Adaptação da mucosa peri-implantar

A saúde peri‐implantar é caracterizada pela ausência de sinais visuais de inflamação e de sangramento à sondagem, bem como de perda óssea progressiva (perda constante ao longo dos anos), visível em radiografias. Os sinais visuais de uma mucosa peri-implantar demonstram um tecido mole com ausência de eritema, ausência de sangramento espontâneo ou sangramento a sondagem e ausência de edema na mucosa. A coloração dessa mucosa é um vermelho rosado com tonalidades mais claras, semelhante aos tecidos moles saudáveis, que se encontram ao redor dos dentes naturais. A exceção dessa semelhança com os tecidos periodontais se dá na região de papilas interproximais, onde parecem ser menores e menos proeminentes nos implantes do que nos dentes naturais.

Os métodos clínicos para identificar se um implante está com saúde ou já possui algum grau de inflamação inclui a inspeção visual, sondagem com sonda milimetrada periodontal e palpação. Mudanças na coloração desses tecidos moles, bem como o sangramento a sondagem ou a presença de um forte exsudato na palpação, indicam que o quadro de saúde foi rompido. Estas mudanças acabam por provocar uma desadaptação da mucosa peri-implantar junto ao pilar protético.

O que ocorre na adaptação da mucosa junto aos implantes é que as características histológicas dos tecidos peri-implantares são semelhantes, mas não iguais aos tecidos periodontais.  Isto faz com que o selamento biológico nos implantes seja mais frágil do que nos dentes naturais. Desta forma, quando realizamos a sondagem peri-implantar, a pressão de sondagem pode ser exagerada, adentrando inadequadamente o sulco peri-implantar e provocando um sangramento que nada tem a ver com uma inflamação real, pois foi provocado pelo trauma na pressão de sondagem. Por outro lado, se executarmos uma sondagem com uma pressão muito leve, não iremos obter a real sondagem da área e a ausência de sangramento pode ser uma falsa impressão de saúde.

A união dita como mais frágil ao redor dos implantes se dá pela ausência quase que total de fibras de tecido conjuntivo transeptais e perpendiculares, que nos dentes naturais conferem uma característica de união mais forte entre a gengiva e o dente. Nos implantes, a maioria destas fibras de tecido conjuntivo são paralelas ao longo eixo do implante, o que acaba fragilizando esta união dos tecidos moles com o implante. Devido a esta união mais frágil dos tecidos moles aos implantes, o clínico precisa ter muita cautela quando está sondando um implante. Muitas vezes, vale mais uma inspeção visual detalhada do que ma sondagem mal feita para verificar a adaptação dos tecidos moles junto aos implantes. A inspeção visual, associada as imagens radiográficas, podem eliminar a necessidade de realizar a sondagem peri-implantar. As figuras 1 a 3 ilustram um caso com saúde peri-implantar, onde a sondagem parece ser desnecessária.

As alterações e complicações dos tecidos peri-implantares são uma realidade no dia a dia dos implantodontistas. Não há como fugir da mucosite e da peri-implantite. Entretanto, é preciso saber interpretar bem as modificações que acontecem nos tecidos duros e moles que circundam os implantes. A inspeção visual da cor, forma e textura da mucosa peri-implantar, bem como da adaptação desta mucosa nos pilares protéticos, são indicativos muito importantes para o diagnóstico de saúde dos nossos implantes, sempre associados a uma ausência de perda óssea progressiva.

Referência:

Berglundh T et al. Peri‐implant diseases and conditions: Consensus report of workgroup 4 of the 2017 World Workshop on the Classification of Periodontal and Peri‐Implant Diseases and Conditions. J Clin Periodontol. 2018;45(Suppl 20):S286–S291.

“Quem quiser salvar a sua vida a perderá; e quem perder a sua vida por causa de mima encontrará. De fato, de que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?” (Mateus 17, 26)

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