O reconhecimento de uma gengiva doente passa pela inspeção visual e pela sondagem periodontal/peri-implantar propriamente dita de todos os elementos presentes na boca do paciente. Esta avaliação da mucosa peri-implantar e da gengiva também é conhecida como mapeamento clínico periodontal e peri-implantar, em que todos estes dados tomados durante o exame clínico são armazenados no prontuário do paciente, formando um registro dos achados no momento da consulta inicial.
Este mapeamento precisa ser sistemático, pois também será usado nas consultas de manutenção da terapia de suporte para avaliar a resposta ao tratamento e para comparar com visitas posteriores. No entanto, uma ficha periodontal complexa pode levar o clínico a erros e um tempo excessivo durante o exame, fazendo com que o profissional abandone a execução deste mapeamento. Assim, torna-se necessário um armazenamento simplificado do mapeamento clínico periodontal e peri-implantar que possa ser de fácil reprodução e comparação, inclusive pelos diversos profissionais que possam vir a atender um mesmo paciente e interpretar os dados corretamente.
Uma maneira bastante simplificada de armazenar os dados de um mapeamento periodontal é a utilização de índices clínicos padronizados. O índice gengival e o índice de sangramento parecem ser os mais úteis e com maior facilidade de serem utilizados na clínica diária. Mesmo não levando em conta os aspectos ósseos observados em radiografias, estes índices são muito úteis para uma interpretação clínica das alterações da gengiva ao redor de dentes naturais e da mucosa peri-implantar.
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O índice gengival foi descrito por Löe em 1967 e serve para avaliar a gravidade e a quantidade da inflamação gengival. Sua utilização na prática clínica diária está mais voltada para comparar a saúde gengival antes e depois do tratamento. Por ser um índice bastante simples de ser realizado e facilmente reproduzível, ele ainda é bastante usado no mapeamento clínico dos tecidos moles, pois somente os tecidos gengivais são avaliados. Este sistema é aplicado com o auxílio de uma escala que é referenciada da seguinte forma:
0 = Ausência total de inflamação;
1 = Alteração de cor e textura da gengival;
2 = Inflamação leve e sangramento causado pela sondagem;
3 = Inflamação exacerbada e sangramento espontâneo.
Já o índice de sangramento é mais usado para detectar alterações inflamatórias precoces na base da bolsa periodontal, uma área inacessível ao exame clínico visual. Como é de fácil entendimento por parte do paciente, o índice de sangramento pode ser usado para acentuar a motivação do paciente para o controle adequado do biofilme. O índice de sangramento é de fácil anotação ou armazenamento, pois só possui duas variáveis:
- Sim. Existe sangramento à sondagem;
- Não. Não existe sangramento à sondagem.
Geralmente, são sondadas todas as faces do elemento dental, anotando-se quais estão sangrando à sondagem e quais não estão sangrando. Também podem ser anotadas a profundidade à sondagem de todas as faces que foram sondadas. Porém, mesmo sendo útil, este índice oferece a dificuldade de calibração à sondagem periodontal, pois sondagens inadequadas podem exprimir valores superdimensionados (quando a pressão de sondagem é exagerada e provocou sangramento pelo trauma) ou subdimensionados (quando a pressão de sondagem é muito delicada e não atingiu o fundo da bolsa).
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Assim, a utilização de índices no dia a dia de um clínico parece ser de difícil execução, pois interrompe a sequência clínica de atendimento, exigindo que o profissional ou o seu auxiliar anotem na ficha clínica os dados que são coletados. Entretanto, o armazenamento correto de índices gengivais pode ser de grande valor clínico para fins comparativos ao longo dos anos em que um paciente é atendido. Somando-se a estes índices a execução de radiografias e fotografias, o profissional terá em mãos uma ferramenta útil para realizar um correto diagnóstico e plano de tratamento.
“Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, se rodearão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.” (2 Timóteo 4:3,4)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia