Descontaminação química de implantes com peri-implantite

Figura 1 – A. Desbridamento do retalho aberto por curetas plásticas. B. Descontaminação química da superfície exposta do implante obtida com ácido cítrico a 50% por 3 minutos. C. Visão clínica de um implante após descontaminação mecânica e química. D. Retalho de mucosa peri-implantar posicionado apicalmente e sutura.

A descontaminação química de implantes acometidos por peri-implantite tem mostrado uma melhora significativa nos resultados após o tratamento e parece ajudar a manter os implantes saudáveis ao longo do tempo. A utilização de agentes químicos resultam, principalmente, em uma redução no índice de sangramento, principalmente quando se associa o controle profissional e periódico da placa bacteriana, em conjunto com as instruções de higiene bucal do paciente.

Estes resultados estão de acordo com algumas revisões de literatura que relataram uma diminuição no índice de placa, sangramento a sondagem, supuração, profundidade de sondagem e perda óssea ao longo de cinco anos, após cirurgia de retalho de acesso, remoção de tecido de granulação e descontaminação da superfície do implante. Por outro lado, outros ensaios clínicos randomizados descritos na literatura demonstraram que os agentes antissépticos (ou seja, clorexidina 0,20% ou solução salina) usados ​​para descontaminação do implante durante a terapia cirúrgica não tiveram efeito tão significativo no resultado do tratamento. 

Quem costuma pesquisar artigos na literatura, a fim de encontrar a melhor conduta clínica para atender os seus pacientes, já sabe que, na maioria das vezes, é difícil obter um consenso sobre qual técnica ou produto se utilizar. A descontaminação química de implantes durante o tratamento cirúrgico da peri-implantite acaba não fugindo desta regra. Basta pesquisar a fundo que iremos encontrar uma série de autores relatando que a descontaminação química deve seguir sempre o desbridamento mecânico e que, dentre as substâncias químicas (água oxigenada, ácido cítrico, cloreto de sódio, cloridrato de tetraciclina e gluconato de clorexidina), não há uma que tenha desempenho melhor que a outra.

Particularmente, eu acredito muito na descontaminação química de implantes com peri-implantite, desde que um bom acesso as espiras contaminadas seja executado e que todas estas espiras tenham sido adequadamente limpas de placa, cálculo e tecidos de granulação que estejam nelas aderidas. Somente assim conseguiremos aplicar o agente químico de forma adequada, a fim de que o mesmo seja bem incorporado a superfície do implante. A figura 1, acim,a ilustra um caso de tratamento de peri-implantite, utilizando-se o ácido cítrico como agente químico descontaminante. 

Eu costumo usar o ácido cítrico, principalmente devido ao seu histórico positivo na descontaminação de raízes dentárias com doença periodontal. O ácido cítrico também vem sendo estudado no tratamento da peri-implantite e é escolhido devido aos bons resultados clínicos relatados na literatura científica e a sua capacidade de aumentar a adesão do coágulo às superfícies dos implantes de titânio. 

Muitos pesquisadores costumam executar o uso do ácido cítrico combinado com outras técnicas. A maioria deles faz a abertura do retalho, associando a implantoplastia ou uma técnica regenerativa. Todas estas técnicas são sempre precedidas da descontaminação mecânica (raspagem a campo aberto removendo-se todo os agentes físicos que estão contaminando as espiras que perderam osso), seguida de descontaminação química com a aplicação do ácido cítrico. Mas o clínico pode também optar apenas pelas descontaminações mecânica e química, sem implantoplastia ou técnicas regenerativas, como está ilustrado na figura 1. 

Sabemos que, até o momento, não há modalidade de tratamento com melhor ou pior desempenho que as demais para o tratamento da peri-implantite. Sabemos também que há uma necessidade urgente de estudos com amostras maiores com períodos de acompanhamento mais longos, a fim de elucidar estas dúvidas. Contudo, esta ausência de consenso na literatura não deve nos provocar uma “paralisia cerebral”, como aconteceu nos tratamentos da Covid-19.  

É obrigação do profissional que faz um diagnóstico de peri-implantite oferecer algum tipo de tratamento a este paciente. Não podemos apenas diagnosticar uma doença e mandar o paciente de volta para casa, com uma prescrição de analgésico em caso de dor ou febre, recomendando que ele nos procure somente se a inflamação ao redor do implante piorar. O resultado disso será o paciente chegar em nossas clínicas com o implante na mão.  

Assim, devemos tratar a peri-implantite, promovendo a mais completa descontaminação do implante (mecânica e química). Os agentes químicos podem e devem ser utilizados, pois, sabidamente, não pioram o quadro e nem oferecem riscos ao paciente. Desta forma, considero o não uso de um descontaminante químico após o desbridamento mecânico no tratamento de uma peri-implantite o mesmo que se tomar um banho sem usar sabonete.

Referências:

  1. HR Dalago, V Perrotti, SF Torres de Freitas, CF Ferreira, A Piattelli, F Iaculli, MA Bianchini. Prospective longitudinal comparison study of surgical therapies for peri-implantitis: 3-year follow-up. Australian Dental Journal 2019; 0: 1–9 doi: 10.1111/adj.12693
  2. Renvert S, Polyzois I. Treatment of pathologic peri-implant pockets. Periodontol 2000 2018;76:180–190.
  3. Schwarz F, John G, Mainusch S, Sahm N, Becker J. Combined surgical therapy of peri-implantitis evaluating two methods of surface debridement and decontamination. A two-year clinical follow up report. J Clin Periodontol 2012;39:789–797.

“Das profundezas clamo a ti, Senhor. Escuta, Senhor, a minha voz; estejam alertas os teus ouvidos às minhas súplicas. Se tu, Senhor, observares iniquidades, quem, Senhor, poderá escapar? Mas contigo está o perdão, para que sejas temido. Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra.” (Salmos 130:1-5)

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