“Um novo estudo revela”: a importância da Ciência na Odontologia

Ciência na Odontologia
Marco Bianchini aborda a divulgação de estudos científicos e ressalta a importância da Ciência e dos órgãos regulares na Odontologia.

Está rolando nas redes sociais, há alguns dias, um meme muito interessante, que diz: “Um novo estudo revela que podemos fazer você acreditar em qualquer coisa apenas dizendo: um novo estudo revela”. Eu achei espetacular, pois expressa literalmente o que estamos vivendo, não só em relação à Covid-19, mas também em relação a qualquer tratamento médico – e aqui incluo todas as áreas – que possa ser colocado em prática pelos profissionais de Saúde.

A briga insana pela dita comprovação científica, seja de um tratamento, medicação ou vacina, banalizou de forma inadequada a interpretação de estudos científicos para a grande maioria da população. E, pasmem, também para os profissionais da Saúde, infelizmente. Desta forma, basta alguma coisa ser publicada que, imediatamente, muitos especialistas já adotam a conclusão da dita publicação como sendo o novo mantra médico para aquela doença. O grande problema é que, se esta publicação vai ao encontro às suas convicções, ela vira referência. No entanto, se vai contra, é execrada como um estudo mal feito.

Torna-se necessário aqui entender que muitos profissionais de Saúde não são pesquisadores. Na verdade, a grande maioria não faz pesquisa. Porém, são esses que atendem os pacientes e estão na linha de frente dos atendimentos. Estes profissionais se atualizam lendo as publicações ou participando de eventos, onde estes estudos são divulgados. Com isso, a conduta clínica destes profissionais segue de acordo com o que os estudos concluem e preconizam. Seja na Medicina, na Odontologia ou em qualquer outra área da Saúde, é assim que os tratamentos são adotados, e é assim que as descobertas científicas chegam nas mais diversas camadas da população.

Contudo, quando um clínico executa algum tratamento que foi divulgado como eficiente, mas ele não consegue alcançar estes resultados nos seus pacientes, este profissional acaba abandonando este suposto “novo tratamento”, pois parece que, para os seus pacientes, o tratamento não está dando certo. Isto é um fato concreto que, certamente, já aconteceu com muitos de nós. Basta lembrar quando retornamos de algum congresso, ou quando lemos alguma publicação que nos empolgou bastante, e a realização da técnica em nossos consultórios não saiu exatamente como estava na publicação.

É por essa razão que um tratamento só fica verdadeiramente consagrado quando consegue ser replicado em diversos lugares do mundo, obtendo os mesmos resultados positivos. Foi assim na Implantodontia, quando P-I Branemark descobriu a Osseointegração, e é assim que deve ser em todas as áreas médicas. Por isso, a maioria de nós acaba sendo bastante cautelosa quando vai iniciar o uso de alguma técnica ou droga inovadora. Antes de condenar ou adotar uma nova técnica, o clínico deve pesquisar profundamente se este suposto novo tratamento tem respaldo científico.

Como a maioria dos profissionais que estão na linha de frente dos atendimentos e no dia a dia dos tratamentos não tem tempo de sobra – e nem massa crítica suficiente –para analisar com mais propriedade se um estudo é convincente ou não, estes profissionais se apoiam nos órgãos reguladores. São as entidades de classe e de fiscalização que recomendam ou não algum tipo de tratamento. Assim, para que possamos utilizar novos produtos, nós acabamos por verificar se aquilo que queremos utilizar está aprovado pela Anvisa, FDA, Conselhos federais, Ministério da Saúde e outros.

Pessoas bem-intencionadas sempre ajudam a divulgar trabalhos e descobertas científicas. Entretanto, não são palestrantes, nem influencers, nem professores, nem jornalistas, que dão o devido respaldo aos novos produtos. Esta tarefa é de responsabilidade dos órgãos reguladores e fiscalizadores, que se baseiam nas descobertas científicas, que são divulgadas por revistas sérias. Estas entidades deveriam ser sempre imparciais, analisando apenas os dados apresentados pelos pesquisadores, para finalmente liberarem estas descobertas para uso público.

Agora imaginem vocês se, dentro destas revistas e órgãos reguladores, tivermos profissionais que não conseguem deixar as suas convicções de lado, no momento de avaliar um novo produto ou tratamento. Quando isto ocorre, uma cadeia de eventos negativos se inicia, prejudicando o paciente que está lá na ponta do atendimento. Difícil solucionar uma equação destas. Quem vai fiscalizar o órgão fiscalizador? São semi-deuses, que ninguém pode criticar? Não são seres humanos passíveis de erros?

É importante que o bom senso retorne o mais rápido possível para a área da Saúde, a fim de que possamos continuar atendendo nossos pacientes usando aquilo que acreditamos e que os órgãos fiscalizadores nos autorizam. Da mesma forma, os tratamentos ditos “off label”, protegidos pela autonomia médica, não podem ser descartados ou impedidos de ser realizados. O mais importante em qualquer atendimento é reestabelecer a cura do paciente com o mínimo de sequelas possível. É claro que pode existir mais de um caminho para chegar a isso, e este caminho nem sempre é aquele que acreditávamos ser o ideal.

“Antes de tudo, peço que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças em favor de todas as pessoas. Orem em favor dos reis e de todos os que exercem autoridade, para que vivamos uma vida mansa e tranquila, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, que deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.” (1 Timóteo 2:1-4)

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