Como é possível um dente custar tão caro?

dente custa caro
Dente novo custa caro? Marco Bianchini faz uma reflexão sobre esse questionamento, tão comum na rotina clínica e que costuma irritar os cirurgiões-dentistas.

Por que um dente novo custa tão caro? Esta foi a pergunta que um paciente meu fez há algumas semanas, e que muitos colegas que trabalham com implantes ou com reabilitação oral já devem ter escutado também. Confesso que é um dos questionamentos que mais me irritam no dia a dia clínico e que, certamente, também desagrada a maioria dos cirurgiões-dentistas. A desvalorização do nosso serviço toca profundamente na nossa alma e no nosso ego. Não é fácil escutar um comentário desses sem se alterar.

Precificar os nossos tratamentos talvez seja uma das coisas mais difíceis de se fazer. Temos que levar em consideração uma série de fatores. Porém, mais difícil do que colocar um preço em nossos serviços é fazer com que os clientes acreditem que pagar este valor vai valer a pena. A maioria dos pacientes ainda não entende a cascata de consequências ocasionadas pela perda de um dente e a quantidade de eventos que terão de ser realizados para a reposição deste elemento perdido. Enfrentamos este desafio todos os dias em nossa clínica, e não é fácil usar sempre os mesmos argumentos para que os clientes se deem conta de que vai valer a pena o investimento.

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Quem trabalha com implantes dentários precisa ter o dom de explicar minuciosamente as diversas etapas do tratamento. Neste meu caso, tratava-se de um implante unitário de um dente fraturado que estava condenado e necessitava ser substituído por um implante imediato. Desta forma, o orçamento vai crescendo, pois não estamos apenas colocando um implante em uma região edêntula, mas estamos realizando também a extração e os enxertos de osso e de gengiva que geralmente vêm junto com este tipo de tratamento.

Sem falar na parte protética, que se inicia já com uma cirurgia delicada de segundo estágio, preservando a gengiva marginal. Após isto, não há como instalar uma coroa definitiva de prontidão, principalmente se for em uma região de apelo estético importante. Estas situações requerem uma coroa provisória que realize uma manipulação tecidual na área, em que os tecidos moles peri-implantares irão adquirir um formato ideal para a futura coroa definitiva sobre o implante. Assim, o valor final do tratamento vai aumentando.

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É óbvio que todas estas etapas e valores devem ser passados nas consultas iniciais do atendimento, para que o paciente não seja surpreendido no decorrer da execução do tratamento. Tudo deve ser explicado em detalhes, a fim de que o paciente entenda o que será feito e o que ele está pagando. Eu, particularmente, costumo precificar item por item, desde a extração, colocação do implante, enxerto ósseo, enxerto de gengiva, provisório e prótese definitiva. Cada item, com seu preço e tempo de tratamento, por escrito e por mensagens entregues ao paciente. Mesmo assim, não são poucas as vezes que eu tenho que explicar tudo novamente.

Temos que entender que atendemos pacientes com idades e perfis psicológicos diferentes. Alguns têm dificuldades técnicas de entender realmente o que iremos realizar, outros não se interessam muito pelas etapas e querem saber só do resultado final. Outros, ainda, só querem saber do preço. E têm aqueles que confiam plenamente no que estamos falando, não se importando com o aspecto técnico. Por fim, temos os pacientes mais difíceis, que são os que estão preocupados em quanto nós, cirurgiões-dentistas, vamos ganhar, e não em quanto eles estão pagando.

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Infelizmente, muitas pessoas ainda valorizam pouco a reposição de um dente perdido. A maioria prefere investir em celulares, jantares finos, bebidas requintadas, viagens, roupas etc. Tudo vale mais a pena gastar do que pagar pela reposição de um dente perdido. Somente aqueles que já perderam um dente na época em que não existiam os implantes, e sentiram na pele a falta que faz um elemento dental, é que valorizam mais os nossos tratamentos. Estes, realmente, se dão conta do quão vantajoso é a reposição de um dente através de uma reabilitação com implantes osseointegrados.

Assim, mesmo com toda a evolução tecnológica e com o avanço da ciência, o ser humano não muda a sua essência e tem reações altamente previsíveis frente às diversas situações que enfrenta. Para entendermos melhor este comportamento, basta olharmos para nós mesmos quando passamos para o outro lado do balcão. Quando viramos clientes, nos tornamos iguais ou piores do que os nossos próprios clientes. Isto faz parte da nossa natureza, e a mudança deste padrão não depende de nós mesmos, mas sim de Deus, que é o único que pode nos transformar.

“Havia um fariseu chamado Nicodemos, líder religioso entre os judeus. Certa noite, veio falar com Jesus e disse: ‘Mestre, todos nós sabemos que Deus enviou o Senhor para nos ensinar. Teus sinais são prova de que Deus está contigo’. Jesus respondeu: Eu te digo a verdade: quem não nascer de novo, não verá o reino de Deus”. (João 3:1-3)

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