A peri-implantite é uma condição patológica associada à placa, que afeta os tecidos ao redor dos implantes dentários, caracterizada pela inflamação da mucosa peri-implantar e pela reabsorção progressiva do osso de suporte. Vários são os protocolos de descontaminação de implantes com peri-implantite que têm obtido bons resultados clínicos e radiográficos após o tratamento cirúrgico da peri-implantite. Entretanto, a grande dúvida que aflige a maioria dos implantodontistas é: qual seria a melhor forma para limpar e descontaminar um implante doente, que já sofreu algum tipo de perda óssea?
A peri-implantite tem etiologia bacteriana e, portanto, o sucesso do tratamento depende principalmente da detenção do processo inflamatório através do controle eficiente da infecção e remoção do biofilme disbiótico da superfície do implante. Apesar de ainda não haver diretrizes clínicas disponíveis, uma abordagem terapêutica passo a passo, semelhante à usada para o tratamento da periodontite, é empregada no manejo da peri-implantite. Após uma fase inicial, incluindo instruções de higiene bucal, controle de fatores de risco e instrumentação supramucosa, os implantes acometidos por peri-implantite moderada a grave são submetidos a um tratamento cirúrgico, que compreende procedimentos de acesso, ressecção ou reconstrução.
Embora essas abordagens cirúrgicas tenham demonstrado resultados de tratamento favoráveis, em termos de redução da profundidade de sondagem, na maioria dos casos, os critérios empregados para definir o sucesso do tratamento acabam não sendo alcançados na sua totalidade. Ou seja, a doença acaba recidivando. Assim, a descontaminação incompleta do implante representa a principal razão para essa previsibilidade limitada dos tratamentos. Isto provavelmente ocorre devido à complexa micro e macrotopografia das interfaces de titânio e anatomias dos defeitos ósseos.
Diversas técnicas mecânicas (curetas, ultrassom, irrigações com soro fisiológico, jato de bicarbonato, escovas de titânio e implantoplastia); químicas (ácido cítrico, clorexidina, antimicrobianos tópicos ou sistêmicos) e físicas (laser-terapia fotodinâmica) são métodos de descontaminação que são propostos sozinhos ou combinados para se alcançar a total descontaminação dos implantes.
Apesar de alguns estudos já terem tentado avaliar de forma abrangente a eficácia destas medidas coadjuvantes para o tratamento da peri-implantite, uma síntese focada do efeito dos protocolos de descontaminação propostos durante o tratamento cirúrgico de peri-implantite, bem como a identificação da eventual superioridade de um método específico sobre outro ainda não apareceu na literatura. Infelizmente, a maioria dos estudos mais recentes, incluindo-se meta-análises, não conseguiu demonstrar um método ideal para se descontaminar um implante com peri-implantite.
Na semana passada, eu participei de uma mesa redonda de peri-implantite no IN 2022. Foi uma oportunidade ímpar para discutir os protocolos de tratamento existentes na literatura. De maneira geral, todos os participantes da mesa (Frank Schwarz, da Alemanha, Élcio Marcantonio Júnior, Marcelo Napimoga e eu) concordamos que os casos devem ser avaliados individualmente, principalmente observando-se o tipo de defeito ósseo que está presente, a fim de se definir o potencial regenerativo deste defeito e qual tratamento deve ser realizado.
Em uma conversa ao pé do ouvido com o Dr Frank Schwarz, nós dois comentamos que os critérios de avaliação da implantoplastia são muito injustos na literatura. Na maioria dos artigos, o preconceito a esta técnica ainda impera, cegando os revisores quanto aos reais benefícios desta terapia, que são a manutenção dos implantes saudáveis em boca por um longo período de tempo.
Descontaminar um implante impregnado por placa, cálculo e tecido de granulação não é uma tarefa fácil. Desta forma, enquanto a literatura não chega a nenhum consenso, devemos optar por uma boa abertura de retalho, que facilite totalmente o acesso ao implante contaminado. Após isto, as espiras que sofreram perda óssea devem ser totalmente descontaminadas, mecânica e quimicamente, a fim de se remover totalmente qualquer resquício bacteriano. Somente assim, teremos um melhor prognóstico para que este implante doente possa permanecer saudável na boca pelo máximo período de tempo.
Referência
Baima, G., Citterio, F., Romandini, M., Romano, F., Mariani, G. M., Buduneli, N., & Aimetti, M. (2022). Surface decontamination protocols for surgical treatment of peri-implantitis: A systematic review with meta-analysis. Clinical Oral Implants Research, 00, 1–18. https://doi.org/10.1111/clr.13992
“Cuidem que ninguém retribua o mal com o mal, mas procurem sempre fazer o bem uns aos outros e a todos. Estejam sempre alegres. Nunca deixem de orar.
Sejam gratos em todas as circunstâncias, pois essa é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.” (1 Tessalonicenses 5:15-18)
Marco Bianchini
Professor associado IV do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia