Já faz parte da rotina dos especialistas em Odontologia solicitarem exames laboratoriais, a fim de averiguar com mais detalhes as condições gerais de saúde dos pacientes que estamos tratando. Através da anamnese e do exame clínico, o cirurgião-dentista faz a identificação inicial de algum problema sistêmico que poderá comprometer os resultados do tratamento odontológico que será realizado. Assim, os relatos oriundos do próprio paciente a respeito de doenças sistêmicas, associados às suspeitas detectadas pelo profissional por algum sinal clínico mais evidente, deverão ser investigados por meio da solicitação de exames laboratoriais específicos.
A avaliação ideal do estado geral de um paciente deve ser feita em conjunto com o profissional médico, com o intuito de otimizar a solicitação correta de exames laboratoriais. Contudo, o cirurgião-dentista tem perfeita autonomia para solicitar os exames que achar necessários para delinear o seu diagnóstico corretamente e estabelecer o plano de tratamento. Os exames mais comumente solicitados em Periodontia e Implantodontia são coletados no sangue (hemograma completo, coagulograma, glicemia, avaliação de vitaminas, enzimas etc.). Além destes, o exame de urina e as avaliações cardiovasculares podem ser necessárias através de exames de ultrassom específicos para o coração e outros órgãos de interesse clínico.
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Em relação à avaliação cardiovascular, o eletrocardiograma (ECG) é o mais conhecido e o mais pedido exame de avaliação cardiológica. Embora não possa ser tomado como única via no diagnóstico cardiovascular, este exame pode ser um bom início para a avaliação feita pelos profissionais da Odontologia. De simples e rápida execução, o ECG é bastante requisitado, já que consegue identificar problemas e deficiências cardíacas que podem ser fatais se não diagnosticadas com antecedência. Caso seja observada alguma alteração no eletrocardiograma, o cirurgião-dentista deverá encaminhar o paciente para uma avaliação cardiovascular completa, feita por um médico cardiologista.
O exame parcial de urina é outro exame bastante solicitado pelos dentistas. Geralmente, ele é dividido em três partes: análise das características físicas, características químicas e do sedimento urinário. Trata-se de um teste laboratorial que faz a análise da urina do paciente para ver de forma microscópica as células, bactérias e cristais eventualmente presentes. É indicado para saber como está o funcionamento dos rins, podendo observar possíveis alterações que indicam a presença de doenças. A infecção urinária é o distúrbio mais frequentemente diagnosticado com este exame. Porém, também é possível suspeitar de outras doenças, como diabetes, problema renal incipiente, alteração na capacidade de concentração renal e hipertensão, entre outras.
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Outro dos exames laboratoriais muito interessantes que deveriam ser solicitados com mais frequência pelos profissionais da Odontologia é o da proteína C-reativa. Também conhecida como PCR, é uma proteína produzida pelo fígado que, geralmente, está aumentada quando existe algum tipo de processo inflamatório ou infeccioso acontecendo no corpo, sendo um dos primeiros indicadores a estar alterado no exame de sangue nessas situações. Essa proteína é muito utilizada para avaliar a possibilidade de existir alguma infecção ou processo inflamatório não visível, como apendicite, aterosclerose ou suspeita de infecções virais e bacterianas, por exemplo.
O exame de PCR também pode ser usado para avaliar o risco que uma pessoa tem de desenvolver doenças cardiovasculares, já que, quanto mais alto o resultado, maior é o risco de apresentar este tipo de doença. Este exame não aponta exatamente qual inflamação ou infecção a pessoa possui, mas o aumento nos seus valores indica que o corpo está combatendo algum agente agressor. Assim, o PCR pode ser um belo indicativo para solicitarmos uma maior e mais profunda avaliação cardiovascular, o que geralmente é feito pelo médico cardiologista.
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Torna-se importante salientar que a solicitação exagerada de exames complementares, independentemente da idade, estado físico ou peso do paciente, não deve ser realizada como rotina. Os exames devem ser solicitados aos pacientes que realmente têm indicação, de acordo com o histórico de saúde geral de cada indivíduo e do que foi observado durante o exame clínico e anamnese.
Levando-se em consideração a grande relação entre doenças sistêmicas e as doenças bucais, especialmente as periodontais, o profissional da Odontologia não somente deverá saber quando solicitar os exames laboratoriais, mas também interpretá-los com propriedade e de forma adequada para realizar um correto diagnóstico. Vale lembrar que a interpretação dos exames laboratoriais, bem como as medidas a serem tomadas antes dos procedimentos, em função dos resultados dos exames, deve ser sempre discutida com o médico do paciente.
“Digam agora os que temem ao Senhor que a sua benignidade dura para sempre. Invoquei o Senhor na angústia; o Senhor me ouviu, e me tirou para um lugar largo. O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem. O Senhor está comigo entre aqueles que me ajudam; por isso verei cumprido o meu desejo sobre os que me odeiam. É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem. É melhor confiar no Senhor do que confiar nos príncipes.” (Salmos 118:4-9)
Marco Bianchini
Professor associado IV do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
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