Os princípios gerais da fase pós-tratamento da terapia periodontal estão bem estabelecidos. No entanto, na literatura, diferentes termos, como manutenção periodontal, cuidados periodontais de suporte, terapia periodontal de suporte e reavaliação, têm sido utilizados. Às vezes, eles representam práticas um pouco diferentes. A manutenção de um tratamento periodontal ou de uma reabilitação oral com implantes se faz necessária porque os fatores causais da doença periodontal e peri-implantar não apresentam cura definitiva. Desta forma, temos que achar uma maneira de manter os pacientes rotineiramente em nossos consultórios, para que possamos dar uma manutenção correta nos nossos tratamentos e reavaliar os resultados.
Essa terapia de manutenção só é eficaz com a cooperação do paciente em controlar a sua placa bacteriana, associada às visitas periódicas ao profissional. Os objetivos principais desta manutenção são: manter os resultados do tratamento que realizamos, minimizar as recidivas, reforçar hábitos de higiene bucal e, principalmente, prevenir e reduzir a probabilidade de perdas dentárias que não estavam previstas no planejamento inicial. E é esta avaliação de dentes com prognóstico duvidoso que vem sendo subestimada após o advento dos implantes osseointegrados. Dentro do procedimento de manutenção, nós temos um outro procedimento que é de fundamental importância: a reavaliação.
O objetivo desta reavaliação é confirmar que o tratamento realizado está cumprindo ou não as metas que traçamos no planejamento inicial, e se novas decisões terapêuticas e abordagens mais invasivas devem ser tomadas. É justamente nesta fase que muitos clínicos não dão o tempo necessário para que ocorra a recuperação dos tecidos periodontais que envolvem determinados dentes e, assim, acabam realizando muito precocemente a reavaliação do tratamento que foi feito. Isso, certamente, vem condenando muitos dentes que poderiam ser salvos.
Em se tratando de pacientes periodontais, que são os grandes candidatos a receberem implantes, a reavaliação tem um papel singular. É através dela que iremos observar se os sinais clínicos de inflamação gengival, periodontal e/ou peri-implantar desapareceram ou, pelo menos, tiveram uma diminuição significativa. É nesta reavaliação que dentes com periodontite ou implantes com peri-implantite vão nos mostrar a resposta às nossas intervenções. Assim, a reavaliação serve para constatar a necessidade ou não de terapias periodontais ou peri-implantares adicionais, diferentes daquelas que foram realizadas durante a nossa primeira intervenção.
A grande questão a ser respondida é: qual seria o tempo ideal para se realizar uma reavaliação? Pesquisando nos artigos clássicos sobre manutenção e terapia de suporte periodontal, iremos encontrar que, geralmente, a reavaliação deve acontecer por volta de 45 dias após completado o tratamento inicial. Este tempo permite uma correta cicatrização dos tecidos moles periodontais e peri-implantares, pois geralmente a inflamação gengival é reduzida neste período, dando espaço para o reparo dos tecidos inflamados e recuperação de dentes abalados. Entretanto, é muito difícil generalizar todos os casos, e muitas respostas teciduais só vão se completar após, pelo menos, 90 dias.
Assim, o mais importante é manter o paciente em acompanhamento mensal durante alguns meses e observar atentamente as respostas teciduais do mesmo, para que possamos tomar decisões corretas sobre o prognóstico de dentes com problemas periodontais, implantes doentes e inflamações gengivais generalizadas. Obviamente, além dos aspectos gengivais e periodontais, fatores oclusais, estética e características individuais de cada reabilitação também devem ser levados em consideração durante a reavaliação.
Infelizmente, a maioria de nós (e eu me incluo aqui) acaba não tendo a paciência e a destreza de aguardar alguns meses para reavaliar os casos. Nós acabamos condenando dentes ou grupos de dentes por eles não responderem bem às nossas terapias em um curto espaço de tempo. Tratamos em uma semana e queremos a cura na outra. E, se isto não ocorrer, partimos logo para a exodontia e colocação de implantes, o que acaba trazendo excelentes resultados imediatos em um curto espaço de tempo.
Esta conduta é tão verdadeira que, em 2015, uma revisão sistemática1 foi publicada, concluindo que não foi encontrado nenhum trabalho que levasse em consideração a reavaliação dos resultados clínicos e radiográficos, tomados antes e depois da terapia periodontal inicial, e que servissem de parâmetro decisivo antes de se partir diretamente para um tratamento periodontal mais agressivo. Isto demonstra a falta de informações que a maioria das pesquisas ainda tem sobre a importância da reavaliação da terapia periodontal e que a mesma deve ser feita de maneira muito criteriosa, a fim de que não sejam tomadas decisões equivocadas a respeito dos tratamentos definitivos a que nossos pacientes serão submetidos.
Referência
- Nibali L, Pelekos G, Onabolu O, Donos N. Effect and timing of non-surgical treatment prior to periodontal regeneration: a systematic review. Clin Oral Investig 2015;19(8):1755-61.
“Ó Deus, nós ouvimos com os nossos ouvidos, e nossos pais nos têm contado a obra que fizeste em seus dias, nos tempos da antiguidade. Como expulsaste as nações com a tua mão e os plantaste a eles, como afligiste os povos e os derrubaste. Pois não conquistaram a terra pela espada deles, nem o braço deles os salvou, mas foi a tua destra e o teu braço, e a luz da tua face que lhes deu a vitória porque os amavas.” (Salmos 44:1-3)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia