Depois de atravessar décadas de profissão, algumas comparações vão aparecendo em nossa mente. Uma delas, que vem me ocorrendo nos últimos tempos, é a de comparar os implantodontistas com garimpeiros. Isto ocorre porque nós passamos as nossas vidas procurando um bom osso para poder colocar um implante. Quem faz das cirurgias de colocação de implantes o seu dia-a-dia clínico entende bem o que eu estou falando.
Na verdade, passamos a maior parte dos nossos planejamentos catando osso nas tomografias a fim de viabilizarmos a colocação de um implante que seja bem posicionado e que suporte uma boa prótese, com as funções estética e mastigatória trazendo benefícios ao paciente. Para que isto ocorra, aprendemos desde cedo que necessitamos de todo um planejamento reverso, passando pela oclusão e dimensões orais, que irão culminar com uma reabilitação implantossuportada.
Contudo, por mais que você se utilize de todos os recursos analógicos e digitais para planejar uma cirurgia de colocação de implantes, invariavelmente, você vai estar “garimpando” osso. Sem osso não dá para colocar implante! Eu posso até colocar implantes em regiões com pouco osso, mas sem osso nenhum é impossível. Assim, dentro deste contexto da busca desenfreada por osso, nós vamos alterando o posicionamento dos nossos implantes e utilizando o que a ciência nos oferece, como cirurgias reconstrutivas, biomateriais, implantes curtos, implantes finos, etc. Tudo a fim de facilitar a colocação dos implantes.
O que ocorre é que a maioria dos procedimentos para aumentar o volume ósseo demanda por um aumento da morbidade dos casos (necessitando de mais de um procedimento cirúrgico), além de aumentar também o tempo total para conclusão do tratamento. Assim, nós, implantodontistas, vamos tentando driblar estes contratempos, garimpando osso aqui e acolá, a fim de viabilizar a colocação de implantes em um único ato, principalmente nos casos de extrações dentárias.
As figuras 1 a 5 ilustram um caso de modificação da posição final do implante, para alcançar uma área de maior volume ósseo.
Vários questionamentos podem ser feitos a respeito da resolução deste caso. Podemos dizer que vai haver um sobrecontorno mesial da coroa protética que pode facilitar o acúmulo de biofilme, dificultando a higiene. Podemos também afirmar que teria sido mais prudente um enxerto no alvéolo e a posterior colocação do implante em uma posição mais convencional. Ou ainda poderíamos ter optado por um levantamento de seio maxilar. Todas estas opções deixariam o implante em uma posição mais “tradicional”, mas também aumentariam o tempo total de tratamento. Qual seria o melhor planejamento?
Acredito que situações como esta apresentada neste caso clínico podem oferecer vários caminhos para a sua resolução. Obviamente que o mais prudente sempre é colocar o implante em uma posição proteticamente mais convencional. Contudo, a inclinação de implantes para uma melhor ancoragem vem sendo bastante discutida e utilizada nos dias atuais. Desta forma, eu vejo com bons olhos este “garimpo” ósseo, que diminui a morbidade dos casos e acelera a finalização das nossas reabilitações, beneficiando os pacientes.
“Eu, só eu, sou o Senhor, somente eu posso salvar vocês. Fui eu quem prometeu salvá-los e, de fato, foi isso que fiz. E vocês são testemunhas de que não foi outro deus que fez isso. Eu sou Deus e sempre serei. Ninguém pode escapar do meu poder e ninguém pode desfazer o que eu faço.” (Isaías 43: 11 – 13)
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia