Tecidos moles peri-implantares: qual a sua importância?

Marco Bianchini apresenta caso clínico em com realização de um tratamento ressectivo associado a enxerto de tecido conjuntivo de uma peri-implantite.

Evidências científicas recentes vêm sugerindo que as dimensões verticais e horizontais dos tecidos moles peri-implantares podem ser críticas para a manutenção da saúde do tecido peri-implantar e da estabilidade óssea ao longo do tempo. De fato, os componentes estruturais dos tecidos moles e o fenótipo (largura da mucosa queratinizada, espessura da mucosa e mucosa aderida) ao redor dos implantes podem prevenir ou acelerar mecanismos inflamatórios que irão comprometer a integridade dos tecidos moles e duros peri-implantares. 

As doenças peri-implantares são entidades inflamatórias patológicas (mucosite e periimplantite) induzidas pelo acúmulo de biofilme, que começa no compartimento dos tecidos moles e progride em um padrão não linear acelerado para o osso peri-implantar subjacente. A mucosite é descrita como o estágio inicial da doença e inflamação peri-implantar, em que a lesão é delimitada na área restrita dos tecidos moles. Quando o componente inflamatório avança para o osso subjacente peri-implantar, ocorrem efeitos osteolíticos e perda óssea, convertendo a mucosite em uma peri-implantite, que é o estágio avançado da doença. 

Infelizmente, os mecanismos exatos que exacerbam as doenças peri-implantares ainda são desconhecidos. Entretanto, estudos recentes demonstraram que marcadores inflamatórios, componentes celulares e fluxo sanguíneo nos tecidos moles peri-implantares podem ser correlacionados com o grau e a gravidade da doença. Assim, esses achados reforçam a ideia de que os componentes de tecidos moles ao redor dos implantes são aspectos fundamentais para a prevenção e resolução das doenças peri-implantares. 

Quando levamos em consideração as diversas terapias utilizadas para o tratamento das doenças peri-implantares, observamos que a terapia cirúrgica combinada (ou seja, procedimentos ressectivos + enxerto ósseo) apresentou melhorias clínicas significativas na profundidade de sondagem, índice de placa e sangramento à sondagem. No entanto, a recessão marginal e a contração volumétrica tecidual foram significativas ao longo dos períodos de acompanhamento destes casos. Para compensar estes efeitos indesejados, muitos estudos sugerem que as técnicas de enxerto de tecidos moles podem ser decisivas para manter a saúde peri-implantar, sem apresentar tantas contrações e recessões teciduais.  

Portanto, a demanda por enxertos de tecidos moles e cirurgia plástica peri-implantar como estratégias de prevenção e tratamento de doenças peri-implantares é um assunto bastante atual, que vem sendo estudado e debatido.  Os artigos citados nas referências da coluna de hoje mostram que alguns autores evidenciaram que os sítios peri-implantares com fenótipo de tecido mole fino apresentaram níveis significativamente mais elevados de interleucinas pró-inflamatórias. Outros estudos também mostraram que os enxertos de tecidos moles nas regiões peri-implantares reduziram a perda óssea marginal, o acúmulo de biofilme e a inflamação peri-implantar. Assim, os enxertos de tecidos moles vem ganhando força na terapia peri-implantar. 

As figuras 1 a 6 ilustram um caso clínico em que se realizou um tratamento ressectivo associado a enxerto de tecido conjuntivo de uma peri-implantite.

Podemos concluir que a importância dos tecidos moles na prevenção e tratamento das doenças peri-implantares é bastante grande e precisa ser levada em consideração pelos clínicos. Os mecanismos inflamatórios e as respostas celulares no compartimento dos tecidos moles peri-implantares são desencadeados por patógenos bacterianos, que podem induzir uma inflamação destrutiva, comprometendo a integridade, tanto dos tecidos peri-implantares moles, como dos duros (osso peri-implantar).  

Desta forma, dentro deste contexto, as evidências científicas atuais reforçam o fato de que as abordagens de enxertos de tecidos moles em locais com doença peri-implantar podem ser valiosas para a manutenção da saúde e da estética peri-implantares, uma vez que diminuíram significativamente o acúmulo de biofilme, inflamação, perda óssea e desconforto do paciente ao longo do tempo.

Referências: 

1.  Ivanovski S, Lee R. Comparison of peri-implant and periodontal marginal soft tissues in health and disease. Periodontol 2000 2018;76:116-130.
2.  Barootchi S, Tavelli L, Majzoub J, Chan HL, Wang HL, Kripfgans OD. Ultrasonographic Tissue Perfusion in Peri-implant Health and Disease. J Dent Res 2022;101:278-285.
3.  Zucchelli G, Tavelli L, Stefanini M, et al. Classification of facial peri-implant soft tissue dehiscence/deficiencies at single implant sites in the esthetic zone. J Periodontol 2019;90:1116-1124.
4. Tavelli L, Barootchi S, Majzoub J, et al. Prevalence and risk indicators of midfacial peri-implant soft tissue dehiscence at single site in the esthetic zone: A cross-sectional clinical and ultrasonographic study. J Periodontol.
5. Galarraga‐Vinueza, M. E. et al. Volumetric assessment of tissue changes following combined surgical therapy of peri‐implantitis: a pilot study. Journal of Clinical Periodontology13335 (2020) doi:10.1111/jcpe.13335.
6. Obreja, K. et al. Volumetric tissue changes following combined surgical therapy of peri‐implantitis: A 2‐year follow‐up analysis. A prospective case series. Clinical Implant Dentistry and Related Research 24, 267–275 (2022).

“De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um, e cada um receberá a sua recompensa de acordo com o seu próprio trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus, e vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus.” (1 Coríntios 3:7-9)

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