A estabilidade primária é aquele famoso “travamento inicial” que obtemos quando colocamos um implante. Ela é considerada crucial para o prognóstico e sucesso dos nossos implantes dentários. Sabe-se que esta estabilidade primária depende de diferentes fatores como: estrutura óssea (qualidade e densidade), características do implante (macro e micro) e a relação entre o formato da rosca e o tamanho do orifício de inserção do implante.
Geralmente, duas estratégias principais visam obter osso mineralizado (osseointegração) na interface osso-implante. Uma, bastante conhecida, envolve conseguir uma adaptação íntima entre o implante e o osso, através da subfresagem e um maior torque de inserção. A outra estratégia, cria espaços vazios entre o implante e o osso circundante, levando à formação das chamadas câmaras de cicatrização. Estes espaços vazios ajudam a reduzir o risco de necrose óssea compressiva (excesso de compressão no osso preparado), não necessitando de torques de inserção muito altos.
O conceito das câmaras de cicatrização foi introduzido para mitigar a compressão óssea peri-implantar e o potencial de necrose óssea. Isto pode ser atribuído aos vazios criados entre a macroestrutura do implante e o local do orifício ósseo, que são prontamente preenchidos com um coágulo sanguíneo, após a inserção do implante. Posteriormente, a nova formação óssea ocorre através de um processo intramembranoso. A figura 1 ilustra implantes com e sem câmaras de cicatrização.
Tive o prazer de fazer parte de um estudo publicado esta semana (ver referência), onde as câmaras de cicatrização se mostraram de grande valor na comparação do torque de inserção com o quociente de estabilidade do implante. Neste estudo, implantes com câmaras de cicatrização (Teste) e sem câmaras (Controle) foram inseridos em blocos de poliuretano com densidades de 10, 20, 30 e 40 libras por pé cúbico (PCF). Nos blocos com densidades de 30 e 40 PCF, os implantes Controle apresentaram valores de torque de inserção significativamente maiores que os implantes Teste. Entretanto, não foram encontradas diferenças entre os implantes nos blocos de densidade de 10, 20 e 40 PCF. Da mesma forma, não foram observadas diferenças significativas nos valores do Quociente de Estabilidade do Implante (ISQ) entre os implantes Teste e Controle.
Embora para os clínicos estes valores pareçam confusos, os resultados do presente estudo confirmam que a adição de câmaras de cicatrização à macroestrutura dos implantes dentários, pode reduzir significativamente os valores do torque de inserção sem afetar o quociente de estabilidade do implante. “Trocando em miúdos”, isto significa dizer que nós não precisamos de altos valores de travamento inicial para obtermos uma boa osseointegração, quando usamos implantes com câmaras de cicatrização.
Esta abordagem, utilizando implantes com câmaras de cicatrização, pode resultar num risco reduzido de danos por compressão óssea peri-implantar, juntamente com uma melhoria notável na aceleração do processo de osseointegração, preservando ao mesmo tempo bons níveis de estabilidade do implante. Vale lembrar que, quando temos um osso de boa qualidade, a maioria dos desenhos de implantes funciona muito bem. Porém, quando temos uma qualidade óssea não tão corticalizada, que dificulta a estabilidade primária, implantes com câmaras de cicatrização podem ser a única alternativa para obtermos a osseointegração.
Referência:
Bruno Freitas Mello, Marcio De Carvalho Formiga, Marco Aurélio Bianchini, Ivan Borges Jr, Gustavo Coura, Margherita Tumedei, Renato Fuller, Morena Petrini, Tea Romasco, Paula Vaz, Adriano Piattelli and Natalia Di Pietro. Insertion Torque (IT) and Implant Stability Quotient (ISQ) Assessment in Dental Implants with and without Healing Chambers: A Polyurethane In Vitro Study. Appl. Sci. 2023, 13, 10215. https://doi.org/10.3390/app131810215
“Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que merece grande recompensa. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, E o que há de vir virá, e não tardará. Mas o justo viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele.” Hebreus 10:35-38
Marco Bianchini
Professor titular das disciplinas de Periodontia e Implantodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); autor dos livros “O Passo a Passo Cirúrgico na Implantodontia” e “Diagnóstico e Tratamento das Alterações Peri-Implantares”.
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