O nome “barreira” por si só já explica como uma membrana funciona. Sabe-se que na competição celular, durante a cicatrização, as células epiteliais se reproduzem mais rapidamente e tendem a repovoar as áreas afetadas pela doença periodontal e que foram tratadas pelas descontaminações mecânica e química. Este “repovoamento” epitelial, ocorre em uma velocidade superior as células do tecido conjuntivo e, principalmente, as células ósseas. Assim, após uma raspagem a campo aberto, serão estas células de tecido epitelial, mais precisamente do epitélio juncional, que irão se formar junto as raízes que foram acometidas pela doença periodontal e tiveram os seus tecidos de suporte e proteção destruídos.
A técnica regenerativa, através do uso de membranas, visa impedir que estas células epiteliais vençam a corrida celular durante a cicatrização. Assim, a membrana, que será colocada entre o tecido epitelial do retalho e o defeito ósseo subjascente, funciona como uma barreira ou filtro, para impedir com que as células epiteliais povoem a área tratada. Isto dará um maior tempo para que as outras células do ligamento periodontal e do tecido ósseo se organizem para regenerar a área. A exclusão do epitélio e do tecido conjuntivo gengival da superfície radicular, durante a fase de reparação pós cirúrgica, não só previne a migração epitelial para o interior da ferida, como também favorece a recolonização da área por células oriundas do ligamento periodontal e do osso, caracterizando a formação de uma nova inserção periodontal.
Basicamente, as barreiras físicas, largamente conhecidas como membranas ou filtros, foram idealmente preconizadas para selecionar mecanicamente as células capazes de repovoar o coágulo sanguíneo. Além disso, estas membranas também possuiriam a capacidade de fornecer espaço e aumentar a estabilidade do coágulo sanguíneo. Entretanto, estas barreiras não necessitam permanecer em posição por muito tempo, pois após algumas semanas, esta função de impedir a proliferação epitelial precoce já ocorre e a barreira pode ser removida ou eliminada, uma vez que os tecidos regenerativos (novo cemento, novo ligamento e novo osso alveolar) já estariam se reproduzindo na área. A figura 1 ilustra o uso de uma barreira para regeneração periodontal.
As membranas podem ser classificadas em não reabsorvíveis (que necessitam ser removidas após um determinado tempo, pois não são reabsorvidas pelo organismo) e reabsorvíveis (que não necessitam ser removidas, pois são reabsorvidas naturalmente pelo organismo). As membranas, tanto reabsorvíveis como não absorvíveis, também podem ser utilizadas na regeneração óssea guiada (quando não temos a presença de um dente natural), para preservação alveolar ou associadas a colocação de implantes.
O fato de se evitar uma segunda cirurgia para a remoção da membrana, leva um grande número de clínicos a preferir as membranas reabsorvíveis. Entretanto, a literatura não é conclusiva a respeito de qual membrana e qual material seriam o padrão ouro para a regeneração periodontal em defeitos intra-ósseos. Desta forma, levando-se em consideração que as técnicas regenerativas são bastante sensíveis a habilidade do operador e que a indústria de biomateriais é extremamente competitiva no lançamento de novos produtos, caberá ao clínico decidir por qual material utilizar, baseado nas diversas informações que as pesquisas trazem.
Referência:
- PIERPAOLO CORTELLINI & MAURIZIO S. TONETTI. Clinical concepts for regenerative therapy in intrabony defects. Periodontology 2000, Vol. 68, 2015, 282–307
“Quem dá uma resposta séria a uma pergunta tola é tão tolo como quem a fez. Responda ao tolo de acordo com a tolice dele para que ele não fique pensando que é sábio.” (Provérbios 26: 4-5)
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
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