Lesões gengivais por trauma: quais as diferenças?

lesões gengivais por trauma
Marco Bianchini destaca os principais tipos de lesões gengivais por traumas e apresenta caso clínico associado a uma dessas causas.

Quem trabalha com Periodontia está bastante acostumado a se deparar com lesões gengivais decorrentes de algum trauma. Em nossas clínicas, frequentemente aparecem pacientes com algum tipo de lesão gengival por trauma. Quando pensamos em trauma, logo nos vem à mente algum alimento mais rígido que provocou um “corte” na gengiva do paciente. No entanto, existem diversos tipos de traumas gengivais e, embora a maioria que ocorre nos tecidos gengivais regrida espontaneamente, alguns podem ser mais intensos. Estes casos exigem condutas terapêuticas mais avançadas. Assim, como os traumas gengivais podem ser de diversos tipos, sempre é bom identificar a sua real causa, a fim de realizar o tratamento adequado.

Segundo a classificação das doenças periodontais e peri-implantares de 2018, as lesões traumáticas podem ser iatrogênicas, acidentais ou autoinfligidas. Essas lesões são de natureza física, química e térmica. Em relação às lesões traumáticas de natureza física, está incluída a ceratose de fricção, decorrente da escovação inadequada, que pode ser prejudicial aos dentes e tecidos gengivais. Já a escovação dental mais rigorosa pode induzir à ulceração gengival. Nos casos de traumas mais violentos, os danos decorrentes da escovação variam de laceração gengival superficial à grande perda de tecido, resultando em recessão gengival. O uso de fio dental inadequado também pode causar ulceração gengival e inflamação, afetando principalmente a ponta das papilas interdentais. A lesão autoinfligida do tecido gengival é geralmente vista em indivíduos mais jovens.

Existem também as lesões gengivais decorrentes de produtos químicos, que podem causar descamação da superfície da mucosa ou ulceração. Essas lesões podem estar associadas ao uso de clorexidina, ácido acetilsalicílico, cocaína, peróxido de hidrogênio ou dentífricos. Elas são reversíveis e regridem após a remoção do agente causal. As lesões no tecido gengival induzidas por produtos químicos também podem ser causadas de maneira acidental ou iatrogênica por dentistas, incluindo o emprego do paraformaldeído ou peróxido de hidrogênio.

Em relação ao trauma decorrente de condições térmicas, as queimaduras da gengiva se originam de alimentos superaquecidos. Naturalmente, qualquer parte da mucosa oral pode estar envolvida, incluindo a gengiva. A lesão é eritematosa, com descamação de uma superfície coagulada. Vesículas podem estar presentes e, em algumas situações, há o aparecimento de ulceração ou erosões que podem ser dolorosas. A lesão gengival decorrente de trauma térmico pode ser decorrente também do frio, apesar de ser um evento mais raro.

Traumas gengivais podem ocorrer tanto ao redor de dentes naturais quanto de implantes. A diferença reside nas sequelas, que podem ser mais graves nos implantes, especialmente quando temos recessões gengivais neles, onde a parte metálica de pilares protéticos ficou exposta. Estas situações são mais difíceis de serem resolvidas, uma vez que os enxertos gengivais apresentam uma maior dificuldade de adesão às superfícies metálicas dos implantes e seus componentes do que nas raízes de dentes naturais. Desta forma, os traumas gengivais ao redor de implantes podem gerar sequelas bastante desagradáveis, especialmente em regiões estéticas. As Figuras 1 a 3 ilustram uma situação de trauma gengival peri-implantar ocasionado pela compressão de uma prótese protocolo.

A gengiva tem um alto poder de regeneração diante de qualquer trauma de leve intensidade. Na maioria das vezes, basta eliminarmos o agente causal que o tecido gengival irá se regenerar, praticamente sem nenhuma cicatriz. Contudo, alguns traumas de maior impacto podem exigir maiores tratamentos, além da simples remoção da causa. Geralmente são utilizados enxertos de tecidos moles para se corrigir sequelas dos traumas gengivais, principalmente em áreas estéticas. O mais importante é escutar os relatos do paciente, que irão nos ajudar a entender a verdadeira origem do trauma e facilitar a escolha do tratamento.

Referências

  1. Holmstrup P, Plemons J, Meyle J. Non–plaque-induced gingival diseases. J Clin Periodontol 2018;45(suppl.20):S28-43.
  2. Axéll T, Koch G. Traumatic ulcerative gingival lesion. J Clin Periodontol 1982;9(3):178-83.

“E disse-lhes Jesus: eu sou a porta; quem entra por mim será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem. O ladrão vem apenas para furtar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” (João 10:9-11)

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