Perdas ósseas em implantes cone-morse: é possível evitar?

Já faz bastante tempo que eu venho falando de perdas ósseas ao redor de implantes. Ao longo de todos estes anos, já vi várias denominações para este problema: saucerização, remodelação, reabsorção ou peri-implantite. Deem o nome que quiserem dar, mas uma certeza eu tenho: este problema de perda óssea peri-implantar vai sempre nos acompanhar.

Ainda me lembro muito bem quando a febre dos implantes cone-morse, que na verdade são implantes de conexão cônica interna, alcançou o Brasil de uma maneira desenfreada. Era um tal de gente mandando jogar no lixo todas as outras plataformas, com a simples justificativa de que os implantes tipo cone-morse não apresentariam perdas ósseas.

Cheguei a participar de um simpósio sobre tratamento da peri-implantite, onde um dos apresentadores, na maior cara de pau, falou que não precisava saber tratar a peri-implantite, porque ele usava implantes cone-morse e eles jamais teriam este tipo de problema. Éramos em três palestrantes, e eu e o outro colega ficamos olhando perplexamente um para o outro, não acreditando muito no que estávamos ouvindo.

Atualmente, a literatura já nos brindou com uma série de artigos que mostra que os implantes de conexão cônica interna ou cone-morse também apresentam perdas ósseas e, pasmem, com níveis bastante parecidos com os implantes de hexágono interno ou externo. Eu mesmo já fui autor de alguns trabalhos avaliando este comportamento dos implantes cone morse1.

A figura 1 ilustra um caso de perda óssea em implante cone-morse.

Figura 1 – Acompanhamento de dez anos de um implante cone-morse, na região do elemento 22. Observar que, a partir de três anos em função, o implante começa a sofrer uma reabsorção óssea, que atinge o terço médio da fixação após dez anos.

 

Na verdade, o que ocorre é que os implantes cone-morse, assim como qualquer implante, exigem que se siga o protocolo correto de colocação, tanto da parte cirúrgica como da parte protética. Se nós, cirurgiões-dentistas, não seguirmos à risca a maneira correta de se colocar um implante cone-morse, fatalmente teremos perdas ósseas desagradáveis ao longo dos anos. Sem falar ainda nos fatores de risco ligados aos pacientes, como diabetes descontrolada, fumo, dificuldades de higienização e faixa estreita de mucosa ceratinizada, dentre outros, que podem também levar a perdas ósseas.

No nosso trabalho publicado em 20231, dividimos os fatores de risco relacionados aos pacientes (sistêmicos) e aos implantes (locais), que influenciariam no aumento das perdas ósseas. Pacientes com histórico de periodontite, osteoporose e dificuldade de higienização apresentaram maiores perdas ósseas. Implantes com pilares protéticos menores do que 2mm, implantes com diâmetros superiores a 3.75, próteses fixas (totais e parciais) e próteses cimentadas apresentaram maiores perdas ósseas. A figura 2 ilustra um caso com vários fatores de risco locais para perda óssea em implantes cone-morse.

Figura 2 – Aspecto clínico e radiográfico, após a remoção da prótese, de seis implantes cone-morse com pilares protéticos largos e menores do que 2mm, sustentando uma prótese fixa total. Observar o alto grau de perda óssea nos implantes e a inflamação dos tecidos moles com presença abundante de placa bacteriana.

 

Dentro deste contexto, acredito que seja possível evitar as perdas ósseas em implantes cone-morse. Para tanto, devemos obedecer aos protocolos de utilização dos mesmos, colocando estes implantes abaixo da crista óssea (até 3mm) em uma posição protética favorável, que facilite a higienização e controlando os fatores sistêmicos como a periodontite prévia e a osteoporose.

Referência:

1 – Apaza-Bedoya K, Galarraga-Vinueza ME, Correa BB, Schwarz F, Bianchini MA, Magalhães Benfatti CA. Prevalence, risk indicators, and clinical characteristics of peri-implant mucositis and peri-implantitis for an internal conical connection implant system: A multicenter cross-sectional study. J Periodontol. 2023;1-12. https://doi.org/10.1002/JPER.23-0355

Mas se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá. Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor DEUS; não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva? (Ezequiel 18:21-23)

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