Você sabe quanto custa um implante?

quanto custa um implante
Para Marco Bianchini, os custos variáveis podem fazer o especialista errar no valor final. (Imagem: Depositphotos)
Do valor pago ao fabricante de implantes aos gastos gerais com o consultório, Marco Bianchini faz uma reflexão sobre quanto custa um implante.

Quem trabalha com implantes dentários está muito acostumado a ouvir este tipo de indagação por parte dos pacientes. Isto faz parte do nosso dia a dia, já que os nossos clientes querem saber o valor dos tratamentos. Contudo, esta pergunta também é feita em nosso meio social, quando estamos conversando com amigos de outras profissões. Nestas rodas de amigos, onde se comenta sobre tudo e sobre todos, o mercado de trabalho, custos, impostos e os preços sempre dominam a pauta. São conversas informais, mas que ajudam muito a entender como gira a máquina da economia e como ela reflete na nossa profissão.

Precificar nossos tratamentos talvez seja uma das coisas mais difíceis de fazer com segurança. A enormidade de fatores que incidem sobre o preço final de um implante nos deixa inseguros quanto ao valor final a ser cobrado de nossos clientes. Dentro deste contexto, o valor que pagamos ao fabricante do implante acaba sendo o menor de nossos problemas, pois este é um custo fixo fácil de entendermos. Porém, os custos variáveis, que estão por trás de um atendimento odontológico, é que podem nos apunhalar pelas costas e nos fazer errar no valor final que iremos passar aos nossos pacientes.

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Assim, além do custo real do implante que compramos do fabricante, temos que adicionar uma série de outros valores, como luz, água, condomínio, materiais usados na cirurgia, salário dos funcionários, contador etc. Sem falar nos casos em que teremos que refazer o procedimento sem custos para o paciente, nos investimentos em equipamentos e cursos de formação, nas nossas férias, no período que ficamos doentes sem poder trabalhar, e por aí vai a conta, que só aumenta. Entender esta planilha de custos que nos afeta é fundamental para respondermos com precisão quanto realmente custa um implante.

Uma vez que conseguimos entender e precificar tudo aquilo que teremos que gastar para fazer uma cirurgia de implantes, chega o maior de nossos vilões: os impostos. Nossos sócios majoritários (governos federal, estadual e municipal) nos abocanham no valor final que cobramos dos clientes. Eles não se importam muito com os nossos gastos, mas sim com o que estamos ganhando. Uma vez emitida a nota fiscal, é só esperar a mordida dos tributos ferozes de um sistema desorganizado e injusto de cobrança de impostos que existe hoje no nosso país.

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Por fim, ainda temos que olhar quanto a concorrência está cobrando e quanto os nossos pacientes estariam dispostos a pagar para chegarmos a um valor adequado, que seja atraente para eles. De nada adianta colocar valores majorados se nossos pacientes não têm o perfil de quem vai conseguir pagar por isso. O valor final de um implante tem a ver com as condições socioeconômicas do bairro, cidade, estado e país onde vivemos. A realidade de Florianópolis não é a mesma de São Paulo, que, por sua vez, é diferente de Salvador, e assim por diante.

O Brasil é um país continental, onde as regiões são bastante diversificadas em vários aspectos. Por isso, para precificar um implante, cada profissional deve conhecer bem a região onde trabalha e as suas características econômicas. Contudo, existe uma certeza que é peculiar em todos os estados da federação: é muito difícil empreender e ter sucesso em negócios autônomos, mesmo que sejam pequenos, como um simples consultório odontológico, quando temos um estado inchado que se fecha na sua máquina estatal, privilegiando poucos em detrimento de muitos.

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O dia 7 de setembro está chegando e vamos comemorar 199 anos de independência do estado português. Mas será mesmo que somos independentes de um estado dominador? Por que a maioria dos jovens prefere um emprego público do que arriscar a abrir um próprio negócio? Por que os jovens dentistas têm cada vez mais medo de abrir o seu próprio consultório? As leis e regras para os pequenos negócios, embora já estejam mudando um pouco, ainda são de um país fechado que não aposta na capacidade de empreendedorismo dos seus habitantes.

Acredito que a semana da pátria seja uma excelente oportunidade para continuarmos apoiando as mudanças econômicas e sociais que estão ocorrendo, e que devem continuar com muito mais intensidade. O grito de “independência ou morte!”, esbravejado por Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga, em 1822, precisa continuar sendo ouvido por aqueles que ainda insistem em nos manter presos em um sistema econômico e social falido e ultrapassado.

“Porque assim diz o Senhor: assim como fiz vir sobre este povo todo este grande mal, assim lhes trarei todo o bem que lhes estou prometendo.” (Jeremias 32:42)

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