Periodontia x Implantodontia: existe uma mais importante?

Periodontia e Implantodontia
Marco Bianchini volta ao período anterior aos implantes osseointegrados para analisar a importância de Periodontia e Implantodontia.
Data de publicação: 16/10/2020

Periodontia e Implantodontia: este tema é um assunto falado em muitos congressos e palestras pelo mundo afora. Eu mesmo já discorri sobre este assunto em várias oportunidades aqui neste espaço. O que ocorre é que, quando o palestrante habita mais no mundo da Periodontia, ele tende a puxar mais a sua defesa pelo tratamento periodontal. Já quando o dono do palco é implantodontista, ele arrasta a brasa para o seu peixe na Implantodontia. São condutas que, de certa forma, podemos considerar normais. Afinal, cada profissional tende a valorizar mais a especialidade em que atua e na qual tem mais conhecimento. Contudo, análises muito apaixonadas levam o clínico a tomar decisões erradas, especialmente nesta questão entre Periodontia e Implantodontia.

A Implantodontia revolucionou a Odontologia, repondo dentes perdidos de uma maneira eficaz e duradoura. Entretanto, transformar uma modalidade de tratamento específica em alternativa única de se reabilitar áreas com dentes perdidos não é a melhor terapia. Conhecer profundamente os tecidos periodontais e peri-implantares é o caminho correto para se aplicar os tratamentos corretos a cada paciente.

Antes dos implantes osseointegrados, a Periodontia preocupava-se intensamente em recuperar dentes perdidos e manter elementos abalados a todo custo na boca. Para tanto, diversas modalidades de tratamentos periodontais foram exaustivamente pesquisadas e utilizadas na manutenção de dentes. Isso ocorria porque os resultados dos tratamentos convencionais para perdas de dentes (prótese fixas e removíveis) tinham um percentual de insucesso e de desconforto bastante relevante. Desta forma, as técnicas regenerativas dos periodontos de proteção e sustentação foram intensamente estudadas e aplicadas com relativo sucesso, “salvando” muitos dentes perdidos.

Com o advento dos implantes osseointegrados e a euforia pelos resultados obtidos com a Implantodontia, os dentes naturais hígidos – ou com uma boa perspectiva de serem mantidos na boca – passaram a ser extraídos para dar lugar a implantes, pois estes dispositivos de titânio pareciam funcionar muito bem, e até mesmo melhor do que muitos dentes com algum comprometimento periodontal. Baseando-se nestas constatações, uma forte corrente de profissionais aderiu à “eutanásia dental”, que seria o conceito de se extrair dentes precocemente, que teriam um prognóstico duvidoso, para a colocação de implantes.

Atualmente, os problemas oriundos dos implantes osseointegrados são muitos. A peri-implantite é o mais conhecido deles. Muitas dessas alterações peri-implantares, que ocorrem ao longo dos anos de uso dos implantes em boca, são de difícil resolução. E uma gama muito alta de implantes vem sendo perdida ou removida por uma série de fatores. Esta constatação epidemiológica fez voltar na comunidade científica a importância de se manter o foco na Periodontia e na manutenção dos dentes naturais em boca, evitando-se extrações desnecessárias sob o falso pretexto de que os implantes osseointegrados funcionariam melhor.

A extração de dentes condenados foi, é e sempre será um tratamento. Dentes condenados devem ser extraídos e, na maioria das vezes, podem ser substituídos por implantes. Contudo, a decisão de se manter ou extrair um dente com prognóstico duvidoso passa impreterivelmente pelos aspectos periodontais. Não se pode desprezar séculos de pesquisas sobre os tecidos de suporte dental, que obtiveram êxito na manutenção de dentes em boca no longo prazo, diminuindo sensivelmente a perda precoce de dentes na população mundial.

A Implantodontia e a Periodontia devem trabalhar juntas, favorecendo o pleno estabelecimento da saúde bucal e geral dos pacientes, mantendo dentes saudáveis ou que possam estar saudáveis após a terapia periodontal. A substituição de dentes condenados por implantes osseointegrados, que também possam se manter saudáveis no longo prazo, é uma terapia de escolha para os cirurgiões-dentistas, que passa pelos conhecimentos periodontais e peri-implantares desenvolvidos nas últimas décadas.

“E, demais disto, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne. De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” (Eclesiastes 12:12-14)

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