Uma praga chamada bruxismo

bruxismo
Marco Bianchini relata aumento de casos de bruxismo, aponta as prováveis causas e dá informações importantes do tratamento.

O bruxismo tem várias definições, e não é o objetivo desta coluna de hoje ficar discutindo qual a melhor definição para este hábito parafuncional. Na verdade, esta é a definição que eu mais gosto de bruxismo: um hábito desenvolvido pelas pessoas, que está fora da funcionalidade normal dos dentes e dos maxilares. Desta forma, o bruxismo se caracteriza pelo apertamento e/ou ranger de dentes, que nada tem a ver com as funções dentárias de mastigação, fonética e deglutição. O bruxismo é um distúrbio grave da função normal dos dentes que, infelizmente, está infestando cada vez mais os nossos consultórios.

Desde que iniciei na Odontologia, e lá se vão mais de 30 anos, o bruxismo faz parte do meu dia a dia como cirurgião-dentista. A primeira pessoa que me falou sobre bruxismo foi o meu querido amigo e eterno professor Antônio Carlos Cardoso. Estava eu lá nos bancos da graduação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) no final da década de 1980, quando o professor Antônio Carlos me apresentou esta praga chamada bruxismo. Me lembro bem que, já naquela época, o referido professor nos alertava que esta parafunção já existia em uma gama muito grande de pacientes, mas que muitos profissionais ainda não a enxergavam.

Na graduação, eu aprendi bastante sobre bruxismo: como diagnosticar, detectar os seus níveis de gravidade e saber tratar de alguma forma este distúrbio. Eu lembro que naquela época nós atendíamos alguns pacientes com bruxismo, mas não parecia ser um problema epidemiológico tão grande. Existia lá um percentual de pacientes que desenvolviam este hábito e que nós tratávamos com placas oclusais, a fim de proteger os dentes dos desgastes acentuados provocados pelo bruxismo.

Quando eu me formei, fui logo atendendo uma série de pacientes que tinham bruxismo. Fomos muito bem treinados pela disciplina de Oclusão da UFSC, e realmente saímos capazes de diagnosticar e tratar esta anomalia oclusal. Fiz muitas placas miorrelaxantes, placas anteriores (Front Platô) e ajustes oclusais. Estes pacientes bruxômanos apareciam eventualmente no meu consultório, mas não eram uma imensa maioria. Dando um belo chute na estatística daquela época, acredito que uns 5% dos pacientes que eu atendia tinham bruxismo.

Na mediada em que o tempo foi passando, eu fui percebendo que a quantidade de pessoas que desenvolviam o bruxismo parecia estar aumentando sensivelmente. Mais e mais pacientes batiam na porta do meu consultório, procurando tratamento para dores articulares, dores musculares, zumbido no ouvido, desgastes dentais, etc. Eram restaurações que fraturavam, próteses que soltavam, esmalte cervical sendo reabsorvido e até recessões gengivais exacerbadas que estavam ligadas ao bruxismo. Cada vez mais eu e a minha equipe precisávamos ficar atentos a este tipo de problema odontológico.

Em 2020, veio a pandemia da Covid-19. Neste ano, eu não sei o que atendemos mais em nossa clínica: pacientes relatando que tiveram Covid ou pacientes que desenvolveram bruxismo e começaram a ter todos os sintomas relacionados ao apertamento desordenado dos elementos dentais. Foi impressionante o aumento destes casos durante a pandemia e, por incrível que pareça, os casos continuam aumentando até os dias de hoje.

Atualmente, a gama de componentes protéticos sobre implantes que afrouxam ou fraturam tem aumentado bastante. Da mesma forma, casos de fraturas de implante também têm aparecido com mais frequência. Sem falar nas dores de ouvido, zumbidos no ouvido, dores de cabeça, dores musculares, limitações de abertura bucal, dentre outros sinais e sintomas. Sem medo de errar, eu tenho confirmado que a causa de todas estas complicações tem sido o bruximso, que vem se tornando um problema epidemiológico importante.

Embora muitos destes problemas possam estar ocorrendo devido a iatrogenias, com erros de planejamento e execução dos nossos tratamentos, acredito piamente que a maioria das causas do desenvolvimento do bruxismo tem um apelo emocional, devido ao modo de vida que nós estamos escolhendo viver nestes tempos modernos. O novo normal, ditado por globalistas insanos, está levando tanto a nós quanto as nossas famílias a uma busca desenfreada por “momentos de felicidade” que nos fazem pagar um preço muito alto por uma suposta compra desta felicidade.

Acredito que o melhor tratamento para o bruxismo é o relaxamento e o desencarceramento mental de cérebros presos em suas próprias loucuras, focados em uma produtividade a qualquer preço, vendas a qualquer custo e prazer de qualquer jeito. Nessa corrida insana atrás do vento, tomamos remédios para dormir, para acordar, para trabalhar, para ficar mais ligado e para não ter sono. E os dentes? “Os dentes ficam em segundo plano. Depois eu faço lentes, botox e placa, e fica tudo resolvido”.

“Assim será no fim dos tempos. Os anjos virão, separarão os perversos dos justos e os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes.” (Mateus 13:49,50)

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