Engenharia tecidual como alternativa aos enxertos ósseos

engenharia tecidual
(Imagem: Envato Elements)
Marco Bianchini traz detalhes de um dos materiais sintéticos de substituição óssea mais promissores dentro da engenharia tecidual.

Sabemos que, após a extração dental, o osso alveolar sofre um processo de atrofia, levando à alterações dimensionais verticais e horizontais, bem como a modificações nos tecidos moles sobrejacentes. Consequentemente, estas mudanças no volume dos tecidos podem levar à reabilitações deficientes, devido à problemas funcionais, fonéticos, estéticos e dificuldade de instalação do implante em uma posição protética ideal. Assim, uma vez que o desenvolvimento financeiro mundial e o envelhecimento demográfico aumentaram a demanda pela terapia com implantes dentários para reposição de elementos dentais perdidos, os enxertos ósseos associados à colocação de implantes têm sido realizados em grandes proporções.

Devido a esta necessidade clínica de aumentos ósseos, os procedimentos de ganho de volume do rebordo ainda representam um grande desafio clínico, pois muitas vezes agregam ao tratamento uma série a mais de procedimentos cirúrgicos. Objetivando diminuir este número de intervenções invasivas, as pesquisas de novos biomateriais e técnicas previsíveis para melhorarem o processo de regeneração óssea têm sido muito importantes. Dentre estas, destacam-se as que estão ligadas a área de engenharia tecidual, para o desenvolvimento de alternativas promissoras aos enxertos ósseos tradicionais.

Um dos materiais sintéticos de substituição óssea mais promissores dentro da engenharia tecidual é o biovidro. Este material apresenta capacidade de formar ligações químicas ao osso e promover a neoformação óssea. O biovidro vem demonstrando ser um excelente biomaterial, devido à sua alta biocompatibilidade e atividade antibacteriana, capacidade de aumentar a adesão e proliferação celular, promover a diferenciação de osteoblastos, estimular a osteogênese e a angiogênese, e apresentar a capacidade de se ligar ao tecido ósseo. Além disto, o biovidro pode atuar como um sistema de liberação de fármacos, incorporando substâncias em sua estrutura nanoporosa.

A incorporação de substâncias na estrutura do biovidro tem se mostrado um caminho sem volta na engenharia tecidual, com resultados extremamente promissores que podem, a curto prazo, mudar o paradigma dos enxertos ósseos associados a colocação de implantes dentários. Muitos autores, como descrito nas referências, vêm analisando as propriedades antibacterianas e antibiofilme dos arcabouços de biovidro, com a incorporação de compostos naturais orgânicos durante a cicatrização óssea. Estes estudos observaram que vários compostos naturais não apresentaram efeitos citotóxicos, e que o biovidro se apresenta como um biomaterial promissor para tratamento de infecções ósseas e para regeneração tecidual.

O uso terapêutico de produtos naturais derivados de plantas vem ganhando interesse em âmbito global para prevenir doenças bucais, visto que um grande número de evidências tem mostrado que polifenóis e outros compostos derivados de plantas podem influenciar a microbiota humana, seja promovendo o crescimento de microrganismos benéficos ou agindo contra patógenos. Além disso, os extratos vegetais oferecem um potencial antimicrobiano e antibiofilme bastante relevante. Desta forma, a incorporação destes compostos naturais em biomateriais como o biovidro, para a liberação de suas propriedades positivas, pode estimular a neoformação óssea em enxertos sintéticos.

Hoje, a Implantodontia está muito mais ligada a regiões com defeitos ósseos críticos (aqueles que não apresentam capacidade de se regenerar espontaneamente), do que a áreas com alta disponibilidade óssea. A presença destes defeitos afeta significantemente a vida dos pacientes e dos profissionais. Desta forma, as terapias regenerativas, associadas a engenharia tecidual ligadas a compostos naturais, são alternativas promissoras para tratar situações com limitações ósseas e parecem estar bem mais próximas das nossas clínicas do que podemos imaginar.

Referências

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GALARRAGA-VINUEZA, M. E. et al. Anti-inflammatory and macrophage polarization effects of Cranberry Proanthocyanidins (PACs) for periodontal and peri- implant disease therapy. Journal of Periodontal Research, v. 55, n. 6, p. 821–829, 2020.

SORDI, M. B. et al. Effect of dexamethasone as osteogenic supplementation in in vitro osteogenic differentiation of stem cells from human exfoliated deciduous teeth. Journal of Materials Science: Materials in Medicine, v. 32, n. 1, p. 1–9, 2021.

“Deixem que cresçam juntos até à colheita. Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro’ “.
Mateus 13:30

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