevem o caso clínico (clique nas imagens para ampliá-las e conferir as respectivas legendas).
Em uma visão crítica, poderíamos identificar uma série de “imperfeições” no resultado estético final deste caso. Tamanho das coroas, diferenças nas alturas cervicais da gengiva e harmonia final do sorriso talvez não estejam nos padrões das redes sociais. Contudo, a estabilidade marginal dos tecidos moles e duros, após três anos, demonstra saúde dos tecidos per-implantares, com ausência de inflamação e de perdas ósseas progressivas. A paciente encontra-se totalmente satisfeita e eu também.
Embora os desafios de um tratamento odontológico “perfeito” apareçam frequentemente em nossos consultórios, a maioria de nós, cirurgiões-dentistas, ainda consegue entregar reabilitações satisfatórias, que representam a realidade de grande parte dos profissionais da Odontologia. Quem faz clínica todos os dias, o dia inteiro, sabe que o que se vive dentro das quatro paredes do consultório é bem diferente do que se publica nas redes. Nem só de casos perfeitos vive um cirurgião-dentista.
Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente. Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois “quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo?” Nós, porém, temos a mente de Cristo. (1 Coríntios 2,14-16)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia