Ricardo Tesch: um ensaio sobre transplante autólogo de condrócitos de septo nasal

Ricardo Tesch
Ricardo Tesch vai participar do simpósio sobre células-tronco e biomateriais. (Imagem: arquivo pessoal)
Em entrevista à coluna Quarta com Rossetti, Ricardo Tesch abordou importantes estudos com células-tronco na regeneração da ATM.

Entre 28 de abril e 1º de maio de 2021, ocorre o XI Encontro da Associação Brasileira de terapia celular e gênica. Dentro desse congresso, teremos o primeiro simpósio sobre células-tronco e biomateriais na Odontologia. A programação científica do evento será diversificada, envolvendo temas atuais da terapia celular e gênica, com enfoque também nas normas legais de sua utilização. Devido à grave pandemia de Covid-19 que está afetando o mundo, o evento será realizado de forma on-line.

Nesta edição da coluna Quarta com Rossetti, aqui no VMBlog, conversamos com o Dr. Ricardo de Souza Tesch, graduado em Odontologia e doutor em Clínica Médica (Neurologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialista em Ortodontia pela Associação dos Cirurgiões Dentistas de Campinas, mestre em Medicina com concentração em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pelo Hospital Heliópolis, professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis e coordenador do curso de especialização em DTM e Dor Orofacial. Além disso, Tesch é pesquisador com especial interesse nas áreas de DTM e Dor Orofacial, Dores de Cabeça, Genética e Medicina Regenerativa – esta última com ênfase no uso de terapias celulares para regeneração de cartilagem e óssea –, sendo também pesquisador principal do primeiro ensaio clínico humano para regeneração da ATM usando transplante autólogo de condrócitos de septo nasal.

Quarta com Rossetti – Células-tronco na ATM, os condrócitos. Estamos caminhando para o fim das terapias convencionais (placa, etc.). Qual o estágio atual?

Ricardo Tesch – Não creio que o advento de terapias inovadoras avançadas – no caso específico da pergunta, o transplante autólogo de células progenitoras derivadas do septo nasal – venha a substituir os protocolos já estabelecidos e baseados em evidências para o controle da doença degenerativa da ATM. O escalonamento de protocolos terapêuticos, dos conservadores aos progressivamente mais invasivos, parece ser a solução mais adequada quando a eficácia e segurança são colocadas na balança. Contudo, uma recente metanálise ofereceu evidências de que procedimentos minimamente invasivos, particularmente a lavagem articular por artrocentese em combinação com injeções intra-articulares (como os agregados plaquetários, por exemplo), devem ser considerados mais cedo, assim que os pacientes não demonstrarem um benefício claro ao emprego dos protocolos conservadores, e não após sua exaustão. Antecipar o acesso aos benefícios das terapias avançadas pode evitar que pacientes cheguem à necessidade de procedimentos mais invasivos, como próteses.

Quarta com Rossetti – Se um paciente hoje procurar o seu centro de pesquisa, o que se pode oferecer como terapia? Ou ainda estamos na fase experimental em animais?

Ricardo Tesch Nosso grupo de pesquisa translacional em medicina regenerativa tem mantido foco na aprovação pelo sistema CEP/CONEP de ensaios clínicos fase I/II com ênfase na segurança, portanto, envolvendo inicialmente e de forma progressiva poucos pacientes. As evidências para a seleção das terapias avançadas a serem testadas advêm de ensaios clínicos similares em outras articulações de humanos e de estudos pré-clínicos na ATM de modelos animais, conduzidos por outros grupos de pesquisa. Nesse momento, estamos iniciando a segunda fase do ensaio clínico com o transplante autólogo de células progenitoras do septo nasal para o controle da doença degenerativa da ATM (portanto, recrutando voluntários). Esperamos, em breve, conseguir o registro desse protocolo junta à Anvisa de acordo com as diretrizes da RDC nº 338, de 20 de fevereiro de 2020.

Quarta com Rossetti A biomecânica da ATM é feita de superfícies deslizantes, ligamentos, inserções musculares etc. O uso de células-tronco prevê recuperar o côndilo em altura e volume, mesmo que ele seja cultivado em laboratório e depois transplantado na posição desejada? Seria o melhor enxerto bioativo?

Ricardo Tesch A engenharia tecidual, por meio da utilização de células, matrizes e fatores de crescimento, pode promover a formação do côndilo mandibular em laboratório. A escolha do material adequado para atuar como matriz, com ênfase nas cargas funcionais a que será submetida a estrutura formada, deve ser cuidadosamente pensada, assim como a interação e diferenciação das células utilizadas. Em se tratando de uma estrutura tridimensional complexa, podem ainda ser utilizados biorreatores ou a bioimpressão para a construção do côndilo em laboratório. Concluída essa fase laboratorial, o grande desafio clínico é a adaptação desse côndilo aos tecidos adjacentes e à biomecânica da ATM. Pode ser uma opção de tratamento promissora, pois levamos células e fatores de crescimento que também podem estimular a migração e diferenciação de células dos tecidos adjacentes, o que é bastante positivo do ponto de vista regenerativo. Contudo, ainda precisamos de evidências clínicas para verificar seu desempenho. Ainda pairam dúvidas quanto à manutenção do tamanho e volume do côndilo implantado, além da sua interação com as estruturas adjacentes.

Translate »