As lesões endo-peridontais – também comumente chamadas de lesões endo-perio – são condições clínicas que envolvem a polpa e os tecidos periodontais e podem ocorrer em formas agudas ou crônicas. Quando estas lesões estão associadas a um evento traumático ou iatrogênico recente, como fratura ou perfurações radiculares, a manifestação mais comum é um abscesso acompanhado de dor.
Os sinais e sintomas mais comuns associados a um dente afetado por uma lesão endo-perio são bolsas periodontais profundas que atingem ou se aproximam do ápice, com resposta negativa ou alterada aos testes de vitalidade pulpar. Os outros sinais e sintomas relatados, em ordem de prevalência, são: reabsorção óssea na região apical ou furca, dor espontânea, dor na palpação e percussão, exsudato purulento, mobilidade dentária, alterações de cor na coroa dental e alterações de cor na gengiva.
A estratégia para o tratamento das lesões endo-periodontais deve ser baseada em um correto diagnóstico diferencial entre as diferentes situações clínicas enfrentadas, determinando inicialmente se o dente será mantido ou extraído. O diagnóstico da doença geralmente é difícil devido às conexões íntimas anatômicas e vasculares entre a polpa e o periodonto. Além disso, o fato dessas doenças serem frequentemente avaliadas como entidades diferentes dificulta ainda mais o diagnóstico.
A exodontia seguida da colocação de um implante osseointegrado é o melhor tratamento para dentes com lesões endo-perio graves, onde identificamos fraturas radiculares e comprometimentos maiores do dente em questão, como destruições periodontais extensas, calcificações dos canais radiculares que impedem a endodontia ou o retratamento endodôntico e perfurações radiculares maiores, dentre outras.
Entretanto, se o diagnóstico concluiu que o dente tem um prognóstico mais favorável e este será mantido, deve-se identificar se os tratamentos endodôntico ou periodontal serão realizados de maneira independente ou combinada
Assim, podemos afirmar que o tratamento das lesões endo-periodontais deve ser direcionado de acordo com a causa primária da lesão. No caso da lesão combinada verdadeira, o tratamento endodôntico deverá ser executado inicialmente, e o periodontal após o período de cicatrização do anterior.
O caso clínico aqui apresentado pode até levantar polêmicas quando se avalia o dente 36. A exodontia deste elemento, seguida da colocação de 1 implante também seria um excelente tratamento. Entretanto, a regeneração tecidual obtida nos elementos 36 e 37, sem cirurgias e a estabilidade tecidual sem inflamação dos dentes tratados após dois anos, nos mostra que é possível se manter dentes tratados por lesões endo-perio.
As doenças endodôntico-periodontais até hoje representam um desafio para o cirurgião-dentista. Uma única lesão pode apresentar sinais de envolvimento endodôntico e periodontal, o que pode induzir o cirurgião-dentista à realização de um tratamento inadequado. Assim, devemos nos esforçar para diagnosticar corretamente, evitando condenar dentes que podem ser salvou ou manter dentes que deveriam ter sido extraídos.
Referência:
- David Herrera1 | Belén Retamal‐Valdes2 | Bettina Alonso1 | Magda Feres2 Acute periodontal lesions (periodontal abscesses and necrotizing periodontal diseases) and endo‐periodontal lesions J Clin Periodontol. 2018;45(Suppl 20):S78–S94.
“Louvado seja o Senhor, que dia a dia leva as nossas cargas! Deus é a nossa salvação. O nosso Deus é o Deus que salva; ele é o Senhor, o Senhor nosso, que nos livra da morte.” (Salmo 68:19-20)
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Instagram: @marcoaureliobianchini | @bianchini_odontologia