Você sabe que este material é estético (quando bem aplicado).
Você sabe que este material é sensível (frágil).
Você sabe que este material precisa de espaço (para funcionar).
Nós, profissionais da área, precisamos dormir e acordar sempre com estas três características na cabeça. O ponto é que, ao longo dos anos, tivemos dezenas de formulações que entraram e saíram do mercado. Certamente você usou todas, ou pelo menos recebeu tratamentos já executados que possuíam diversos tipos de porcelanas em função na mesma cavidade bucal.
Finalmente, deve se recordar da trabalheira que foi criar uma área de reparo (com resina composta) quando nada mais era possível ou tentar cortar com brocas/fresas/discos algumas cerâmicas de alta resistência que estavam fora da posição de assentamento (é, nem todos os papéis de articulação são mágicos).
Mas eu me esqueci. A prótese sobre implantes osseointegrados trouxe outra modalidade restauradora: a coroa metalocerâmica (unitária ou parcial) parafusada sobre os implantes, seja diretamente na porção coronal (sobrefundição com UCLA personalizado) ou sobre um componente protético pré-fabricado de liga metálica compatível. Ambas as modalidades carregavam um elemento novo: o canal do parafuso, que não existe em um preparo dentário típico para coroas totais.
Mas daí pode-se dizer também que, sobre um componente metálico pré-fabricado personalizado, é possível fazer uma coroa metalocerâmica típica para cimentação. Sim, concordo 100%. Mas o pilar continua metálico e sem ligamento periodontal.
Metal e dentina possuem propriedades físicas e químicas completamente diferentes. Escolha um bloco de madeira e um bloco de ferro. Agora, coloque um objeto sobre cada um e golpeie-o. O que acontece na madeira? O que acontece no metal?
Mesmo assim, na hora de cimentar uma coroa metalocerâmica, você usaria fosfato de zinco nas duas situações de pilares? E o ionômero de vidro? E o cimento resinoso? Pegue os mesmos blocos de madeira e ferro, mas agora usando um truque antigo: coloque uma toalha sobre cada bloco e golpeie um objeto. O que acontece?
Realmente só importa a geometria do preparo (pilar protético)? E, finalmente, ter um canal como receptáculo do parafuso mudaria tudo? Obviamente, com o implante mal posicionado, a espessura da cerâmica (aplicada sobre a coroa) ficará diferente: ou na superfície vestibular, ou na lingual, ou na superfície oclusal. E, assim, prever o comportamento deste tipo de configuração parafusada na boca será impossível.
E, para colocar mais lenha da fogueira: estamos há muito tempo tentando encontrar na literatura um “material interessante” para selar este canal.
Paulo Rossetti
Editor científico de Implantodontia da ImplantNews.
Orcid: 0000-0002-0868-6022.