Data de publicação: 13/11/2020
A nova classificação das doenças periodontais e peri-implantares, que foi publicada em 2018, elegeu um item bastante interessante como sendo parte do rol de problemas peri-implantares que o clínico enfrenta no seu dia a dia. São as deficiências prévias de tecidos nos locais onde são colocados implantes. Estas deficiências constituem-se em achados clínicos comuns, que dificultam a colocação dos implantes nestas áreas. Elas podem, ainda, gerar complicações na sobrevivência dos implantes em longo prazo, ocasionando um aumento na perda óssea marginal peri-implantar, inflamação dos tecidos moles e recessão da mucosa que envolve o conjunto implante/prótese.
O que ocorre é que os implantes, na maioria das vezes, são colocados em áreas que já não possuem mais dentes naturais. Estas regiões edêntulas podem estar presentes há muitos anos e, geralmente, já foram reparadas por algum tipo de prótese fixa ou removível. A remodelação destas áreas, que ocorre naturalmente após a perda de dentes, acaba provocando algum tipo de deficiência tecidual, seja no osso (deiscências ósseas intra-alveolares, fenestrações e perdas ósseas horizontais e verticais) ou na mucosa, que inclui deficiências de volume e qualidade de tecido queratinizado.
A diminuição das dimensões do processo alveolar, resultando em algumas deficiências dos tecidos duros e moles na região onde serão colocados os implantes, pode ocorrer devido a um grande número de fatores etiológicos. Esses fatores incluem:
– Perda de suporte periodontal;
– Infecções endodônticas;
– Fraturas radiculares longitudinais;
– Tábuas ósseas vestibulares finas;
– Posição dentária vestibularizada ou lingualizada;
– Extração com trauma adicional aos tecidos;
– Lesão e/ou pneumatização do seio maxilar;
– Medicamentos;
– Doenças sistêmicas;
– Redução da quantidade de osso formado naturalmente;
– Agenesia de dentes;
– Pressão de próteses removíveis suportadas por tecidos moles;
– Combinações de vários desses fatores.
Estes fatores irão reduzir a quantidade de osso formado naturalmente após as perdas dentárias, dificultando a colocação dos implantes da maneira convencional e, na maioria das vezes, exigindo enxertos prévios desses tecidos duros e moles que foram perdidos. Quando mais de um fator que leva a estas deficiências de tecidos duros e moles aparecem juntos, a gravidade da condição resultante pode aumentar. Assim, devem ser feitos esforços para se identificar melhor a importância relativa desses fatores etiológicos, desenvolvendo-se estratégias para neutralizar seus efeitos negativos no bem-estar dos pacientes.
Na verdade, o que realmente ocorre é que nós, clínicos, na maioria das vezes, negligenciamos esses fatores na tentativa de colocar os implantes sem avaliarmos corretamente estas deficiências de tecidos duros e moles. Assim, para compensar estes problemas, utilizamos alguns recursos que podem não ser os mais indicados para sobrevivência dos implantes no longo prazo. As próprias empresas fabricantes de implantes e de biomateriais também nos oferecem produtos que visam compensar estas deficiências de tecidos.
Com isso, implantes finos, implantes curtos, implantes inclinados, retalhos diversos, membranas e enxertos ósseos são inadvertidamente utilizados como forma de evitar mais de um procedimento cirúrgico, que seria mais previsível, porém aumentaria o tempo total do tratamento, além dos custos finais para o paciente. Cabe ao clínico ser bastante criterioso na escolha dessas alternativas, a fim de que elas não sejam utilizadas em excesso, comprometendo os seus resultados.
Avaliar corretamente as deficiências dos tecidos duros e moles, que existem nos locais que pretendemos colocar implantes, pode identificar e prevenir problemas futuros, que fatalmente levarão à perda precoce de implantes. Muitas vezes, enxertos de tecidos duros e moles, prévios à colocação dos implantes, irão aumentar o volume ósseo, bem como a quantidade de tecido ceratinizado. Isto fará com que casos com deficiência de tecidos tornem-se favoráveis para a colocação de implantes e próteses da maneira convencional, evitando transtornos futuros para o profissional e para o paciente.
“Assim diz o Senhor que te criou e te formou desde o ventre, e que te ajudará: não temas, ó Jacó, servo meu, e tu, Israel, a quem escolhi. Porque derramarei água sobre o sedento e rios sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes. E brotarão como a erva, como salgueiros junto aos ribeiros das águas.” (Isaias 44:2-4)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia