Data de publicação: 12/02/2021
A série de artigos sobre a nova classificação das doenças periodontais e peri-implantares, publicada em 2018, não apresenta relatos conclusivos de enxertos de tecidos moles usados para a prevenção e o tratamento das doenças peri-implantares. Assim como no caso dos dentes naturais, ainda existe uma controvérsia a respeito deste assunto. Entretanto, é inegável que a presença de uma faixa de mucosa ceratinizada superior a 2 mm (tanto em altura como em espessura) estimula a proteção mecânica, facilitando a autolimpeza e diminuindo o acúmulo de biofilme com consequente melhora da saúde peri-implantar.
Sabe-se que a maioria das técnicas cirúrgicas utilizadas para o tratamento da peri-implantite acaba resultando em uma recessão considerável da mucosa peri-implantar. Além do trauma cirúrgico, a ocorrência desta recessão marginal dos tecidos moles, após a terapia cirúrgica, também pode ser atribuída a uma diminuição na espessura da mucosa horizontal resultante da resolução da inflamação.
Uma vez restabelecida a saúde, assim como nos dentes naturais que receberam tratamento cirúrgico periodontal, há uma diminuição natural do infiltrado inflamatório também nos implantes tratados. O resultado final desta diminuição da inflamação é uma contração tecidual e alterações volumétricas de tecidos moles, que não provocam danos, mas podem resultar em efeitos estéticos desagradáveis, principalmente nos locais onde há uma quantidade de mucosa ceratinizada insuficiente.
Embora estas alterações volumétricas dos tecidos moles não provoquem danos imediatos, elas certamente deixarão as áreas peri-implantares mais suscetíveis ao ataque bacteriano, pois o biofilme tende a se acumular mais facilmente nestas regiões. Além disso, áreas com tecidos moles finos são, muitas vezes, mais difíceis de se higienizar. Desta forma, para conseguir uma melhor estabilidade marginal e evitar contrações teciduais exageradas ou recidivas de doenças peri-implantares, lança-se mão de duas técnicas básicas para aumentar o volume da mucosa ceratinizada peri-implantar no tratamento da peri-implantite: o enxerto de tecido conjuntivo e o enxerto gengival livre.
Tanto a técnica do enxerto de conjuntivo como a do enxerto gengival livre podem ser realizadas concomitantemente à descontaminação do implante acometido por peri-implantite, pois o aumento da quantidade de mucosa ceratinizada peri-implantar não vai tratar a perda óssea nos implantes. A resolução da perda óssea progressiva ocorrerá através de outras técnicas, que priorizam a descontaminação das áreas onde houve destruição óssea peri-implantar e comprometimento das espiras dos implantes. Com isso, o que os enxertos de tecidos moles fazem é evitar a contração tecidual indesejada e defeitos estéticos, e prevenir as recidivas da peri-implantite. As Figuras 1 a 4 ilustram o tratamento de uma peri-implantite com enxerto autógeno de tecido conjuntivo.
Embora os enxertos de tecidos moles possam ser realizados na mesma cirurgia de tratamento da peri-implantite, muitos clínicos preferem realizar estes enxertos antes da colocação dos implantes, como medida preventiva às doenças peri-implantares. Contudo, como existe uma grande resistência por parte dos pacientes em aceitar mais um procedimento cirúrgico antes da colocação dos implantes, na maioria das vezes este enxerto preventivo acaba não sendo realizado, ou é realizado na reabertura dos implantes, o que também permitirá um ganho adicional de tecido mole ceratinizado.
Atualmente, a indústria farmacêutica que trabalha com produtos odontológicos vem desenvolvendo uma série de membranas de colágeno que podem substituir os enxertos autógenos de tecidos moles. Os resultados têm sido bastante promissores e poderão facilitar bastante a vida de profissionais e pacientes, uma vez que não será mais necessário ter uma área doadora para se colher o tecido a ser enxertado. Seja qual for a técnica escolhida por nós, cirurgiões-dentistas, é inegável que os enxertos de tecidos moles merecem uma atenção especial no tratamento da peri-implantite, melhorando os resultados estéticos e funcionais no longo prazo.
“Em Deus tenho posto a minha confiança; não temerei o que me possa fazer o homem.” (Salmos 56:11)
Marco Bianchini
Professor associado II do departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
Contato: bian07@yahoo.com.br | Facebook: bianchiniodontologia | Instagram: @bianchini_odontologia