Na semana passada, realizou-se no Centro de Convenções Rebouças, o Meeting da empresa Implacil – Osstem. Foi um evento repleto de novidades tecnológicas com novos produtos sendo lançados. A maioria das palestras abordou temas relacionado com inovações. Menos a minha, pois eu escolhi falar do comportamento dos implantes mais antigos, que já estão há muitos anos em função. Olhando para os resultados que temos pesquisado e publicado1 sobre o comportamento desses implantes, eu acabo fazendo esta reflexão: será que aqueles designs antigos ainda funcionam?
Para responder este questionamento, eu fui atrás do histórico da empresa Implacil-Osstem, que antes da incorporação feita pela empresa sul-coreana Osstem se chamava Implacil De Bortoli. Na minha pesquisa sobre este histórico da Implacil, eu encontrei um folder de 1987 (Figura 1), que ofertava um tipo de implante com um design mais antigo: o implante se chamava Universal II e, olhando para o seu design, nós conseguimos observar alguns pontos interessantes relativos ao comportamento peri-implantar.
Ao observarmos o design do implante que está no folder, identificamos um corpo cilíndrico, que não está sendo mais muito utilizado pela maioria das empresas. Além disso, também identificamos na parte mais coronária do implante um “pescoço” liso avantajado, que fazia parte de todo o corpo do implante e deveria ser inserido totalmente no osso. Como será que se comportou este implante ao longo das décadas, desde 1987?
A resposta a esta pergunta, feita no parágrafo anterior, veio através dos resultados das nossas pesquisas de avaliação da sobrevivência e do comportamento peri-implantar no longo prazo1. Nos nossos achados, nós conseguimos descobrir e comprovar que estes implantes davam muito certo e, muitos deles, estão ainda em boca, funcionando perfeitamente. Para ilustrarmos uma dessas situações, as figuras 2 a 5 demonstram um caso de implantes Universal II com 14 anos em função.
Este caso é um dos muitos casos que publicamos em 20161, onde demonstramos que implantes com designs mais antigos tiveram uma taxa de sucesso e sobrevivência muito interessante, com baixos níveis de peri-implantite. Estes achados foram muito importantes para a sedimentação de alguns conceitos de peri-implantite, relacionados com o design dos implantes. Atualmente, todos nós usamos implantes cônicos, que têm o seu pescoço ou pilar protético mais estreito do que o corpo do implante, muito semelhante aos implantes Universal II que demonstramos no caso de hoje.
Acredito que as inovações científico-tecnológicas nos ajudam muito na resolução dos nossos casos de consultório. Entretanto, vale lembrar que a maioria dessas inovações se baseiam nos resultados de longo prazo dos implantes com designs mais antigos. Desta forma, não devemos nunca menosprezar a Implantodontia “raiz”, que ainda pode ser realizada em várias situações. E, respondendo a pergunta feita no título desta coluna: sim, os implantes com designs mais antigos funcionam muito bem.
Referência:
1 – Risk indicators for Peri-implantitis. A cross-sectional study with 916 implants. Dalago HR, Schuldt Filho G, Rodrigues MA, Renvert S, Bianchini MA. Clin Oral Implants Res. 2017 Feb;28(2):144-150. doi: 10.1111/clr.12772. Epub 2016 Jan 11. PMID: 26754342
“O que aconteceu antes vai acontecer outra vez. O que foi feito antes será feito novamente. Não há nada de novo neste mundo.” (Eclesiastes 1:9)
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Instagram: @marcoaureliobianchini | @bianchini_odontologia