No universo da Implantodontia, mais especificamente no mundo maravilhoso da peri-implantite, uma das coisas que mais nos surpreende é a velocidade de progressão das lesões peri-implantares. A literatura nos diz que o início da peri‐implantite pode ocorrer logo após a colocação do implante e, na ausência de tratamento, parece progredir de forma não linear e acelerada. Estudos sugerem que a progressão da peri‐implantite parece ser mais rápida do que a observada na periodontite.
Outro aspecto muito importante relacionado com a progressão da peri-implantite é que estudos indicam que os pacientes com diagnóstico de mucosite peri‐implantar podem desenvolver peri‐implantite. Isto ocorre, especialmente, na ausência de cuidados de manutenção regulares. No entanto, as características ou condições que determinam a progressão de mucosite peri‐implantar para peri‐implantite não foram identificadas. Assim, as causas e os motivos exatos da transformação de uma mucosite em uma peri-implantite permanecem desconhecidos.
Estas constatações da literatura vão corroboram o que enfrentamos diariamente em nossas clínicas. Existem muitos casos de mucosite que nunca evoluem para uma peri-implantite, enquanto que outros, sem nenhuma razão mais específica, evoluem muito rapidamente para uma peri-implantite, levando até mesmo a perda do implante. E o pior ainda são aqueles casos com saúde peri-implantar (que nem mucosite tinham) e, abruptamente, desenvolvem uma peri-implantite de progressão muito rápida com perdas ósseas avassaladoras. É justamente sobre este tipo de situação que as figuras de 1 a 4 tratam.
Esta paciente é extremamente assídua nas consultas de manutenção e terapia de suporte. Durante todos estes dez anos, ela vem regularmente fazer seus controles para remoção de biofilme e avaliação geral. Eventualmente, esta paciente apresentava problemas de gengivite nos seus dentes naturais e mucosite nos implantes (ela possui vários implantes), que eram controlados com raspagem e controle de biofilme. Vale lembrar que esta paciente sofreu com doença periodontal crônica por muitos anos.
Na semana passada, esta paciente ligou para a nossa clínica e relatou que estava sentindo dor ao mastigar sobre o implante 26. Fazia exatamente seis meses que ela havia feito o último controle clínico e radiográfico, conforme as figuras 1 e 2 demonstraram. Ao sentar na minha cadeira, me deparei com um quadro grave de inflamação dos tecidos moles peri-implantares e mobilidade do conjunto implante prótese. Após anestesia local, eu removi todo o conjunto que estava completamente “desintegrado” do osso. As figuras 3 e 4 ilustram o implante removido.
Situações como esta nos levam a refletir bastante sobre a velocidade de progressão de uma peri-implantite. Várias são as razões que poderiam explicar esta perda óssea tão rápida. Sobrecarga oclusal, exacerbação da doença periodontal, microrganismos específicos, resistência do hospedeiro, etc. Contudo, o maior achado deste caso é que ainda não conseguimos controlar todos os fatores que corroboram para a destruição óssea peri-implantar e a perda de implantes.
Mesmo com todos os controles feitos de maneira exemplar, tanto pela paciente como pelo profissional, levando a terapia de suporte a risca, tivemos um insucesso. O organismo humano e sua imunidade, bem como sua reação frente aos invasores bacterianos ou iatrogenias, ainda nos reserva muitas surpresas. Mesmo em situações tidas como protocolares, poderemos e seremos, eventualmente, surpreendidos por reações biológicas inesperadas. É a natureza divina nos mostrando de que nada está sob o nosso total controle.
“Quem atenta para o ensino acha o bem, e o que confia no Senhor , esse é feliz. O sábio de coração é chamado prudente, e a doçura no falar aumenta o saber. O bom senso, para aqueles que o possuem, é fonte de vida; mas a tolice é a punição dos insensatos.” (Provérbios 16:20-22)
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
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