Desenvolvimento do sulco gengival

sulco gengival
Figura 1 – Componentes anatômicos dos tecidos epitelial e conjuntivo dento-gengivais. (Desenho executado pela acadêmica Laura Quadros da disciplina de Peirodontia I do curso de graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina).
Marco Bianchini conta que o entendimento correto do sulco gengival pode ajudar os clínicos na compreensão das doenças peri-implantares.

O sulco gengival é um importante componente anatômico que está presente ao redor de dentes e implantes. Este sulco consiste de um espaço raso em forma de “V”, formado entre o dente e a gengiva. O sulco localiza-se coronalmente a aderência do epitélio juncional e está limitado de um lado pelo dente e do outro pelo epitélio do sulco (ver figura 1, acima). A extensão coronária do sulco gengival corresponde a margem gengival. Entender corretamente como ele é formado pode ajudar os clínicos na compreensão da instalação de doenças como a gengivite, periodontite, mucosite e peri-implantite.

O sulco gengival é formado quando o dente irrompe na cavidade oral. Neste momento, o epitélio reduzido do órgão do esmalte une-se com o epitélio oral, transformando-se em epitélio juncional. Este epitélio juncional é a última barreira epitelial antes de encontramos o tecido conjuntivo propriamente dito em direção apical. Tanto o epitélio juncional como o epitélio do sulco formam uma larga faixa, aderida a superfície dentária. Embora pareça ser rápido, o processo de completa formação do sulco gengival leva por volta de 1 a 2 anos. A figura 1 ilustra a formação do sulco gengival e suas adjascências.

Logo abaixo do epitélio juncional, vamos encontrar o tecido conjuntivo gengival. Os principais componentes do tecido conjuntivo são, aproximadamente, 60% de fibras colágenas (fibroblastos) e 35% de vasos e nervos e matriz. O tecido conjuntivo da gengiva marginal é composto de colágeno denso, possuindo um forte sistema de feixes de fibras colágenas conhecido por fibras gengivais. Estas fibras têm a função de comprimir a gengiva marginal firmemente de encontro ao dente, fornecer a rigidez necessária para suportar as forças mastigatórias sem ser descolada da superfície dos dentes e unir a gengiva marginal livre com o cemento radicular e a gengiva inserida adjascente. As fibras gengivais estão distribuídas em quatro grupos de fibras: dentogengivais, circulares, transeptais e dentoperiósteas.

A formação do sulco gengival peri-implantar segue aproximadamente os mesmos padrões que ocorrem nos dentes, mas com algumas diferenças interessantes. Similar à gengiva, a mucosa peri-implantar consiste em um epitélio oral ceratinizado contínuo com o epitélio do sulco e com o epitélio juncional, medindo cerca de 2mm e inserido na superfície do titânio, através da uma lâmina basal e de hemidesmossomos. A principal diferença entre implantes e dentes seria a ausência de um ligamento periodontal em implantes, sendo que o sulco peri-implantar só vai estar completamente formado quando a prótese sobre o implante estiver totalmente em função.

As principais diferenças entre a mucosa peri-implantar e a gengiva marginal residem na composição do tecido conjuntivo, no alinhamento dos feixes de fibras colágenas e na vascularização. Quando comparada com a gengival marginal, a lâmina própria da mucosa peri-implantar apresenta algumas diferenças quanto à proporção de colágeno e fibroblastos. Na região peri-implantar, o tecido conjuntivo apresenta características de tecido cicatricial, sendo constituído por poucas células e muitas fibras colágenas. Estas diferenças parecem dar características de maior fragilidade ao sulco peri-implantar quando recebe o ataque bacteriano.

O sulco gengival em dentes e implantes confere características de proteção as demais estruturas anatômicas do periodonto que se encontram em uma posição mais apical. Em um periodonto totalmente normal, sem qualquer sinal de inflamação ou presença de biofilme, a profundidade do sulco gengival é praticamente zero. Entretanto, um sulco com profundidade um pouco acima de zero também pode ser encontrado em condições de normalidade. Essa variação pode ocorrer de acordo com variações anatômicas. Em média, o sulco gengival atinge no máximo 1mm.

Quando realizamos uma reabilitação oral, seja ela sobre dentes ou implantes, estas dimensões do sulco gengival devem ser totalmente preservadas. A modificação destas dimensões vai, fatalmente, desencadear um processo inflamatório na área, cuja consequência mais provável será uma reabsorção óssea desequilibrada, que no médio ou longo prazo pode levar a perda de dentes ou implantes. Assim, a determinação e manutenção clínica da profundidade do sulco gengival, tanto em dentes como em implantes, é um importante parâmetro para a prevenção da saúde gengival, periodontal e peri-implantar.

Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, que deleita-se no seu caminho. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a sua mão. (Salmos 37:23,24

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