Como evitar as recidivas da peri-implantite?

Assim como nas doenças periodontais, os tratamentos das alterações peri-implantares (mucosite e peri-implantite) também podem recidivar. Uma vez que temos o biofilme como um dos principais agentes tanto da mucosite como da peri-implantite, a simples recorrência do acúmulo deste agente, pode desencadear o reaparecimento das alterações e manifestações inflamatórias peri-implantares.

Um dos fatores de risco considerados mais fortes para recidiva ou progressão da perimplantite é a profundidade residual de sondagem maior ou igual a 6 mm após a terapia cirúrgica1-3. Esta manutenção de uma bolsa residual ainda profunda, mesmo após o tratamento, parece ser um preditor de perda óssea adicional em pacientes com diagnóstico de peri-implantite. Isto significa dizer que, nos casos onde as bolsas permanecem relativamente profundas, mesmo após a terapia cirúrgica que foi realizada para debelar a peri-implantite, teremos uma chance maior de uma recorrência desta doença, com um aumento da perda óssea progressiva.

Outro aspecto interessante, que pode aumentar a possibilidade de recidiva das lesões peri-implantares após o tratamento cirúrgico, são as características da superfície dos implantes. Este achado pode ser explicado pela dificuldade de se descontaminar as superfícies tratadas de implantes, durante a terapia cirúrgica1,2. Desta forma, tais implantes estariam mais propensos a recolonização bacteriana, pois não foram adequadamente descontaminados, em função das suas características de superfície, que dificultam esta descontaminação.

Dentro deste contexto, quanto mais rugosa e/ou tratada a superfície, mais difícil será descontaminá-la, sendo necessários a utilização de uma série de métodos descontaminantes químicos e mecânicos. De todos estes métodos, a implantoplastia parece ser o mais eficiente na descontaminação mecânica da superfície de implantes que resistem a eliminação completa do biofilme, pois a mesma executa uma remoção total das espiras, com desgaste, o que ratifica a total remoção do biofilme.

Um dos pontos mais interessantes da implantoplastia é que o polimento final da área que teve as suas espiras removidas, com borrachas específicas, entrega uma superfície bem lisa que dificulta o acúmulo do biofilme e favorece a adesão dos tecidos moles, promovendo um selamento biológico. Não é a toa que muitas empresas fabricantes de implantes vem transformando a porção coronária dos seus implantes em uma área de superfície lisa e polida. As figuras 1 a 5 ilustram um caso de tratamento cirúrgico de peri-implantite, com 10 anos de acompanhamento, sem recidivas.  

Está bem estabelecido na literatura que os cuidados de suporte regulares são um fator importante na manutenção da saúde peri-implantar.  As manutenções periódicas (terapia de suporte), assim como ocorre nos dentes naturais, devem ser realizadas após o tratamento da peri-implantite, pois as mesmas reduzem bastante o risco de recidivas. Intervalos trimestrais para estas consultas estão bem documentados na literatura como sendo ideais para manutenção e controle da recorrência destas doenças4. No caso que demonstramos aqui (Figuras 1 a 5), a paciente cumpriu rigorosamente, durante 10 anos, as consultas de manutenção da terapia de suporte.

Como conclusão, pode-se ratificar que, embora as taxas de recidivas das lesões peri-implantares possam ser relativamente altas, existem alguns fatores de risco que devem ser controlados. São eles: a) profundidade residual de bolsa profunda após o tratamento, b) implantes com perdas ósseas severas e c) superfícies de implantes tratadas ou modificadas. Controlando estes fatores obtêm-se uma menor taxa de recidivas, após o tratamento cirúrgico da peri-implantite1

Referências:

1 – Carcuac O, Derks J, Abrahamsson I, Wennström JL, Berglundh T. Risk for recurrence of disease following surgical therapy of periimplantitis-A prospective longitudinal study. Clin Oral Implants Res. 2020 Nov;31(11):1072-1077. doi: 10.1111/clr.13653. Epub 2020 Sep 14

2 – Roccuzzo, M., Pittoni, D., Roccuzzo, A., Charrier, L., & Dalmasso, P. Surgical treatment of peri-implantitis intrabony lesions by means of deproteinized bovine bone mineral with 10% collagen: 7-year-re- sults. Clinical Oral Implants Research, 28(12), 1577–1583. https://doi. org/10.1111/clr.13028 . (2017)

3 – Karlsson, K., Derks, J., Håkansson, J., Wennström, J. L., Petzold, M., & Berglundh, T. (2019). Interventions for peri-implantitis and their effects on further bone loss: A retrospective analysis of a regis- try-based cohort. Journal of Clinical Periodontology, 46(8), 872–879.

4 – Jia‐Hui Fu. Hom‐Lay Wang. Breaking the wave of peri‐implantitis. Periodontology 2000. 2020;84:145–160.

“Não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Porém tenham medo de Deus, que pode destruir no inferno tanto a alma como o corpo.2Por acaso não é verdade que dois passarinhos são vendidos por algumas moedinhas? Porém nenhum deles cai no chão se o Pai de vocês não deixar que isso aconteça.  Quanto a vocês, até os fios dos seus cabelos estão todos contados. Portanto, não tenham medo, pois vocês valem mais do que muitos passarinhos.” (Mateus 10: 28-31)

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