A vida de um especialista da Implantodontia, exageradamente falando, pode se resumir basicamente a dois procedimentos: a primeira consulta, quando executamos o primeiro atendimento, e a cirurgia propriamente dita, quando realizamos a colocação do implante. Falando como especialista, às vezes fico me perguntando qual desses dois procedimentos me desgasta mais. Fisicamente, sem dúvida, uma cirurgia de colocação de um ou mais implantes vai ser sempre mais cansativa do que uma consulta inicial. Porém, emocionalmente falando, a consulta inicial pode desgastar além do que imaginamos.
A verdade é que a primeira consulta em Implantodontia pode acontecer de diversas formas. Ela também pode exigir mais de uma consulta de retorno, por parte do paciente. Dependendo dos exames pré-operatórios que precisaremos solicitar, esta consulta pode se estender em várias outras. Contudo, o que mais desgasta mesmo é o processo de explicação do diagnóstico que estamos dando e do plano de tratamento que iremos oferecer ao paciente. Sem falar que tudo isso ainda vai ter que ser precificado e os valores do tratamento precisam ficar bem entendidos pelo paciente.
Confesso a vocês que, depois de 30 anos de profissão, muitas vezes tenho que me reinventar para poder realizar adequadamente uma consulta inicial. Alguns pacientes têm extrema dificuldade de compreender o que estamos propondo. Outros trazem vários membros da família, que opinam indiscriminadamente sobre todo o processo que estamos discutindo. Sem falar no planejamento de outros colegas, que já foram consultados pelo paciente antes de nós. Isto tudo nos desgasta demasiadamente e exige concentração e foco extremos para que possamos realizar aquilo que pretendemos como implantodontistas.
Desta forma, antes de levarmos o paciente para a mesa cirúrgica, vamos precisar passar por esse processo de “convencimento” do paciente. E isso, para os mais pragmáticos, não passa de uma venda. Muitos colegas não gostam de usar esta terminologia, no entanto eu acredito que é exatamente isso que acontece. Nós, prestadores de serviço (no caso a reposição de um ou mais dentes perdidos) estamos sim vendendo o produto saúde. O comprador (cliente), por sua vez, vai analisar todos os detalhes do que estamos oferecendo (confiança, segurança, modernidade, garantias, preço etc). Depois, ele vai decidir por fazer ou não o tratamento.
Uma vez que o acordo entre o profissional e o paciente foi selado, é possível partir para a realização da cirurgia. Nesta fase prática propriamente dita, se o profissional está bem treinado e preparado para realizar a cirurgia, o procedimento não enfrentará grandes problemas, além das tradicionais dores musculares e articulares que surjem pela fadiga corporal que a nossa profissão gera. Entretanto, se o planejamento foi inadequado e o profissional não está bem preparado para aquilo ele propôs ao seu cliente, a cirurgia de colocação de um implante pode se tornar uma verdadeira tempestade em alto mar.
Vale lembrar que a realização de uma cirurgia de implantes pode ser extremamente cansativa, especialmente quando temos a colocação de vários implantes. Torna-se necessário que o profissional tenha um bom preparo físico para aguentar duas ou três horas em uma cirurgia. Não basta ter toda a parte intelectual resolvida, com o planejamento perfeitamente executado e todo o equipamento e materiais prontos. Se o profissional não estiver bem fisicamente, ele fatalmente não aguentará o “tranco” de horas na cadeira realizando a colocação de implantes. Esta falta de condicionamento pode levar a erros que comprometerão o resultado final do procedimento.
Por fim, eu acredito que a consulta inicial por si só seja um dos procedimentos mais desgastantes que um profissional da Odontologia realiza. Um especialista que não está devidamente preparado para entender as angústias do seu cliente e lhe oferecer o tratamento adequado está fadado ao insucesso e não conseguirá fechar nenhum orçamento. Por isso, esta primeira consulta do profissional de Implantodontia, que parece ser simples, pode exigir muito do lado intelectual e comercial de um cirurgião-dentista. Como muitos não foram treinados para isso, esta consulta acaba virando o maior inimigo de muitos profissionais, que são até competentes tecnicamente, mas não conseguem convencer os seus pacientes da necessidade do tratamento proposto.
“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que tudo se fez novo. Ora, tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação.” (2 Coríntios 5:17,18)
Marco Bianchini
Professor associado IV do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia