Continue sendo um dentista honesto

Após uma disputa eleitoral que dividiu o País, Marco Bianchini faz uma reflexão sobre a atuação do cirurgião-dentista.

As eleições presidenciais que ocorreram no último domingo mexeram com os ânimos de todo o Brasil, com uma clara divisão sobre ideias de País. Desta forma, é impossível não contextualizar o resultado do pleito com a nossa profissão, com um resultado das urnas que passou alguns recados para todos nós. Afinal, moramos na terra do “jeitinho”, onde muitos querem ser mais espertos.

Trazendo para o nosso dia a dia de cirurgião-dentista, antes de qualquer coisa, é importante termos claro que alguns princípios devem ser sempre inegociáveis. Devemos seguir nossa atuação profissional – e pessoal – com honestidade e sempre buscando fazer o correto, independente da conduta de nossos colegas.

Mesmo que a sua atuação correta pareça não ser exemplo para ninguém, com outras pessoas escolhendo outros caminhos, siga cumprindo suas obrigações. Pague os seus impostos, assim como todos os seus funcionários e fornecedores, de maneira correta, e gere emprego e renda direta – e indireta – para várias pessoas. Mesmo que outros colegas continuem errando e, ainda assim, ostentando carros e viagens de luxo, continue explicando aos seus filhos que ainda vale a pena ser honesto.

Se você é professor, como eu, faça um esforço e tente continuar explicando aos seus alunos que ainda vale a pena abrir o seu próprio negócio no Brasil. Fale para eles que vale a pena abrir um consultório próprio, pegar um financiamento para equipar a sua sala, levar dez anos para quitar tudo, pagar todas as taxas e impostos corretamente e, finalmente, ter algum tipo de lucro. Diga para os seus alunos não darem importância para aqueles que escolheram outro caminho, como os que se “encostaram” em algum emprego político.

Quando você estiver planejando um caso, continue pensando no paciente e no que o seu tratamento trará de benefícios reais para a saúde geral e bucal daquele ser humano que sentou na sua cadeira. Não dê importância aos seus colegas, que extraem dentes hígidos para colocar implantes, argumentado que este é o melhor caminho para uma estética melhor e uma mastigação mais correta. Não se sinta constrangido quando, em um congresso, você assistir à palestras destes seus colegas, mostrando casos fantásticos, que renderam muito dinheiro, mesmo sabendo que muitos destes pacientes já bateram na porta do seu consultório, com a boca cheia de peri-implantite e com um arrependimento que estampa nos olhos mareados por terem sido enganados.

Continue firme nos seus propósitos, mesmo sabendo que os mesmos dentistas que extraíram aqueles dentes hígidos para colocar implantes estão agora extraindo os implantes que eles mesmos colocaram, para recolocar novos implantes mais modernos. Fique tranquilo e siga no caminho da verdade, mesmo que estes pacientes estejam concordando com este novo planejamento feito pelo seu colega e que ainda o considerem um grande salvador da pátria. Não se abale, continue firme nos seus propósitos, pois um dia vai valer a pena.

Mesmo que tudo pareça errado, continue tentando acreditar na Justiça do seu país, afinal, somos garantistas e benevolentes. Um dentista que tenha errado um pouco – ou muito –, merece ser julgado nos locais corretos, pois, muitas vezes, pode ter sido prejudicado por algum juiz suspeito. Assim, o benefício da dúvida deve imperar. Lembre-se que poderia ter sido você ali, naquele banco dos réus, que mesmo depois de errar e negligenciar seus pacientes, ainda teria a chance de se defender dizendo que não sabia, ou culpando terceiros.

Apesar de tudo, não podemos desistir de ser honestos. Não iremos perder a esperança. Como disse o profeta Habacuc: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na videira; ainda que a colheita da oliveira decepcione, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas desapareçam do aprisco, e nos currais não haja mais gado, mesmo assim eu me alegro no Senhor, e exulto no Deus da minha salvação”. Queridos, mantenham-se firmes, não estamos sozinhos!

“Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça, prostrou-se em terra e adorou a Deus. E disse: — Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei. O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor! Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.” (Jó 1:20-22)

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