Um dos grandes dilemas de quem reabilita pacientes desdentados totais no arco inferior é a colocação de implantes na região dos incisivos inferiores. Pode até parecer loucura, já que é justamente nesta área dos incisivos inferiores que encontramos maior disponibilidade óssea para colocação dos implantes na mandíbula. Entretanto, é a que mais apresenta problemas de peri-implantite nas manutenções periódicas, depois da conclusão do tratamento. Mas por que isto acontece?
Para entender melhor este desafio, vamos estudar um caso clínico que irá elucidar bastante qual a melhor conduta que devemos adotar nestas reabilitações. As figuras 1 a 6 apresentam o caso clínico em discussão.
A grande discussão deste caso não reside no fato de termos alcançado sucesso com a técnica de implantoplastia, mas sim se a colocação deste implante mais central foi acertada. Observando a configuração da prótese na figura 3, conseguimos notar facilmente que este implante praticamente não contribuiu em nada para a distribuição de forças no protocolo. Além disso, o seu posicionamento só dificulta a autolimpeza por parte do paciente, favorecendo a um maior acúmulo de placa e a consequente instalação de um processo de doença peri-implantar.
O grande problema que ainda aflige todos nós, implantodontistas, é que guardamos na memória a errônea teoria de que, quanto mais implantes, melhor para a sobrevivência da prótese. Este conceito nos protege, caso o paciente perca algum implante durante a vida, mas nos fragiliza quanto a peri-implantite. Obviamente que é interessante termos vários implantes para suportar uma prótese protocolo, mas desde que estes tenham espaço para serem colocados, evitando que os mesmos fiquem muito próximos uns dos outros.
O grande problema de colocar implantes “colados” uns nos outros é a propensão que este tipo de configuração irá dar apara um maior acúmulo de placa. Além disso, próteses suportadas por muitos implantes exigem um maior esmero dos pacientes na autolimpeza, o que, convenhamos, não é nada simples. Limpar próteses protocolos é muito difícil, exige uma ferramentaria própria (escovas interdentais, fio dental específico, waterpick, etc). Tudo isto somado a idade – geralmente avançada – dos pacientes portadores de protocolo, transforma a autohigiene em um problema sério de saúde.
Desta forma, acredito que devemos atentar para o planejamento de nossas próteses protocolos inferiores, procurando eliminar a colocação de implantes na região dos incisivos inferiores, principalmente os incisivos centrais. No cenário ideal, devemos distribuir os implantes nas regiões da canino, prés e molares quando possível, deixando a área anterior livre de implantes. Esta distribuição mais espaçada dos implantes, afastando o máximo possível um implante do outro, no sentido mesiodistal, vai distribuir melhor a força oclusal e, principalmente, facilitar a autolimpeza e a higiene, tanto por parte do paciente, como nas manutenções feitas por nós, aumentando o tempo de vida destas reabilitações.
“Peço igualmente aos jovens: estejam sujeitos aos que são mais velhos. Que todos se revistam de humildade no trato de uns com os outros, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, os exalte. Lancem sobre ele todas as suas ansiedades, porque ele cuida de vocês.” (1 Pedro 5:5-7)
Marco Bianchini
Professor associado IV do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
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